28 março 2011

Engano teu

Aqui estão as minhas desculpas por eu não ser quem você esperava. Então perdoe-me por não corresponder as tuas expectativas e por eventuais falsas esperanças que podem ter sido inocentemente lançadas ao ar. É uma pena que isso não tenha dado certo, pois fazer pessoas felizes é uma de minhas metas diárias. Porém não acho que ao meu lado você passaria a compreender melhor o real sentido de felicidade. Engano teu. Você deveria saber que tenho um sistema de rejeição imediata/automática para todo e qualquer indivíduo não correspondente aos meus padrões talvez errados, porém pré definidos. E, veja bem, antes mesmo que eu venha a terminar este novo trecho, quero voltar atrás e engolir tudo o que acabei de dizer. Porque não são desculpas o que devo realmente pedir, e sim compreensão. Portanto, enfim, volto a deixar claro: não posso ser quem você gostaria que eu fosse, pois assim eu não estaria sendo eu mesmo.
Você deveria saber.


it only hurts me when i'm breathing

18 março 2011

Efêmeridade

Este é mais um daqueles dias em que você se sente reduzido ao nada. E o cenário à sua volta... Tudo parece coagir na mesma sintonia. O céu encontra-se acinzentado; as gotas descoordenadas de chuva dão o tom que é exatamente o mesmo ao de sua melancolia; e o sol, por sua vez, enconde-se para não testemunhar tamanha decepção. E este dia rotineiro acaba por comparar-se com uma estação de rádio abandonada, onde não há um locutor principal para animar-te e dizer-lhe em entrelinhas o que fazer. As músicas são as de sempre, é uma lista de reprodução repetida, automática. E, inevitavelmente, todas elas te fazem lembrar da dor. E esta última, diferentemente de todas as outras vezes, não está escondida, mascarada. Está sobressaliente, escancarada no teu peito aberto e imune. Todos podem ver teu sofrimento. Nem todos podem te ajudar. As engrenagens que movem o relógio maior - que insiste em permanecer estagnado - tardam a girar. A lentidão envolve-te por completo, e logo ali tudo passa incrivelmente devagar. É sufocante, exagerado, e o frio é capaz de exercer o que você mais gostaria: consumir-te. Mas você não deseja que fosse ele a fazer isso. Você sabe por quem gostaria de ser consumido, completo, coberto de fagulhas possíveis de provocar uma grande explosão. Afinal, é sempre sobre alguém. Precisar de outra alma pura ao lado de ti. E no fim deste meu pensamento efêmero, pergunto-me: Por que necessitamos de atenção absoluta? Por que isso insiste em piorar? Por que viver constantemente dias como este?
Como suposto, eu não sei.

15 março 2011

Alguém

Quero alguém que cuide de mim. Não quero cuidar dos outros. Envolver em meus braços, hm, é claro. Porém para por aí. Não quero ser a voz ativa da relação. Pretendo permanecer em segundo plano quando encontrar alguém, sempre ofuscado pelo brilho e presença intensa do sujeito em questão. Quero mais que ser cuidado, quero ser amado em dobro. Quero sorrisos em todos os encontros, promessas que serão cumpridas e surpresas que mesmo caso eu venha a imaginar, ainda serão as melhores. Quero muito encontrar alguém maior. Não em tamanho apenas, mas que me proteja de tudo à volta. Que me silencie com beijos roubados, que me conforte com calor suficiente para saber que esse alguém é o alguém correto.

06 março 2011

Sétimo andar

Aqui estamos nós outra vez após alguns meses de distanciamento. Duas almas, estranhamente silenciosas, sentadas em um lance de escadas quase nunca visitado. Imóveis por alguns segundos, somente pela simples curiosidade de encontrar a escuridão que nos torna iguais. A maneira com que o silêncio me envolve... Bem, de certa maneira eu gosto dele.
O mundo lá fora é o pior. Malvado o suficiente para te querer sempre trancafiado neste negro absoluto. Palavras são ditas repetidamente das bocas de pessoas que apenas não entendem... Diferentemente daqui, onde a falta delas é o maior dos privilégios. Tento fugir dos medos, dos pequenos rastros de luz projetados na parede desforme, mas não adianta. Não fui habituado a viver aqui, em um esconderijo tão perfeito.
Quando as luzes voltam - as maiores inimigas de minhas pupilas cansadiças -, elas nos lembram de que o mundo lá fora, malvado o bastante, chama-nos para a luta. Precisamos enfrentar o que há por vir, ouvir o que não gostaríamos, e mostrar a face para que a julguem quando seria mais fácil permanecer aqui... Calados, estáticos, satisfeitos.
Ah, esse silêncio doentio.