26 novembro 2011

Cinco dias

Não sei, não sei mais o que pensar. Tentei de tudo para reerguer este nosso amor de fim de semana, sem saber que era exatamente nestes dias que ele chegava ao fim. Acontece que sou uma escolha de segunda a sexta, uma opção para apenas cinco dias. E, por mais que sejam a maioria de uma semana toda, eu gostaria de ser teu sem ter de encarar estas pausas corriqueiras que tanto riem de mim agora. É uma pena que não haja nós, e eu digo isso nos dois sentidos. Nós de nós dois, nós que deveriam atar você a mim. Não existe cola, amarrações, ligamentos ou sabe-se lá como você queira chamar esta nossa falta de uma querência que titulei como escancarada. Aliás, nossa não. Tua. Foi uma escolha que fizestes essa de não denunciar o que quer - se é que jamais quis algo. E a quietude que entrega-me quando eu nem mesmo a quero é o que me faz pensar que desperdício aprendi depois de ti em minha vida. Desperdício daquilo que tento, de sentimentos, de tempo, e de um desnecessário sofrimento. Isso cansa, isso um dia chegará ao fim. Até lá, espero que entendas, que relembres, que mudes de ideia, que saibas o quanto esperei de ti.
Quisera eu viajar, partir para bem longe. Destino? Algum lugar onde não houvesse sinal - de telefone, de conexão direta, ou melhor... De ti.

24 novembro 2011

Foto tua

Quieto em meu canto tentando te esquecer
Vens tu e me atinge como bala de revólver
Indefeso, sou folha seca que voa contra o vento
Dizer adeus percebi que já não resolve

Fecho os olhos e tento imaginar vida sem ti
E aí surge um retrato teu quando a dor já era escassa
Falta ar, há uma seca de amor dentro de mim
Porque foto tua me mata, foto tua é trapaça

Quisera eu não relembrar dos dias em que estivestes
Grudado em meu peito feito o coração que ali vigora
Tudo aquilo que já não mais existe, que continuo a fingir
Há uma existência minha que há muito já foi embora

Então minha sede de ti regressa sem nem pestanejar
E outra vez estou eu lá, a querer-te em contradição
Queria bloquear-te de mim, impedir-te de entrar
Expor que nunca deixei de lado essa nossa complicação

O carteiro já não traz notícias tuas, então tudo acabou?
Há uma insistência finita de crer que não sei jogar
Jogador, joga a dor, joga com a minha dor
Se essa for a condição para que possas voltar

Quieto em meu canto tentando te esquecer
Vens tu e me atinge como bala de revólver

21 novembro 2011

Silêncio

Quero fazer-te um pedido
Já que somos uma virgula a mais que amigos
E isso espero que já tenhas compreendido

Um favor não é o que quero
Elogios de ti não espero
Mas enquanto não te tenho por perto

Promete para mim
Diz que ainda vai ser assim
Que logo não vai ter fim

Meu amor, não disfarça
Por favor não me mata
Não nos deixa perder a graça

Procuremos não cair na mesmice
Se não tiver amor hoje, por favor não desiste
Por que ligar para confessar tu ainda resiste?

Não vou pedir-te em casamento
Mas quero mais que por só um momento
Carregar-te aqui dentro

Pode continuar amando sem nada dizer
Entendi que traduzir é meu dever
Mal sabes que escrevo fácil um dicionário de você

Então vê se não cessa
Não fecha, deixa a porta aberta
Pra eu entender essa tua paixão quieta

15 novembro 2011

Dia seguinte

Vai, diz que não me ama. Liberta-me desse amor de mentira que nós dois criamos. Acaba logo com isso, grita comigo. Faz-me sentir de novo alguma coisa, por favor. Deixa-me ir, permite-me amar um outro alguém. Entrega-me a carta de alforria, olha no fundo dos meus olhos e conte quantos pedaços de ti eu ainda guardo em mim.
Confessa que foi um jogo que eu não soube brincar, que eu falhei por lhe querer mais do que deveria. Sussurra outra vez em meu ouvido, mas desta vez me fala os motivos de eu ser apenas distração. Se não mais me quer, se nunca me quis, então abre a porta para que eu possa sair. Não a deixe aberta, pois não quero voltar. Porém antes esclarece tudo, te peço. Deixa o mistério de lado e mostra tuas cartas. Permita-me saber quanto gostastes de mim, quanto tudo isso foi apenas diversão passageira. Nunca soube nada de ti mesmo. E eu... Bem, tolice a minha em entregar-te as pistas para descobrir o meu interior tão facilmente. Não foi difícil para ti ser o melhor jogador quando na verdade sempre houve apenas um. E, apenas te peço isso por fim, esqueça-me. Não mande mais mensagens, pois eu passaria os dias tentando as decifrar. Até porque se não há mais interesse de tua parte, você apenas deveria me deixar partir. Assim como saí da tua cama, da tua casa, da tua cidade. De ti. Deixa-me entender o que tu quer de verdade, porque a confusão aqui é grande. Eu estava lá quando você disse que seria apenas uma noite, e tu acreditastes em mim quando eu concordei. Falha tua, sou um péssimo mentiroso. E tu deveria saber que eu iria querer mais de ti. Mais dos sorrisos bobos, dos ódios momentâneos e da agressividade masoquista.
Você deu o isqueiro para o incendiário, e agora quem queima vivo na incerteza de uma querência recíproca sou eu. Tentando entender porque eu fui, porque eu voltei, porque eu ainda estou aqui. Lembro a nossa maior contradição: tu dissestes 'apenas uma noite', porém eu também estava lá quando tu acordou para, com outro beijo, dar-me bom dia. No dia seguinte, você ainda não havia me deixado ir.

14 novembro 2011

Debaixo da tua cama

Meu olhar rígido e os ossos repousados. O sol que procurava adentrar pelas bordas da janela fechada. A respiração cansada, cabelos em desordem. Tudo culpa tua. Um relógio que apontava as horas quando ainda era cedo demais. Porém queria eu que os minutos passassem? Não, definitivamente. Então sussurrei, bem baixo, apenas para o lado de dentro: Acorde, por favor. Os últimos doze mil e seiscentos segundos sem ouvir tua voz já havia tomado tanto de mim... Tanto que estava lá, em silêncio. Mudo, imóvel, estupidamente feliz, esperando. Querendo que abrisses os olhos para que eu pudesse encontrar a mesma parcela de tudo que enfim tinha encontrado. Acorde, lhe pedi, e preencha meus lábios com um bom dia traduzido por beijo - aquele mesmo que eu confessei para ti que eram muito bons na noite passada. Hoje. Antes.
Ousei em olhar rapidamente para a esquerda. Estavas bem ali, dormindo ao lado do amor. Respiração ofegante que me fez lembrar da tua boca em meu ouvido. E eu ali, na cama debaixo. O menino debaixo da tua cama. Pensando como sempre, escrevendo mentalmente como nunca. As 11h31 eu já poderia lhe contar quantas pequenas luzes piscavam em seu computador, quantas gotas de tinta preta haviam em sua parede, e quantos suspiros tu davas por minuto. Três horas e meia ao teu lado sem te ter bastaram-me para, enfim, dar-me conta de que não sonhava. O puxão nos cabelos, as pernas entrelaçadas e os meus lábios mastigados. Tudo real. Também foi o suficiente para considerar-me um tolo por não ter falado mais, não ter te perseguido do lado de fora, não ter feito jus a minha maturidade muitas vezes, e por não ter ficado mais tempo. Ah, o tempo. Inimigo meu de todos dias. No fim parti levando novas palavras a serem escritas - elas ainda significam algo para ti? -, parti deixando meu coração. Um pouco de mim para que possas, como desejo dito por ti, aproveitar.
Eu e meu desespero, que finalmente se transforma em lágrimas, agora já estamos longe, e outra vez deixamos uma centena de mundos para trás. Acho que amar é isso mesmo: sentir falta. Começar a chorar por alguém. É o sinal mais simples e claro para se descobrir que você não quer mais nada além daquela pessoa que dorme ao teu lado, na cama de cima. Nenhum mundo de distância, apenas 114 centímetros talvez. E quem imaginaria que, depois de quarenta e poucos dias, o perto seria tão longe?

11 novembro 2011

Tempestade

Será em um dia de incertezas
Que irei lhe encontrar
Tu, sol que me queimas
Fazendo-me desmoronar

Derreto os pensamentos
Poucos passos e serei teu
Mas quem sabe aqui dentro
O que diabos aconteceu

Haverá claridade até então
Profunda calmaria a me rondar
Olhando para o lado, porém
Virá a chuva para me sequestrar

Roubar-me de ti
Poupar-me destas distrações
Confundo o brilho da bola de fogo
Com treze seguidos trovões

E agora que lado eu devo
De uma vez por todas me afugentar?
O sol que permanece todos os dias
Ou a chuva que logo irá passar?

06 novembro 2011

Você não me quis

Tu fizestes uma viagem. E eu aqui, sem nenhum pedaço teu, olhando para essas máscaras vigaristas. Não sei bem quanto tempo passou, não sei bem como eu passei. Sei que doeu, fez falta, mas aprendi a viver sem você. E, veja só, os dias ainda foram dias, assim como minhas noites começaram a trazer um pouco menos de festa ao peito. Baixei guarda para o amor assim que tu se foi.
Não direi que foi tudo tão fácil assim. Por que haveria eu de mentir? Eu escutei aquela que já virou certamente a nossa música, e fiquei a martelar a imagem de uma garota ruiva em minha mente, pensando que durante tua partida o mesmo tu farias. E agora sabe-se lá como você passou por isso. Você pode me dizer como foi sem mim?
Meus amigos não perguntaram, ninguém perguntou. Se eu sentia tua falta, quero dizer. Acho que ninguém nunca se importou tanto assim com nós dois, até porque todos eles já sabiam que nunca haveria uma fusão por parte nossa. E, durante tua fuga, foi quando aprendi a conviver com impossibilidades, acreditando em sua existência. Foi necessário, posso afirmar.
Perguntei-me uma única vez se adiantaria continuar aqui, continuar aí. Onde eu não estou, nunca estive, e agora mesmo não vou poder estar. Eles não saberiam mesurar, eu mesmo não saberia. Mas esperar por amor quando tu sabe que ele não virá dói em dobro. E, de ti, que sempre costumei esperar tanto - pois sempre tinha mais por vir -, não receber o que mais quis foi o fim de você aqui dentro.
No rádio tocava a música que tentava silenciar o barulho do vento contra a janela. Dear John, I see it all now that you're gone. E repetia, repetia... Fui obrigado a desligar. E quantas vezes eu quis perguntar: Você nunca sentiu nada? Nunca, nem por um minuto, confundiu, imaginou, cogitou ou pensou que me amava de volta?
Você deveria saber que estarei aqui, distante mais do que nunca, a te observar. Cada passo que deres, a cada respiração. Sei que virão outras músicas - talvez estas agora conterão algumas palavras de despedida -, e tudo que lhe for escrito a partir de hoje ficará para mim guardado. Você não precisará saber, até porque você não irá querer-me de volta para que possas me consertar. E, acredite, eu estarei bem guiado por todas luzes que tu deixou quando fostes embora. Sinais de alerta dizendo que não iria voltar.
No fim eu procurei entender. Quis saber o porquê de você nunca ter me amado. Certamente qualquer pessoa que observasse a nós, de longe saberia responder. É tão óbvio o desamor. Porém, para mim, havia mais complexidade. Não resumia-se apenas a não querer ou até não poder. E, mesmo assim, eu não descobri. Então a única incerteza que levo é a de que lhe faltou permitir-se. Se tivesses dado uma chance para tudo isso - ou, melhor, tudo aquilo - quem sabe quão feliz você teria me feito.
Nunca cansei de nada, jamais cansei de você. Talvez a minha única redenção tenha sido quando cansei de esperar por você. Pela tua reciprocidade que não viria, tratando-se de amor. E agora sei que 114 mundos é muita coisa, e que eu e você somos pouca. Mas não há raiva de minha parte, pois mesmo não conhecendo o meu sorriso, foi você que o moldou na maioria das vezes. Há um agradecimento aqui implícito por teres preferido assim. Um obrigado sufocado por teres feito uma viagem para mais longe ainda, para fora de mim.


01 novembro 2011

Desenhista

Encaro as tuas fotos com mais seriedade do que encaro a mim mesmo. Bobo desse jeito eu nem sei mais o que é razão. Pego o telefone, espero tu ligar. Mas não é um pouco tarde? Talvez eu devesse esperar. Isso nunca foi meu forte, assim, eu digo, esperar. Então eu digito uma mensagem que talvez nunca terei coragem de enviar. Rabisco uma folha, tentativa engraçada de passar o tempo, mas o seu nome ali aparece pintado de azul, o que estou fazendo? E colorir o que está em branco, sem muito saber o que colorir, veja só que estranho, são teus desenhos que me fazem sorrir. É uma festa em outro planeta, é uma festa dentro de mim. Você longe e perto, meu coração não encontro por aqui. Acho que ele viaja as vezes, do mesmo jeito que um dia viajarei. Entro em um veículo azul, quatro rodas, um destino. O pequeno distrito das luzes de natal é onde me imagino. Quando tu falas já são nove e vinte e cinco, e para os meus amigos eu apenas finjo. Finjo não ser nada, finjo não ser ninguém. Mal sabem eles que você está fazendo com que tudo fique bem. E assim, inconsciente, tudo acontece. Você aparece, o dia anoitece, peito em silêncio cresce. O faz para que tu caibas, se encaixe aqui dentro. E agora nem sei o que pensar direito. Se devo ir ou devo ficar, em um subsolo muito escuro me posicionar. Mas eu queria ficar aqui em cima, saber um pouco mais de ti. Enquanto não te tenho junto, enquanto não te tenho aqui.