É como uma tempestade de memórias em um dia sem
guarda-chuva. Quando tudo chega ao fim, é como se o carro continuasse em linha
reta - mas quem sabe por quanto tempo. Prefiro não pensar que mudamos a rota,
que você pulou do banco do passageiro bem no meio do caminho. Que agora dirijo
em silêncio, sozinho. Eu e nenhum semáforo.
É como naufragar dentro de si próprio, dentro de tudo que
foi tentado e não atingido. É um mar de incerteza, de correnteza, é um
redemoinho de uma saudade que já estava aqui antes de tudo acontecer. O peito
dói, a voz não sai. A dor acende, o dia cai. E o carro continua rasgando o
asfalto, agora mais rápido do que nunca.
É como olhar pro lado e não ver reflexo, sentir ausência de
uma voz que não aparece para dizer bom dia. Como vai. Tudo bem?
É como brecar depressa, bater contra a parede. São alguns
danos e muitos prejuízos. É como colidir e não ter resgate, querer dizer antes
que o dia acabe que o ontem estava muito melhor, muito bem, obrigado. É como
querer voltar e ter uma roda espalhada em cada lado, um pára-brisa destroçado, dois-três
cortes na mão direita que te impedem de não lembrar.
Que o ontem era mais bem-vindo. Era teu melhor amigo.
E você deixou passar.