Julieta estava em prantos. Aprisionava dentro de si uma tristeza que ninguém poderia imaginar que carregava consigo. Nos olhos, lágrimas de sal que pouco representavam a tristeza propriamente dita. O gosto das pequenas gotas era uma miscelânea de raiva e desespero sufocado.
Presa no quarto, Julieta não ousou abrir a porta. Quis correr para longe, mas o máximo que alcançou foi a lua. A lua que aguardava na beirada da sacada. De mãos atadas, bradou: 'Romeu, Romeu, onde estás, Romeu? Quisera que soubesse o vazio que preenche meu peito sofrido. Eles não entendem, Romeu!'.
Ali perto, salpicando pelas ruas tão rápido quanto brasa que foge do incêndio, estava o jovem Romeu. Este que, ao parar para escutar o despejo soturno de sua amada, não tardou em agir: escalou a parede de tijolos descascados e fez dos seus braços uma nova fortaleza para a moça. 'Julieta, minha amada, o meu desejo era dar-te toda a minha alegria, transpor meu sorriso para teus lábios, mas isto nem em beijo consigo. Então vou levar-te daqui.'
Fugiram num velho cavalo e chegaram ao meio do nada. Beijaram as estrelas, trocaram olhares apaixonados que deveriam ser o suficiente. 'Eles não entendem, Romeu', voltou ela a falar. 'Eles não entendem que lhe amo'.
Eis que Romeu sorriu.
Abriu os braços, gargalhou, deu voltas ao redor de si. E, vestido de noite, gritou para o enfim infinito daquele precipício: 'Obrigado! Obrigado por não entender!'
Ajoelhou-se e pegou na mão da amada. Cravou-lhe os lábios com vontade, mirou seus olhos e disparou: 'Casa-te comigo, Julieta. Mas casemo-nos na lua!'
Julieta soube. Julieta apenas soube.
E Romeu voltou a gritar: 'Que o amor seja para sempre isto: um punhado sem sentido que até o maior dos filósofos duvide. Que nenhum poeta saiba discorrer, que físico algum saiba exemplificar em números. Que sempre haja alguém contra, que nem todos sejam a favor. Assim, saberemos o seu valor. E, principalmente, o quanto vale a pena lutar por ele! Obrigado! Obrigado por não entender!'
A moça só conseguia rir.
Desde então, dizem que Romeu e Julieta se mataram. Mais: mataram-se por não haver espaço para tamanho amor aqui na Terra. Que mataram-se porque ninguém entendia e os aceitava.
Já eu, lhes digo: Romeu e Julieta foram para a lua se casar.