29 dezembro 2011

Casa sem tapetes

Estive eu hoje andando pela casa que ambos construímos com tanto esforço. Paredes ainda brancas sem muito acabamento, tão frescas que imploram por decoração. Piso barato porém de bom gosto - o que deu para comprar com o nosso dinheiro. Você nessa vidinha de fotografar pessoas e eu ganhando com o que escrevo. Será que seremos um ao outro o suficiente?
Não deveria pensar sobre isso. Recém compramos uma cama de casal que, se comparada àquela velharia que você guardava no seu antigo quarto, meu bem ela é demais. Até quando eu deito depressa parece que levito alguns centímetros. E um colchão de boa qualidade como este não poderia ficar despido. Cobri o nosso leito com lençóis e almofadas que minha mãe não quis mais. Um conjunto horroroso, porém agora nosso. Vamos aprender a achá-lo o mais bonito de todos?
Na cozinha já existe um pouco de tudo, pois para ti este ambiente agrada muito. Economizei metade de um mês para que pudesse comprar tudo que você gosta, e isso é quase o supermercado inteiro. Preenchi aqueles armários de madeira pura com o que te faria feliz. No teto ainda falta luz, mas acho que você por si só iluminaria por um bom tempo esse nosso canto. Então, por favor, você pode continuar sorrindo?
Mas o que eu tenho é medo. Receio de, daqui para frente, continuar finalizando cada parágrafo com interrogações. Penso que agora que conseguimos o que tanto queríamos - um lar para dois, longe de quaisquer olhares julgadores -, nada nos seja bom o bastante. Você tem a mim e eu tenho a ti, mas agora me assusta a ideia de que era mais legal quando eu passava dias correndo atrás de você e do teu amor tão difícil de capturar. Havia graça naquilo tudo, e o difícil para mim soava como uma palavra atraente. Essa nossa casa sem tapetes me mostra que talvez ainda haja tempo para esgotarmos estes sonhos juvenis que não permanecerão agora que pretendemos tornarmo-nos adultos.
Há bastante de mim nisso tudo. Quer dizer, fui eu quem agilizou para erguer estas paredes que nos abrigariam. Pressa minha em não lhe perder. Há pouco de ti porque nunca foi de teu feitio corresponder às coisas naturais da vida. Caminhando por dentre latas de tinta e escadas que ameaçam cair sobre mim, eu consigo ver. A nossa casa tem muito e tem pouco. Tem eu, quase não tem você. Tratei de rapidamente ordenar para que instalassem a porta de entrada a fim de que logo você chegasse. Então, para não fugir da regra, aqui vai mais uma pergunta: você quer, desde já, por ela sair?
Eu não comprei os nossos tapetes ainda.
Estou evitando uma compra desnecessária.

26 dezembro 2011

Eu ainda penso ser você

Quando meu celular treme, eu ainda penso ser você. Mas que clichê desperdiçar tempo a me perguntar se sentes minha falta! Agora já é tarde, nós dois sabemos, e saudade talvez não seja uma palavra que você ligue a mim ultimamente. Durante o nosso tempo eu quis saber se havia um lugar para mim aí contigo. Nesse teu peito duro e imbecil que custou a me aceitar. Porém hoje eu sinto não ter mais direito de querer saber como vai você, pois fui eu quem lhe disse adeus. Gritei aquele 'vai embora' com toda a força que ainda havia restado, e você deve saber que era pouca, tão pouca. No fim do que vivemos, pouco de mim ainda existia. E foi justamente por isso que te quis longe. Tudo em busca de uma tentativa frustrada de livrar a dor que já visitava todos os dias a minha casa escancarada chamada coração. E hoje, com e sem você, sinto dizer que me dói mais ainda.
Eu quero saber a todo momento onde você está, o que faz a cada minuto e se aquele ser engraçado passou mais uma vez na frente da porta do seu trabalho. Queria ligar no meio da noite, perguntar que filme você está assistindo e mais uma vez tentar descobrir quando tu conseguirá realizar um pequeno esforço para vir me ver. São todos os dias em que meu primeiro pensamento é teu nome, e também quem o vem chamando agora. Sei que você não encontrou alguém para me substituir, pois meu amor jamais faria isso. Mas tenho medo de pensar que dessa vez te perdi para sempre, e que aquele nosso encontro não irá se repetir. Penso a todo tempo, cogito, minto, choro. Escrevo essas mensagens que logo em seguida apago para não enviar. Então me diz: isso é esquecer você?
Talvez se eu soubesse esperar, eu ainda teria você comigo. Nada seria tão difícil, e tantas brigas teríamos evitado. Eu deveria ter apenas ficado quieto, mas é inútil querer isso de quem tem muito a falar. E quer saber? Mesmo após o aquele adeus, eu soube que você nunca iria embora de mim. És para sempre marca em meu peito, e disso estou certo. Há tanto que eu deveria ter feito mas não fiz. É tarde para pensar, querer voltar atrás. Não dá, impossível. Mas deveria ter esperado pelo tempo em que você me amaria de volta. Na hora certa. Porém eu quis amor, e quis logo. Agora que você se foi eu apenas tento sobreviver de memórias, mas elas mais me matam do que me mantém vivo.
Passado algum tempo, sei que não quero beijar outros lábios se o teu gosto não estiver lá presente. Esse gesto já não fará sentido, e de olhos fechados não poderei fingir ser você quem estarei beijando. Aquele sabor eu quero de volta, preciso sentir novamente o misto de álcool e remédio sabor abacaxi que existia na tua boca quando ela era minha. A minha língua quer uma dança novamente, e todo o resto quer outra vez encaixar em ti. Faz tempo que tento afastar a ideia de que aquele foi o nosso último beijo, ambos escondidos no quintal de tua casa. O mundo nunca precisou saber do nosso amor. Desculpe-me então por expo-lo aqui. Faço porque preciso deixar claro que eu te quero de volta, sempre vou querer. Por favor, chegou a vez de você vir até aqui e me render como fez naquela noite. Faz-me prisioneiro de tua querência singular, de tua paixão tão efêmera quanto tua carência. Vem aqui selar meus lábios, deitar-me na cama e evitar que eu comece a fazer-te perguntas. Preenche meu ser com tudo que tu guarda aí dentro, pois assim não questionarei se lhe verei novamente quando você ainda estiver comigo. Erro meu querer-te a todo tempo, erro teu ser tão tudo que eu preciso.
E quando meu celular treme, eu ainda penso ser você...

25 dezembro 2011

Oi, eu ainda estou aqui

Meu bem não vá pensar que o privilégio é todo teu. Eu já passei por isso, já sofri com a mesma intensidade. E, quer saber? Encarei muito bem - ou, pelo menos, o suficiente para ter sobrevivido. Então dessa vez por favor não abra esse sorriso tão traiçoeiro que eu ainda sonho de vez em quando, pensando que você ganhou a nossa brincadeira de relação mal compreendida e quiçá inexistente. Estou escrevendo agora unicamente para que saibas que continuo bem, talvez um pouco melhor do que quando eu ainda lhe tinha. Porque agora pelo menos eu não preciso lidar com as erosões diárias que teu desamor causava em mim. É tempo de passar uma faixa apertada em tudo que foi destruído mesmo que não intencionalmente por ti e aguardar uma cura temporal. Está tudo bem, eu lhe prometo. Meus pais ainda perguntam de ti, querendo saber quando virás conhecê-los. Receio antes de falar, procurando uma resposta que não seja 'nunca'. Os nossos amigos ainda são os mesmos, e seguidamente eles querem saber o que aconteceu entre nós dois. Para eles, procuro responder a partir do ponto existente entre o 'nada' e o 'tudo', sendo que esta é uma tarefa difícil, pois eu jamais soube definir quando se tratava de nós dois. O pedaço materializado de ti, a única coisa que me restou, ainda está guardado em uma caixa que custo muito a abrir. Aquele pedaço de pouca coisa não tem o teu cheiro, então olhar por olhar apenas me trará de volta as lembranças de quarenta dias atrás, e sinto que não estou preparado para isso. Ainda não. Eu continuo a escutar as nossas músicas, e sabe que eu nem mesmo choro? Rio do jeito com que elas me atingiam há tempos atrás, sendo que agora são apenas letras que procuro nem traduzir. Você se tornou um pedaço de mim com tudo aquilo que passamos. Para muitos ainda seria pouco, mas sei que um terço de mim é composto por você. Estou tentando acomodar isso, estou tentando acomodar você aqui dentro. Não quero mais ouvir tua voz me chamando, o telefone tocando e as mensagens que chegam exatamente quando estou procurando um outro olhar misterioso para afundar a minha carência. Como lhe disse em nossa despedida, será melhor assim. Não para mim, não para você. Para todos. Cheguei a mentir para alguém que você foi o maior erro que aconteceu em meu ano, mas fiz isso por pura infantilidade. Você foi o combustível por muito tempo, e eu viciei-me porque era o que me movia. No fim eu precisei de uma nova substância que você somente não conseguiu oferecer, e aí então entramos em combustão. Eu e você explodimos em uma véspera de Natal, tendo sido lançados um para cada lado. E eu que sempre tentei lutar com essa ideia de distância que esteve presente desde o começo. Agora estamos mais afastados ainda, porém martelo na ideia de pensar em ti. O fato de ser o primeiro Natal com e sem você já foi o suficiente para que eu assimilasse que aquele velho gordo não traz tudo que pedimos. Neste ano, ele não me trouxe você. Não para perto, não do jeito certo, não como eu quis. Mas agora já é tarde, infelizmente. Estou gritando para mim mesmo de que não existimos mais, porém vai dizer isso para o meu coração. É difícil deixar alguém ir embora, ainda mais quando se trata de você. A melhor pessoa do mundo com apenas um defeito: não saber amar. E eu, meu bem, que sobrevivo de amor... Como faço eu, se não tenho o que preciso?
A resposta é tão simples, porém em contrapartida difícil: tenho que tentar sobreviver sem você.

III

Era uma vez três adoráveis pinos, partes de um novo jogo de tabuleiro. Em muito eles se diferenciavam, vou falar-lhes do primeiro. Dose mortal de loucura detinha, olhos grandes e boca deveras carnuda. Seguia gritando que jamais amaria, porém quando o fez acabou muda. A segunda veio um pouco depois, mas todos sabiam que ela sempre esteve ali. Baixa estatura, explodiu seu segredo de ímpeto. Cabelos negros como a noite em que a conheci. O terceiro jogador foi um pouco mais além. Avançou bastante casas, porém retrocedeu algumas. Nunca guardou as suas jogadas, espalhou-as pelo tabuleiro. Mal sabia ele que o jogo sempre muda. E o dono disso tudo, como posso eu falar? Jogador maior, tinha poder para qualquer coisa alterar. Mas ele pareceu-me confuso, nunca soube o que queria. No fundo desejava que suas amantes continuassem sendo apenas duas amigas. E o terceiro jogador... Bem, quanto a ele não soube o que fazer. Ajudá-lo a cruzar a linha de chegada não poderia, pois tinha medo de crer. Que alguém enfim havia conquistado a sua batalha sem muito pensar. Estava ele, o terceiro jogador, perto de um jogo inteiro conquistar. Então o que poderia este mestre dono de tudo decidir? Por medo acabou com tudo, fechou o tabuleiro, descartou os pinos, deixando-os partir.

23 dezembro 2011

Definindo: amor

E aí eu encontrei o amor. Não disse oi, não analisei profundamente. Procurei não olhar direto, como se fosse um assaltante sem máscara qe me ordenasse para fechar os olhos na tentativa de não ser reconhecido. Eu apenas senti aquilo. Tudo aquilo. O suficiente para eu me atrever a descrever. Então vamos lá: Amar é, primeiramente, o tudo. É preocupar-se em não encontra-lá quando chegar ao destino final; é se questionar se você deu aquele abraço com a intensidade que deveria e se o mesmo se encaixou; é rir mentalmente quando a segunda coisa que ela faz após sorrir é correr para comprar um pão de queijo; é fingir que escuta o passo a passo das explicações de como voltar para casa sozinho no dia seguinte, pois tu estás com a cabeça e todo o resto ocupados demais para absorver tudo; é sentir-se apreensivo por não saber como usar um cartão de trem e ter vergonha de dizer isso, porém não precisar pois ela esteve lá para te ajudar sem tu nem mesmo pedir; é sentir-se um idiota na maioria do tempo por querer encontrar algo para dizer para ela e aos seus amigos, porém não encontrar nada e somente continuar mudo - você, quase o rei das palavras, não conseguir encontrá-las?; é observá-la com o canto do olhar amassando uma latinha de Guaraná e lembrar-se de que foi essa a marca de refrigerante mencionada quando vocês se conheceram; é caminhar pelas ruas de uma cidade fantasma e sentir-se agradecido por tê-la por perto; é odiar todas as vezes em que ela se distancia e você não pode apenas esticar os braços para trazê-la de volta e fazê-la caminhar ao teu lado; é ouvi-la contar um pouco sobre cada flor e lembrar de quando você passava tardes imaginando ela trabalhar em uma floricultura; é encontrar a família da tua amiga e passar quinze minutos fazendo carinho nos dois cachorros iguais dela sendo que você tem medo deste tipo de animal, mas ela está ali, então medo é algo que você passou a excluir do seu dicionário; é vê-la chupar um pirulito que estoura na boca e imediatamente imaginar que tem faíscas dentro dela; é caminhar pelas ruas e ainda não prestar atenção em muitas coisas, pois ela ainda está ali e você só quer prestr atenção nela; é sentir-se um babaca por só prestar atenção nela e ela reparar; é enxergar um céu nunca antes visto e achar aquilo mais lindo do que o normal; é ouvir ela falar que mora em uma vila militar e você nem fazer ideia do que é isso; é chegar em uma vila militar e entender; é chegar na casa dela e ver os retratos de família e passar a imaginar se você combinaria com eles caso fosse o par dela e entrasse para a família; é entrar no quarto dela, o qual você já havia desenhado mentalmente antes; é se dar conta de que você desenha mentalmente muito mal; é passar a reparar em todas as coisas que ela tem para saber que presente dar um dia; é ler a palavra 'amor' estampada ao lado da cama dela e querer escrever sobre isso na mesma hora, abusando de analogias; é passar horas com ela ao seu lado mas insistir em mandar mensagens pelo celular; é assistir com ela o programa de calouros favorito pelo computador, o qual ela perdeu para te encontrar; é provar a comida cheia de pimenta que ela fez e realmente gostar; é divir com ela a comida por você não aguentar tanto; é ficar com vergonha de jogar Twister com todos os seus amigos porque você escolheu o menor shorts do seu armário para usar; é sentir-se um idiota - outra vez; é querer conversar com ela a sós mas não ter coragem; é olhar para o lado de vez em quando e reparar que ela está te olhando; é ficar tímido ainda mais por conta disso; é saber, com absoluta certeza, que ela tem o sorriso mais bobo, doce, brilhante e lindo de todos; é querer roubar esse sorriso; é virar a cabeça quando ela troca de roupa bem na tua frente; é forçá-la a tomar um remédio que ela não gostou, mas que precisava; é ela deixar a casa e tocar a campainha; é você atender e não ver ninguém; é querer sair porta afora para encontrá-la e não ter coragem; é voltar para dentro e você mesmo assustá-la; é querer puxá-la para um beijo; é sair pela rua de madrugada com muito frio e não poder pedir um abraço; é fazer uma luta de dedos na madrugada; é deitar debaixo da lua e perceber que ela está com mais frio que você; é hesitar, porém tentar; é cobrir os pés dela com a sua blusa para esquentá-los; é lentamente encostar a sua mão na perna dela e acariciá-la; é parar com medo de estar fazendo algo errado; é sentir ela te cutucar pedindo por mais; é voltar a fazer; é caminhar pela rua e ser empurrado de brincadeira; é empurrá-la de volta; é querer que todos desapareçam para que só haja vocês dois; é ver ela arrumar a sua cama; é descobrir que a cama é dura demais e que você quer dormir com ela; é finalmente ver todos irem embora; é ver as luzes se apagarem; é perceber que o rosto dela está perto do seu; é beijá-la pela primeira vez; é beijá-la pela segunda vez e todas as outras; é falar sobre a lei do país; é ser convidado para a cama dela; é quebrar a cama dela e os dois caírem no chão; é pedir explicações sobre tudo; é fazer perguntas na hora errada; é sentir-se feliz por estar ali; é pensar estar sonhando; é fechar os olhos e sentir a respiração dela em você; é sentir o coração dela bater; é ir um pouco mais além; é odiá-la por uma frase; é querer fugir por um minuto; é ser dramático como sempre mas dessa vez ter um motivo; é correr para o banheiro e não chorar porque você nem quando quer consegue; é ouvir ela batendo na porta; é abrir e ser tomado por ela; é ser prensado contra os quadros da parede e não se importar porque a boca dela está na tua; é voltar para o quarto e a sentir; é ordenar; é acatar; é permitir; é querer mais quando ainda nem acabou; é querer dormir mas saber que será uma contradição pois o sonho está bem do teu lado; é se beijar ouvindo a música de vocês; é dormir no abraço dela; é acordar e ouvir ela falar dormindo; é ir para a cama de baixo pois tudo acabou; é sentir frio pois você está longe dela, e nesse caso 'longe' quer dizer uns 114 centímetros; é querer que ela acorde; é receber um beijo de bom dia e perceber que tudo pode não ter sido apenas impulso e que ela ainda sente algo na manhã seguinte; é comer massa como primeira refeição do dia; é dividir a comida com ela outra vez; é perceber que um táxi chega mais rápido do que tu imagina; é se despedir e querer dizer 'eu te amo', porém lembrar-se de que tu prometeu que não iria ser chato querendo o 'depois', o 'futuro'; é lembrar que você mentiu pois certamente quer tudo isso; é saber que você queria sim namorá-la; é olhar para trás antes de partir; é chorar mais do que tu chorou na tua vida inteira apenas durante o caminho de volta; é chorar mais um pouco; é comer o miojo que tu não gosta somente porque ela gosta; é comprar o presente de aniversário dela; é olhar para um pedaço de pano amarelo e querer tudo de volta; é ter ela como plano de fundo do celular; é não ter dinheiro para mandar mensagem; é querer fazê-la acreditar que poderia existir vocês dois; é não saber quando a terá novamente; é falar no telefone, sendo que você nunca faz isso, mas é ela, e então não há problema em atender; e amar é, por fim, saber que tu é um péssimo jogador que mentiu dizendo que saberia tê-la por uma noite, quando a quer para a vida inteira.

20 dezembro 2011

Clone teu

Foi uma luta tirar você de mim. Tive de procurar novos rostos, amarrar meu coração com corda resistente ao fogo e até cheguei a cambalear na ideia de visitar uma senhora estranha no fim da minha rua que, além de trazer a pessoa amada, leva-a embora em uma única sessão de sessenta reais. Como se fosse simples assim.
Até a metade do dia de hoje eu não havia relembrado aquele nosso encontro mal organizado, a nossa caminhada pela cidade vazia em um fim de tarde de céu atípico, os empurrões gentis no meio da rua por volta das três e nem de longe a lembrança da tua cama quebrando com nós dois em cima havia me visitado. Porém, no sol do meio dia de hoje, tudo voltou. E isso sem que eu quisesse, afirmo sem titubear. Apenas encontrava-me sozinho na multidão quando dei de cara com você. Coração entrou em festa ao mesmo tempo que não permitiu o ar para que eu pudesse respirar. Fixei-me em ti, reparei naqueles trajes sociais. Aonde vai você deste jeito a essa hora?
Após a tentativa de morte causada pelo encontro inesperado, percebi que teus olhos não eram teus. A curva da tua boca não era a mesma, o jeito que respirava não me atingia com aquela suave exasperação de sempre. Apesar de tua figura ter-me engravatado os sentimentos em um único e rápido momento, logo percebi que não se tratava se você. Uma alma igualitária em aparência, com cabelos tão ralos quanto os teus. Rosto magro e bochechas levemente coradas de um vermelho tão rubro quanto meu coração. Teu clone, enfiado dentro daquelas roupas nada casuais, fez-me despertar aquelas memórias de um dia só - o único tempo que eu tive você de verdade. Foi como um baque, foi como se tivessem me jogado no canto das minhas próprias lembranças. Então estava tudo lá de volta. Dois idiotas em uma noite sem lua, brincando por debaixo de cobertas para que ninguém reparasse. Eu quis tudo de volta, o estrago estava feito.
Quando afastei-me um pouco daquele indivíduo visivelmente assustado pela análise completa de um desconhecido, voltei para o meu canto. Continuei a observar aqueles trejeitos que lembravam você. O prato cheio, os risos por dentre os dentes perfeitamente alinhados. E eu ali, com um prato cheio também, porém de memórias que eu já havia ordenado à mente que guardasse na última sessão de recordações amorosas do meu arquivo pessoal. Mas teu clone revirou isso, pôs na ponta da língua a vontade de voltar a declarar todos os 'eu te amo' que com muito esforço já haviam ficado para trás.
Na hora seguinte eu chorei. Só não mais do que a vez em que tive de deixar o teu abraço, o teu cheiro - pois essa vez sempre vai vencer. Acumulei duas nuvens pretas prontas para chover com todas aquelas lágrimas que não são características minhas. Relembrei tudo que não podia, mantive na memória aquela figura tão parecida que deve até agora se perguntar quem era aquele garoto estranho que gritava com os olhos que a queria abraçar. Hoje descobri que clone teu me despedaça, clone teu por mim passa e aos poucos disfarça, com a boca calada, finge que para, mas, como tu, meu querer amordaça.

19 dezembro 2011

Depois das cinco

Não faz assim, não agora. Não repousa teu olhar nos meus olhos de traição, pois eles ainda titubeiam na ideia de serem um local seguro para você. Cruza essa rua, vem me abraçar. Está dez graus para todo mundo, mas meu corpo sente como se estivesse negativado a uns menos trinta e cinco. Tremo de frio sem você por perto, então corre para mim?
Porém, ao mesmo tempo, sinto medo do que possa acontecer. Você sabe, dois graduandos nessa faculdade que nos ensina como amar, mas antes mesmo de completá-la já sabemos que seremos insuficientes. Não sabemos lidar com querência mútua e atingir o ponto certo, e talvez isso tudo por medo de errar ao tentar. É o mesmo temor que sinto ao caminhar até ti e sentar ao teu lado, agarrar teu braço no meu. Por que parece ser tão certo fazer a coisa errada? Bem, talvez apenas não seja.
Mas então lhe proponho um acordo: vamos nos gostar de um jeito só nosso. Permitirmo-nos aquilo que for necessário, esquecer dos dois postes sem luz nenhuma que nos vigiam entre risadas sem sentido algum. Já aviso que vou deitar a minha cabeça em teu ombro, então por favor não se assuste. E, também, procure não pensar a respeito, pois será isso o que farei a partir de agora. Não tome estas palavras como códigos a serem traduzidos, pois nem eu mesmo as entendo direito. Digo que apenas deixarei com que este sentimento ainda indecifrado me invada, alastrando-se por minhas veias que pulsam agora de calor, justamente por ter criado coragem para preencher este espaço vago ao seu lado. Onde você esteve esse tempo todo?
Então esperemos, meu amor. Olhe para o horizonte quando o sol tímido já nasce, pintando de verde o céu, e imagine onde estão as nossas asas, capazes de nos tirar deste fim de mundo. Sei que cara é essa, já te conheço por inteiro. Estás de mal comigo, não fui o que esperavas. Mas, entenda, não sei amar tão bem assim. Apesar de fazê-lo com frequência mais que necessária, aposto naquelas cartas sem valor algum. Não, cartas não, porque amor não é um jogo. Inútil seria voltar aos passados amorosos que comparavam apaixonados com peças de tabuleiro. Eu e você, porém, somos diferentes. Receamos o bastante para nos proibirmos de errar, sendo que certamente até um erro junto a ti seria válido.
Esperemos mais um pouco, corpo quente. Tenho a ti, tu tens a mim. Quem precisa de asas agora?

18 dezembro 2011

Perdoe-me

Voltei algumas folhas de meus cadernos satisfatoriamente preenchidos e você estava lá. Palavras de amor em demasia, uma repetição enjoativa. Tudo se tratava sobre nós dois - ou quem sabe apenas sobre mim. Reli o que deveria ter deixado para trás, pois mexer assim em algo tão recente foi quase uma tentativa mal sucedida de suicídio. Lembrei, a partir do que havia traduzido em palavras, dos dias em que ainda figurava um sorriso pueril em meu rosto, unicamente por você ter aparecido como bala de festim em minha vida. Momentos intensamente passageiros, que acabaram por dar chance à dominação involuntária de minha tristeza.
Nossos amigos estavam lá, presenciando aqueles diversos quilos de amor que carreguei comigo quando te conheci. Levei-os nas costas, sustentando-os como se fossem leves como pluma. Mas aquele sentimento era forte, pesava muito, custou-me lesões profundas que somente agora posso compreender. Porém, a decisão de perambular por aí com mais amor do que o necessário foi minha. Tu nunca, nunca mesmo, pediu por aquilo. E eu, afogando-me em meus sonhos de eterno infantilóide, estava pronto para entregar-te tudo. Os meus sentimentos, meu corpo, a mim por inteiro. É uma pena que eu não soubesse que você não me queria.
Tendo em mãos estes cadernos que confidenciaram a minha paixão eufórica de dois meses, rio agora de tanta fuga da realidade. Sessenta dias em que vivi cego, em que não fiz julgamentos sobre o certo e errado, o existente e o imaginário. Não diria que um retorno passado seria eficaz, pois eu certamente cometeria os mesmos pecados. Iria aos mesmos lugares que fui só para te conhecer, mesmo não sabendo que apenas agora eu entenderia que nunca pertenci ao lugar que eu chamaria de 'teu lado'. E, bem, não é só isso. Hoje, exatamente neste fim de dezembro, percebo com louvor que eu jamais me encaixei em tudo que quis um dia fazer parte. É apenas impossível acrescentar alguma coisa ao que já está bem estruturado. Sendo assim, teus amigos não saberiam me acolher, tua irmã continuaria a me olhar com estranheza e eu e você seríamos o mais lindo desastre existente. Por quanto tempo?
Então perdoe-me, quase amante, por amar-te em demasia. Sem notar que nunca houve reciprocidade, sem utilizar a visão privilegiada que somente estes olhos sóbrios de hoje podem enxergar que nada daria certo. Ouvi histórias de que você já olha para outros sorrisos quando cruza avenidas, e que semana passada você tirou o sono de outro alguém. Fico feliz por saber que estás em outra, que já não lembra de mim. Pois eu ainda estarei aqui durante algum tempo, rindo da minha própria cara por ter gostado de alguém que me deixou sozinho, para trás, e que nunca pensou em voltar. Somente agora que já exorcizei você de mim, que já fiz as malas contendo o nada - a principal característica nossa -, posso pedir um perdão sussurrado no breu de nossa inexistência por um dia ter pensado que tu, daqui para frente vaga lembrança, serias o meu futuro.

15 dezembro 2011

Ophidia

Perto das cinco as luzes se apagam quando já falta pouco para o sol brotar detrás das árvores. Em um quarto aquietado, espero em apreensão o momento do ataque. Há um leito nada confortável que me sustenta, e estou virado para cima como se olhasse para o céu, caso não existisse um teto me impedindo de fazê-lo. Ouço introspectivo o som de tua presença perto de mim. Aprisiono os dedos em meu punho cerrado e pela primeira vez fecho os olhos, pois o medo já é grande. E agora sim, escuridão total. Meu único sentido permite-me saber que aos poucos tu se aproxima, movendo-se em lentidão propositalmente, rastejando até mim. Abro os olhos quando já é calmaria passageira, e enfim encontro você. Serpente branca em posição de ataque, olhos tão direcionados ao seu objetivo que mal posso tomá-los como verdadeiros. Duas gotas de suor nascem de minha testa, deslizando pela curvatura do nariz. Por fim as mesmas tocam os meus lábios, e aquele torna-se o chamariz para que tu dê o bote.
Antes que eu pudesse reclamar da dor causada por ti em mim, mal percebo que já fostes embora. Na verdade, serpente, desfez-se por inteiro o teu corpo esguio e tornara-se pó. Sujou minhas mãos com poeira branca, um punhado dela. Não entendo, não entendo. O que é isto? Aproximo a minha palma albina e cheiro. Cocaína, certamente. Reprovo de imediato, balanço as mãos no ar, ponho a mim mesmo em pé e sacudo meu corpo. Corro até o banheiro mais próximo, tranco a porta. Água no rosto, preciso de água. Retiro de mim aquilo que deixastes, pois agora mesmo sinto nojo de ti. Bebo um pouco, porém quando percebo estou sorvendo chocolate líquido que sai pela torneira velha. É doce, enjoativo. Não quero mais repetição. Já não dá mais para engolir isso. Afasto-me, ouço as batidas na porta. Vá embora, deixe-me sozinho. Não quero mais você em mim, levem-me de volta para onde eu nunca deveria ter saído. Abro a porta, não tendo para onde fugir, perdido como estou. E a serpente, bem, ela voltou. Desta vez, partida ao meio. Pesadelo ou metáfora, você se foi. Pluft.

Depois de você

Então é isso, meu amor. Estou desistindo. Você conseguiu, evitou-me até agora para que eu deixasse de gostar de ti - pois isto obviamente era um fardo muito grande com o qual tu tinhas de lidar. Parabéns para você, objetivo alcançado. Não há mais amor gritando por teu nome, nem pensamentos dedicados a nós dois. Tudo foi embora, assim como eu fui da tua casa naquela manhã de domingo.
Agora já não existem mais motivos para que eu feche os olhos ao passar no corredor de chocolates do supermercado. Eu vou engordar, vou sim, não há mais preocupação em ficar bonito. Assim como não irei escrever nossos nomes no vapor da água quente molhando o vidro do box do meu banheiro, pois já não terá a mesma graça. Vou jogar qualquer jogo com meus primos mais novos e lembrar o real sentido de jogar alguma coisa - pois até então você só vinha brincando comigo, com o meu amor.
E eu dizia a mim mesmo para que esperasse por esse dia. Ele chegaria, e junto viria aquela sensação de dever cumprido, por ter mais uma vez dado amor a quem não soube conjugá-lo. Talvez seja esta uma de minhas principais funções - mostrar que o amor existe, escancará-lo, deixá-lo a mostra, distribuí-lo facilmente - e os principais aprendizes o tomarão para si. Porém, por enquanto, parece que ninguém soube fazer a lição direito. Quis, por tempos, que tu me desse uma aula a respeito do teu amor, mostrasse como tu ama, mas hoje vejo que bom mestre tu não daria.
O que posso dizer é que continuarei a sorrir, cantando baixinho enquanto caminho pelas ruas nestes dias de verão que cobrem meu corpo como você jamais cobriu. Quem cruzar comigo perceberá a diferença, aquela mesma que se resume a mim antes e depois de você. Certamente não saberão identificar o que haverá de novo, pois somente eu sei o que acontece.
E o que mudou, meu bem, é que agora não sou mais refém teu.

14 dezembro 2011

Memória líquida, amadeirada

É engraçado pensar no quanto eu te amei. E, ao mesmo tempo, é ridículo lembrar como você não pode retribuir. Era escuro naquele inverno rigoroso e você me tinha nas mãos - como criança com brinquedo pronto para quebrar. E você brincou comigo, divertiu-se por uma noite. Tudo conforme previsto, porém naquela hora não imaginado por mim. Deixou-me de lado assim que enjoastes da novidade que por volta das quatro da manhã já se tratava de passado.
Nos dias que se seguiram, eu pensei em como te ter novamente. Planejei algumas coisas que certamente não funcionariam, e idealizei em minha mente transtornada que um dia eu poderia ser teu. Na verdade, eu acreditei em você quando disse que nos veríamos em breve. E, bem, isso acabou acontecendo enfim. Não quando eu quis, não quando planejamos. É piada recordar em que situação eu voltei a te ver. Tudo tinha mudado tanto.
E, neste último encontro, não senti teu perfume. Não deu tempo, ou talvez eu apenas não quis prová-lo outra vez. Um estranho abraço rápido também não ajudou. Acho que não me importava mais, enfim, com o aroma amadeirado que teu cheiro tem. Porém, alguns meses antes, quando o amor por ti ainda era a maior coisa do mundo, eu era dono deste cheiro. Recordava-o todos os dias depois que fostes embora, passava nas boutiques sempre que podia para pegar uma pequena prova tua. Ah, sim, eu descobri o nome do teu perfume. Procurei saber onde vendiam, fui atrás do que não deveria. Corri para uma miragem tua. Passei algum tempo me proibindo de lembrar, porém me traía cada vez que borrifava um pouco de você em mim. E ai então o estrago já estava feito: por um dia inteiro eu te tinha novamente. Logo ali, no meu pulso. Era a minha vez de te ter em minhas mãos.
Mas eu não soube, nunca parei para pensar. O teu perfume nunca foi meu, sempre foi do mundo inteiro. Cem milímetros de fragrância substanciosa que podiam ser comprados por qualquer um. E eu gastei meu dinheiro sem lembrar que você já havia indo embora há muito, e não era aquele cheiro que ia te trazer de volta. 'Para presente?' - perguntou a vendedora. 'Obviamente' - respondi. Um presente de mim para mim mesmo. Havia um sorriso ajeitado em meu rosto na hora da compra, e a embalagem sofisticada fez pensar que uma passagem só de ida ao teu encontro vinha junto. Engano meu. Era só memória líquida, só passado perfumado parcelado em três vezes no cartão. Noventa dias para eu continuar lembrando de ti, mesmo que já tivesse esquecido.
Hoje, voltando a borrifar aquele cheiro enraízado que sempre irá me fazer lembrar de ti, sei que, apesar de tudo, valeu a pena ter comprado a única memória que irá restar por algum tempo aqui comigo. Saio nas ruas lhe usando, mas ninguém elogia o meu cheiro. E eu também não gosto do que uso. Mas se trata de ti, a única pessoa que até então conseguiu me vencer, a qual agora carrego em silêncio no pescoço. É o meu prêmio de consideração para com a tua jogada de mestre. E, de vez em quando, aquela mesma estação de temperaturas negativas que nos aproximou volta a me amedrontar, mas eu até que comemoro. De pescoço coberto não sinto tão intensamente você em mim, e os dias frios assim me servem para recordar-te. Pois o inverno, meu bem, ele sempre foi mais quente, presente e satisfatório que você.

13 dezembro 2011

Vagão para dois

Fecham-se as portas, ainda posso ver o teu sorriso. Há algo de novo e estranho vagando em um vagão para dois. Distraio a mim mesmo, olho para o lado de fora. É uma viagem curta, mas ainda assim leva décadas para terminar. Não que eu queira, longe disso. Diria que apenas está sendo difícil encontrar um ponto qualquer para fixar o meu olhar que não seja você. Quando ouso trair-me, espiando com rapidez a tua expressão, vejo teus olhos nos meus. Eles não falam nada, queimam em um silêncio instigante. Não convidam, até porque estou certo de que seria errado chamar-me mais para perto.
Mas eu queria. Quis. Já pensei a respeito. Admito, sim, não há porque negar. Dois dias e meio já pensei em ti como não deveria, já fugi da realidade para desenhar uma fábula colorida de teu sorriso e meu abraço, pintando a mesma com nossas cores. Por um momento ela pareceu ser um ótimo conto de ninar, mas logo depois surgiram as figuras que forçaram-me a afastar-se. Um dragão e um rei. Fogo e espadas nos separavam. No fim - isto é, antes mesmo de ele surgir -, precisei acordar. Não haveria possibilidades de algum dia alguém contar a nossa história, pois nem mesmo a iríamos escrever.
O silêncio tortura meus lábios que querem trocar duas palavras, ou talvez um pouco mais. Quero dar alguns passos para frente, ficar ao lado teu. Só nós dois estamos quietos neste vagão lotado. Olho para o chão, pois este é o caminho seguro que encontrei. Escuto tua voz, logo sorrio, porém ela não se direciona a mim. Levanto a cabeça, tendo passado alguns segundos, varro o ambiente recheado de figuras estranhas e novamente aterriso em você. Por que me olhas assim?
Rapidamente recuo, procuro outra direção. Não, você não. Não posso. Não podemos. A janela me dá a visão do mundo lá de fora, repleto de futuros juízes-de-droga-nenhuma. Eles pensarão o que estará acontecendo aqui dentro. Entre eu e você, entre nós dois. Entre nós três. Possibilidades inexatas serão criadas, e até especulações que poderiam muito bem ser realidade surgirão. Mas não, não. Meu pensamento percorre um caminho em busca de um refúgio bem longe de ti. Não é você, não pode ser. Nesta mesma vida já atribuí ódio ao teu nome, e agora não posso apenas pensar o contrário. Você se recorda da antipatia involuntária? Ela me afastou por muito de ti. E agora eu só me pergunto porque demorei tanto para gastar meu mês em apenas um dia naquele fim de outubro com você.
As portas se abrem, chegamos ao destino. Ele e ela falam comigo, não entendo pois não presto atenção. Ainda estou longe, dentro daquele vagão que já se vai. Ainda estou preso na possibilidade de aquele olhar ter implícita uma querência que um dia já foi minha também.

06 dezembro 2011

Matéria: Frispit Portal

No começo do mês de setembro eu tive uma grata surpresa. Alana Boff, minha colega de aula e jornalista da Agência Experimental de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul me ligou e disse estar interessada em fazer uma matéria sobre os livros que eu já tinha escrito. Com um sorriso na cara, aceitei na hora, e então participei de uma entrevista muito legal. Como bônus, o pessoal da Rádio - que também faz parte da Agência Experimental - Fri Spit, chamaram-me para gravar um depoimento. A princípio, o que seria gravado em off, se transformou em um convite para entrar ao vivo e participar do Programa Sinopse, comandando por Aline Marpelli e Fernanda Aguiar - também alunas (e minhas colegas!). Mais nervoso do que nunca, no começo receei, mas não pude desperdiçar a oportunidade.
Bem, não sei porque demorei tanto para disponibilizar este material aqui, mas deixo então o link para a reportagem que saiu no Portal, e também o link para quem quiser escutar o programa de rádio. Este é o começo de muita novidade que vem por aí :)

Ah! Quem não se importar em, depois que ler a matéria, 'espalhá-la' por aí (há um link no fim da mesma para publicar no Face, Twitter, E-mail, etc...), eu agradeço.




04 dezembro 2011

Amor da minha vida

Hoje acordei com uma certeza. Abri minha janela, quase fiquei cego com o brilho do sol. Sorri pela contradição, sorri por ter sobrevivido à noite anterior. Foi uma tormenta fugaz para mim. Estive eu nadando nas especulações de minha mente sem nem mesmo deixar a minha cama, enquanto você estava sabe-se lá onde. Bem, quando ainda estava escuro, eu queria saber onde exatamente você estava. Cogitei possibilidades de tudo dar certo e ser apenas mais uma noite, porém eu sabia que algo estava próximo de acontecer. E o fim de nós dois aconteceu.
Eu não quis imaginar como seriam meus dias sem você, porém certamente eu o fiz. No princípio chorei um pouco, praguejei contra o travesseiro, reclamei do mundo. Já te disse, foi uma noite de tormenta. Porém hoje, quando aquele mesmo sol - que conseguiu ser mais brilhante que teu sorriso - apareceu, eu enxerguei vida sem ti. Não ousaria dizer que apenas quis deixar de lado essa minha ideia de te amar, ou que cansei de nós dois. Eu diria que apenas percebi que não daríamos certo - e é o que geralmente faço em todos meus relacionamentos. Quero dizer, descobrir isso tarde demais. Apenas quando o amor já atingiu o patamar de aceitar as verdades que sempre estiveram me rodeando.
E hoje tirei o dia para não pensar em ti, porém me traí mais uma vez. A verdade é que só pensei em você. Porém, pela primeira vez, foi diferente. Comecei a rir de mim quando dei-me conta de nossas diferenças. E que não venha ninguém para dizer que são nelas que dois indivíduos se completam, pois estou certo de que isso é um erro. Eu e você, meu bem, somos dois opostos imunes ao amor mútuo. Como cheguei a pensar que daríamos certo? Que você, na real, era o certo? Isso me faz rir agora. E pensar que até ontem de noite eu chorava por você, por nós dois. Até descobrir que não havia motivo. Bem, você estava longe de mim - sempre esteve. E eu ali, em minha cama segura, pensando em ti. Já é uma diferença. Eu, o garoto dos dramas amorosos, das palavras entregues sem necessidade, dos rabiscos no braço. Você, da frieza dos sentimentos, da vontade inexistente de conhecer o amor, da maturidade que eu sempre tanto almejei. Porém agora eu vejo. Sim, agora eu sei. Eu nunca quis ser maduro como você. Para mim, essa ideia de infantilidade me soa bem. Na hora certa, é claro. Eu que fico quieto quando nervoso, você que nunca se cala. Eu que choro por nada, choro por tudo, choro por ti. Você que não está nem aí. Eu que te perseguia, te queria, tentava te fazer acreditar em um sentimento que você nunca nem se permitiu provar. Para que? Responda-me tu. Mas que burrice querer provar-te que poderia haver tu e eu, quando nem mesmo tu chegastes a cogitar essa possibilidade.
E hoje... Bem, a tormenta voltou no fim do dia. Depois de saber que fui apenas uma distração, e que novamente eu me apeguei ao que não deveria, eu soube um pouco mais. Soube de ti, da noite de outro dia. Soube dele, soube dela. Soube dos dois. Enquanto eu beijava o silêncio, você beijava a paixão de outros dias - aquela mesma que nós dois havíamos chegado ao consenso de que já tinha chegado ao fim. Então tudo voltou? Vocês voltaram? Porque seria mais um drama saber que os beijos de ontem também se trataram de apenas uma distração. Quem sabe essa paixão do passado que voltou por uma noite soubesse disso - de que seria apenas por uma noite. Diferentemente de mim, que jamais me acostumei com a ideia de transitoriedade. Eu quis ser eterno para ti. E você, amor da minha vida, fechou os olhos para nós dois. Impediu - e por vezes eu acho que fez a coisa certa; mas só as vezes.
Então estou livre enfim. Livre de ti. Com a certeza de que não irei voltar para o mesmo lugar, para a mesma casa, para a mesma cama. Com a dúvida de não saber como você se posicionará diante disso tudo agora. Porque você teve a chance. Eu te dei a chance. Mas você não agarrou, não me agarrou. Deixou-me ir, permitiu-me partir. Mentiu dizendo para eu ficar, mentiu dizendo que queria me ver. Eu caí no teu jogo, caí no teu amor inexistente, caí no fim como sempre caio. Porém não é tarde, meu amor, não é tarde. Ainda há tempo para eu seguir em frente, para eu continuar sem você.
Então eu espero que tenhas aproveitado, que tenhas me aproveitado. Por uma noite, uma única noite. Aquela noite. Não terá mais de mim para tu provar, não haverá um jogador pronto para encarar as cartas despejadas sobre o tabuleiro de forma aleatória. Não existirá mais alguém para jogar com você, e no próximo ano teu aniversário será apenas mais um dia qualquer para mim. Não irei me preocupar com nada, muito menos com você. Já o fiz muito, e de nada valeu. Tua desculpa é fajuta, ela eu não aceito. Diz que não consegue sentir, que é assim e ponto final. Alega que teu jeito é esse, e apenas quem compreender tal mentira será quem conseguirá ganhar o prêmio final. Até lá, apenas premiações de uma noite.
Continuarei escrevendo, quem sabe até quando sobre ti. Não mais linhas tortas e dúvidas sobre nossas impossibilidades, pois tudo isso ficou para trás. Escreverei sobre um fim, sobre um novo começo. Este que você não fará parte. Sinto muito em dizer isso, peço desculpas por dizer adeus. Mas não foi culpa minha, pois eu sabia sim jogar. Apenas não quis, pois amar e jogar só são sinônimos para os que não entendem a palavra felicidade. Até hoje gastei tempo contigo, ditando frases nestes mesmos cadernos velhos que estão cansados de saber sobre você. Eles riram da minha cara por muito, mas agora os fecharei por fim. Escrevi pois soube que você nunca se importou. Lestes tudo, muito soube, mas nunca retribuiu a mim, às minhas palavras, ao meu querer.
Quero que sintas falta, que se dê conta um dia. Quero que voltes para a paixão de outrora só para averiguar que, quem sabe, ela nunca te amou tanto quanto eu. Não a culpo, pois eu e ela somos vítimas de uma mesma pessoa. Quero que leias isto e que ria da minha cara, ria de mim mais uma vez, ria da minha desistência e do quanto fui idiota por amar você. Não me importo com nada disso, de verdade. Sei que ficarás com raiva por eu ter exposto tudo que aconteceu, tudo que digo agora. Mas esqueceu que és tu quem não sabe expor? Chegou a minha vez, amor, minha vez de dizer para que aproveites. Contanto que estejas feliz, peço que aproveites. E o que eu quero fazer agora? Dormir? Certamente. E sem você.
Repito: Hoje acordei com uma certeza - a de que demorei muito para perceber que você nunca me fez bem. Todo mundo avisou, mas passei tempos só escutando o que tu dizia, pois era o que importava. Não mais. Obrigado pelo teu gesto, agradeço muito. Ele fez com que eu escrevesse aqui a maneira que encontrei para poder por fim te dizer tchau. Fim de jogo, fim de nós dois. Agora posso dizer até nunca mais.

02 dezembro 2011

Não mais

Gostaria de dizer que te tornastes
Nada mais do que o ontem para mim
E que hoje tu não fazes mais parte
De minha vida arrastada enfim

Acredite, eu não quis dizer adeus
Jamais ousei pensar em te perder
Mas, pensando bem, quem sabe fui eu
Quem deixaste tu agora desaparecer

Sei que nunca esteves do outro lado do muro
Nem mesmo um dia debaixo da minha cama
Mas fui eu, culpado de tudo, pelos diversos mundos
Mentira dizer que teu nome meu coração não mais chama

Creio que eu apenas compreendi
Este jogo do qual nunca imaginei fazer parte
Entendi que não há um pouco de mim em ti
Mas se um dia puderes... Peço-te: novamente não nos descarte