25 abril 2011

Terra do Nunca

Era como se eu houvesse sido colocado naquele ambiente. Eu estava ali estrategicamente por um único motivo. O cenário em minha volta em si era bastante tumultuado, repleto de luzes fortes que serviam de inimigas para meus olhos fechados e levianamente sonolentos. Estava nervoso, preciso afirmar, e as minhas vestes não eram as que eu escolheria caso pudesse. O cabelo, então, prefiro nem comentar. Mas o fato é que eu estava ali, naquele local gigantesco e assustador. Munido de uma missão simples: encontrar a pessoa que habitava meus sonhos faziam alguns dias. Era Peter Pan atrás de infância infinita, era ansiedade sobreposta por desejo.
Desorientado primeiramente, continuei a conversar com o indivíduo em minha frente. Ele falava algumas palavras que não posso me lembrar, pois simplesmente não prestei a mínima atenção. Por que? Bem, a minha visão lateral estava muito concentrada em reparar a sua presença, logo ali. Como eu havia tanto imaginado. Era realidade, enfim.
E aí viestes. Rapida e impulsivamente. Confesso ter detestado o apelido - carinhoso? - que me destes, e que também passei durante alguns minutos a fitar os teus passos, pois quando andastes ao meu lado eles eram a única coisa que eu enxergava. Olhando para baixo de novo? Pois é, este sempre fora eu. Em minha mente aquela turbulência eufórica de pensamentos arrependidos voava frenética. Queria voltar, queria prosseguir. Estava provando o novo, porém deste eu sempre tivera medo. Permanecer na mesma era a minha primeira lei, então como eu conseguia estar quebrando-a por alguém - por você?
Os minutos passavam e eu me acostumava, simplesmente acomodava-me à situação. O nosso cenário voltou-se a um ambiente escuro, inabitado, apenas nosso. Dias antes era o que eu mais queria, porém naquele momento eu rejeitava facilmente. Assim como aquele beijo que tentastes roubar. Mas sou covarde, desisto fácil de qualquer coisa. Inclusive de minhas metas. E a do momento em questão era não colar meus lábios aos teus.
De súbito a música sobre relógios começou, e então deixei os braços livres. Estavam soltos para percorrerem o teu corpo, para alcançarem cada parte de ti que tanto me satisfazia em silêncio. Era aquilo que eu queria, e por momentos dispersos eu nunca me senti tão bem. Quando pensava ter chego ao fim, lá estava eu preso em teu abraço - como era forte. E eu pensei, tolamente porque não?, que tudo encontrava-se bem. Pensei que era você, enfim. Só você.
O que se seguiu foi mais estranho ainda: Afastamo-nos, criamos lacunas que até mesmo no dia seguinte não foram preenchidas. Talvez por tua indiferença, por tua falta de me querer assim como eu te quis. Em minha frente, meia dúzia de pessoas extremamente felizes em seu exterior. Sorrisos tão brancos que refletiam até mesmo o meu interior devastado. Alguns seguravam aquelas varetas com que se come peixe cru, e eu confesso ter desejado usá-las para despertarem-me. Mas eu não estava sonhando. Aquilo, apesar de bizarro, era realidade.
Eu estava ali estrategicamente por um único motivo: Conhecer-te. Mas, meu bem, isso foi o que menos fiz. Eu fiquei sozinho durante muito tempo - quando ainda estava contigo. Eu quis ir embora. Você não estava andando ao meu lado, você estava na minha frente. Deveria eu então acreditar que isso era o correto? Eu mergulhar no teu círculo social, sabendo que eu nunca me encaixaria nele? Tolice. Entreguei um presente que hoje já deve estar jogado no fundo do teu armário, pois você o jogou em cima do sofá naquele dia - e, quando o mesmo caiu no chão, eu tive a certeza que precisava. Apenas saiba que Wendy me salvou naquela tarde, e durante muito foi ela quem escutou como eu odiava não ter você por perto. Fui com ela para lá e para cá. Fiz dela refém de minha inocência - você nunca saberá que eu pedi para que ela não saísse do meu lado e me deixasse sozinho, como você fez. Você, você. Quem eu só conheci atrás de um muro, ou no escuro de uma escadaria sem luz alguma - bem longe de tudo, bem longe de todos. Não, eu não saberia continuar gostando de você como gostei por aqueles dois dias em que fui Peter Pan do interior perdido na Terra do Nunca.
E você não estava lá para me salvar.