30 junho 2010

Loucos analistas de si mesmos

Pinto com a caneta aleatoriedades nas costas das mãos e respiro fundo antes de falar, mas isso não quer dizer que eu pense de antemão tudo que digo.
Mordo os lábios para passar o tempo, mordo os dedos para ignorar a apreensão, mas isso não quer dizer que eu consiga espantar a ansiedade.
Arrumo a franja repetidas vezes, ajeito a roupa para que não amasse, mas isso não quer dizer que eu possa ser rotulado com algum estilo pré definido.
Escrevo sobre linhas retas sempre na diagonal, nunca respeitando a formatação correta, mas isso não quer dizer que eu não saiba quando estou ultrapassando limites.
Escuto músicas que não deveria, gosto das melodias que deveria deixar de lado, mas isso não quer dizer que eu não fique extremamente feliz ao provar o proibido.
Gasto horas na cama antes de dormir, preenchendo o meu travesseiro com pensamentos, mas isso não quer dizer que eu não saiba que eles são passageiros.
Danço quando ninguém está olhando, frenética e exageradamente, mas isso não quer dizer que eu não vá dançar quando todos estiverem observando.
Relato o que a mente manda e as mãos traduzem, mas isso não quer dizer que os meus devaneios sejam dignos de análise psiquiátrica.
Porque eu danço, escrevo, arrumo, respiro, escuto, gasto e penso assim como você. Diferentemente de você. E, no fundo, isso realmente quer dizer que todos somos loucos.

Montanha-Russa

Estava nervoso, esperando tempo demais naquela maldita fila. Os dedos suavam, e eu olhava para todos os lados como uma criança perdida dos pais. Então a nossa vez chegou. Escolhi o primeiro carrinho, pois decidi desfrutar ao máximo de minha súbita coragem. Se viveria a maior emoção de minha vida, então a faria valer a pena.
Ao meu lado estava você, que gentilmente pegou em minha mão fria, tranquilizando-me do que viria a seguir. Olhei em seus olhos convidativos e enfim o trajeto começou. O carro moveu-se com certa lentidão, subindo logo no começo um inclinado trecho. Tudo ocorreu muito bem, eu diria. Admito que estava ansioso para ver o que viria em seguida. Mas, naquele momento, eu estava ocupado demais, admirando a paisagem lá do alto. O mundo estava ao meu redor, porém meu olhar insistia em focar-se apenas no seu sorriso.
A subida enfim terminava, e de prontidão pude observar a descida que vinha em frente. Foi aí que o misto inexplicável de sentimentos começou. O nosso carro desceu com toda a força, e meus pensamentos moviam-se com a mesma pressa, impossibilitados de exercerem algum tipo de organização. O meu coração girava, feliz como nunca, e os meus dentes à mostra denunciavam a felicidade encontrada depois de tanta procura.
Como se não pudesse ficar melhor, logo entramos em um daqueles loopings. O giro que nos deixou de ponta cabeça manteve a minha alucinação. Mal sabia eu de que ela era passageira.
Só entendi a gravidade de tudo quando, ainda emocionado, vi que a montanha russa não tinha fim. Os trilhos inacabados em nossa frente nos levavam para a morte certa.
E eu, cego pelo passeio inusitado, estava muito ocupado para pensar no fim. Este, que na verdade não existia.
O carro veloz deixou o percurso e voou para longe dali, arremessando-nos em direções opostas. O resultado de minha tentativa de aventurar-se foi que acabei destruído. Quando à você, saiu ilesa.
Há sempre uma filha da mãe que sobrevive.

27 junho 2010

Você

Difícil de descrever. Ser perfeito e imperfeito. Amável e detestável. Meu e do mundo.
Você, que com o mais tímido dos sorrisos pode pintar o mundo de outra cor, e até mesmo colorir o que apenas vejo em preto e branco.
És a pessoa que faz-me ir da felicidade ao desespero em segundos, e eu sem medo digo que gosto disso. Pois é como viver sem roteiro, sem falar frases usualmente decoradas.
Você, que consegue transpassar em um único abraço tudo que falta em mim, suprindo assim as minhas inexistências.
Certamente estou enganado em vários aspectos sobre quem éres, cego pela magia do amor. Seres perfeitos não existem, mas permitirei a mim mesmo acreditar no contrário durante alguns dias.
Isso tudo porque no momento em que estou não há perfume tão doce que invada meu ar tal quanto você.

26 junho 2010

Cifras inconstantes

Cheguei à conclusão de que pessoas são como músicas. Estilos variados, fáceis de uma rápida classificação. Há aquelas calmas, que fazem você flutuar. Também existem aquelas agitadas, que fazem os seus dias virarem de ponta cabeça. Há as clássicas, certamente as mais frágeis; as eletrônicas, sistematicamente robotizadas; as de curta duração, que você mal vê passar; e as de longa duração, que demoram para ir embora. Pessoas são melodias inacabadas.
Tem aquelas que você aperta o play e aproveita até o fim. Outras você decide pausar na metade, para, quem sabe, um dia voltar a dar o play. Ainda tem aquelas que você logo dá stop, e passa um tempo se questionando se foi cedo demais. Existem as inesquecíveis, que você certamente levará até o fim; as que grudam na sua cabeça por um tempo, mas que você tem certeza de que logo serão esquecidas; e as insuportáveis, descartadas logo após a primeira execução.
Pessoas e músicas são o mesmo. Existem inúmeras, todas diferentes, para gostos diferentes. Porém, você sabe que música é algo inconstante, e que são raras as que ficam para sempre. A maioria torna-se enjoativa enquanto o tempo decide passar. E, enquanto você não encontra a melodia certa - aquela que você fica tanto a procurar -, passam-se várias listas de reprodução, execução atrás de execução.
O rádio da vida nunca pára, e é impossível desligá-lo da tomada. Por isso, quando apertarem o play, mantenha os ouvidos bem abertos e... Boa sorte.

25 junho 2010

Batalha encerrada

Eu já falei para mim mesmo várias vezes que estava desistindo disso. Amar é render-se, e eu nunca fui desse tipo de pessoa. Dedicar-me por inteiro para outro alguém, gastar horas com a mente ocupada. Isso nunca foi típico de minha pessoa. Sempre agi friamente, nunca dei importância relevante para sentimentos.
Porém eu não posso negar que o amor é inúmeras vezes maior do que eu, e lutar contra ele é perda na certa. Então, por mais que doa, eu vou apenas me render. Não ao amor, mas sim à desistência.

24 junho 2010

Junho

Nossos olhares cruzados debaixo das árvores sem importância
Rodeados por conversas aleatórias e insignificantes
Talvez você só precise de uma pequena mudança
Ou até mesmo de um amor que seja consideravelmente marcante

Preciso insistir que as pedras de esmeralda em teus olhos me deixam cego
E que os meus braços degladiam-se para não te tocar, ah se eu pudesse...
Há pessoas ao meu redor que alimentam o meu ego
Porém isso não tem a mesma relevância quanto se fosse tu que o fizesse

Finjo alegria, e no fundo nem o meu coração ri
Pois o silêncio faz parte de mim agora, e você precisa perceber
Que o meu amor está aqui, guardado pra ti
E a única coisa que você deve fazer é escolher

Mas as tuas palavras confusas, tão difíceis de organizar
Os teus textos difíceis que passo horas a decodificar
Tudo que dizes parece ter o objetivo de atingir diretamente a mim
Porém tenho medo que sejam para outro alguém, e que eu seja apenas mais um
Coração solitário no fim

Ponteiros de plástico

O relógio está sob a minha cama, preso à parede. Os seus ponteiros movem-se com certa pressa, querendo atingir logo a linha de chegada, sendo que ela nem mesmo existe. A trilha sonora é o tic tac incessável que reina soberanamente. No meu quarto pintado de negro, luz é apenas um objetivo inalcançável, assim como você.
Apesar disso, continuo repetindo para mim mesmo que a coisa mais inútil a se fazer é sofrer pelo amor. Agarrar-se com todas as esperanças à uma pessoa é tão inútil quanto tentar agarrar uma bóia em um oceano em fúria. As pessoas vão e vem, somem e reaparecem. Assim como a bóia.
Amor não existe.
Ok, exagero.
Amor demora para aparecer.
Ok, certeza.
Paixão é o sentimento certo. O mais ridículo deles, eu diria.
É ela que faz com que você fique parecendo um retardado a cada passo que a pessoa amada dá. É ela a responsável pelas suas longas horas de pensamentos sobre alguém que não está pensando em você do mesmo jeito. E, por fim, também é ela que te ilude, fazendo-te acreditar que o amor já chegou, mas na verdade ele ainda nem apareceu. Ele só irá tornar-se presente depois que a paixão passar. A euforia, a ansiedade, a apreensão... Tudo vai embora, e aí o amor acontece. Não direi o que vem depois disso, pois eu ainda não cheguei nesta fase. Eu digo, ainda não o alcancei.
E, é, talvez seja inútil mesmo sofrer pelo amor.
Pelo menos enquanto ainda nem o conhecemos.
Mas os ponteiros... Bem, eles continuam a avançar.

20 junho 2010

Idiota!

É o que minha mente grita sem parar. Como você pode ser tão estúpida e pretensiosa? Alguma pessoa conseguiria ser menos incalculada do que você?
Os dias passam, mas as pessoas continuam as mesmas, até que desejem enfim mudar. Isso vai totalmente contra os seus princípios, porque essa tal palavra, sinônimo de transformação, parece não existir no seu dicionário. Continuarás a mesma até quando? Quanto mais irá durar isso tudo?
Não desperdices as oportunidades, pois as duradouras são raras, e você deve agarrá-las enquanto pode. Se não o fizer, sabes que adiante restará apenas você. Pois, como já disse, o tempo passa, e as pessoas mudam. Todas as coisas evoluem, e um dia você precisará fazer o mesmo. A minha certeza é a de que será tarde demais, e não haverá ninguém ao seu lado. Você terá deixado partir quem te quis, e não haverão mais amigos para curtirem a vida ao seu lado. As pessoas estarão ocupadas demais para divertirem-se por apenas uma noite.
E eu estarei aqui, ao lado de outrém, nem sequer lembrando da sua existência. Pois eu avisei que você ficaria sozinha. Idiota.


Fim

Ao chegar no fim você se dá conta de que as histórias de amor não existem tão facilmente. Entende que as pessoas são ocupadas demais para viver um grande romance cheio de fantasia - esse que você sempre sonhou em fazer parte. Acaba tendo a certeza de que você não é dono de nenhum castelo e não existem príncipes, princesas, sapos ou cavalos brancos. Contos de fada não existem. Criaturas malvadas que você pensou que seriam facilmente derrotadas persistem atormentando-lhe para mostrar que a vida não é composta de magia e felicidade durante toda a parte do tempo. No fim você entende que não há um beijo para selar um compromisso de vida inteira, e que amores vem e vão. E, por mais que você queira rapidamente manter um, é necessário muito aprendizado para que você talvez, com muita sorte, possa encontrar aquele sujeito que compartilhará os seus poucos momentos de alegria. Porque estar com alguém é assim: Palavras selam um compromisso, e a partir daí tudo se perde. A espontaneidade das coisas vai embora na mesma rapidez com que o sorriso na sua face desaparece. O seu pobre e tolo coração sente-se enjaulado e você percebe que os melhores segundos da sua vida foram aqueles impensados, acontecidos unicamente devido ao acaso. E eles não voltarão enquanto você estiver ao lado de quem você pensa ser o seu cavalheiro medieval. Porque a vida não é um conto de ninar, e as primeiras palavras que você escutou ao nascer certamente não foram 'Era uma vez...'.

11 junho 2010

Tarde demais

O meu corpo dolorido não suporta mais nada
Porém tu insistes em ser mais um grande peso para mim
Talvez eu somente deveria não dar importância
Para coisas estrategicamente transitórias
Não que eu não queira te abraçar a cada segundo
Não que o meu peito não se reduza a menos zero sem você
É só que eu não quero destruir-me mais ainda
Pois eu tenho certeza que chegaria ao fim sem teus olhos cor-de-folha
Sei que nada acontece em um único piscar de olhos
E que são necessários vários deles para concretizar
Mas a questão em minha mente é aquela mesma
Será que eu quero continuar, sabendo as consequencias de arriscar?
Meu peito martela sempre o mesmo sentimento
Enquanto meus braços tentam agarrar-te na escuridão
Mas é inútil tentar tocar as suas mãos
Se elas não estão presentes quando mais preciso
Quero que saibas que se um dia leres isto
Eu estarei te esperando
Mesmo que agora eu não pare de pensar
Que cheguei tarde demais