20 setembro 2014

Boa viagem

É como uma tempestade de memórias em um dia sem guarda-chuva. Quando tudo chega ao fim, é como se o carro continuasse em linha reta - mas quem sabe por quanto tempo. Prefiro não pensar que mudamos a rota, que você pulou do banco do passageiro bem no meio do caminho. Que agora dirijo em silêncio, sozinho. Eu e nenhum semáforo.
É como naufragar dentro de si próprio, dentro de tudo que foi tentado e não atingido. É um mar de incerteza, de correnteza, é um redemoinho de uma saudade que já estava aqui antes de tudo acontecer. O peito dói, a voz não sai. A dor acende, o dia cai. E o carro continua rasgando o asfalto, agora mais rápido do que nunca.
É como olhar pro lado e não ver reflexo, sentir ausência de uma voz que não aparece para dizer bom dia. Como vai. Tudo bem?
É como brecar depressa, bater contra a parede. São alguns danos e muitos prejuízos. É como colidir e não ter resgate, querer dizer antes que o dia acabe que o ontem estava muito melhor, muito bem, obrigado. É como querer voltar e ter uma roda espalhada em cada lado, um pára-brisa destroçado, dois-três cortes na mão direita que te impedem de não lembrar.
Que o ontem era mais bem-vindo. Era teu melhor amigo.  

E você deixou passar.

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