30 novembro 2010

Alado

Lançado no breu infinito
Abismo putrefato de risos insólitos
Facetas desorientam e bloqueiam refletores
Como se por aqui houvesse um lugar seguro

Perdido entre gritos histéricos
Quase rendo-me quando mal consigo ver
Então surge a figura heróica
Tomando-me com toda sua força

Pensamentos brincam em ritmo frenético
Como posso enfim voar?
Tentando saber quem deu-me asas
Lembro do teu cheiro impregnando-se em mim novamente

Outra vez és tu quem apareces
E deves saber que amei a sensação
Estava eu, ali esperando,
Para que me retirasses do caos

Agora buscarei meios de recompensa
E serei grato pela eternidade
Não somente por apareceres
Mas por ter me feito voar

19 novembro 2010

Carnal

Eu não preciso de um beijo. Talvez um abraço eu também recuse no começo. O que eu quero mesmo é que você esteja ao meu lado. Apenas saber que o espaço vazio que encontra-se aqui perto neste momento estará em alguma hora preenchido por você e seu sorriso quieto. Necessito notar que dividimos do mesmo ar poluído e velho, e que mesmo em silêncio as nossas mentes têm o mesmo pensamento. Ok, admito, quero um beijo sim. E um abraço também. Assim como você. Tanto quanto você. Preciso do toque, do cheiro, do contato físico que agora é apenas um desejo irrefutável. Quero apertar, ter, possuir, arranhar e morder. Manter, acalmar, segurar, apegar-me.
Quero sentir. Com minhas próprias mãos. Porque das expectativas pulsantes em meu peito descontroladamente apaixonado... Bem, eu já estou cheio delas.

18 novembro 2010

Km 49

As nuvens negras completam o céu com um tom acinzentado, e eu sei que há milhares de esperanças corrompidas ali perdidas. Enquanto viajo no banco de passageiro, aproveito o silêncio matinal que me faz esquecer de tudo, a não ser uma única pessoa.
Meus olhos vagam por um caminho estrategicamente elaborado, para que haja um destino certo ao fim dele, porém eu agora simplesmente não sei para onde estou indo. Nem sei ao menos se quero chegar.
Tento inutilmente concentrar-me em qualquer distração irrelevante que cruze minha frente, porém torna-se a missão mais difícil quando tudo que enxergo transforma-se em você. O barulho do vento que distorce meu rosto não é suficiente para me fazer te esquecer.

16 novembro 2010

Corrompido

E se me perguntarem o porque de eu rodar tantas vezes, percorrendo os memos círculos, sendo que sempre acabo em você, eu não saberia responder. Tentei anteriormente encontrar o que há de diferente em ti para que consigas me deixar assim. Seria clichê absoluto dizer que são teus olhos, pois eu nem os enxergo mesmo, estando eles cobertos por aqueles fios drásticamente negros. Não é o teu cheiro também, apesar de após cada encontro eu voltar para casa sentindo-o, e ficando de alguma maneira feliz por estar com um pouco de você impregnado em mim. O seu beijo é um dos melhores, não posso mentir, mas também não é o motivo principal.
E, ah, quem dera fosse apenas eu. Isso acontece com todos que você captura, pois eles caem no mesmo jogo com mais facilidade ainda. A verdade é que resistir à você tornou-se piada. Então eu - e os outros, infelizmente, como já disse - acabo apenas cedendo. Lanço-me após escutar as palavras que precisava para que o inferno se tornasse paraíso em uma simples fração de tempo. Então veja bem, até nisso você consegue ser melhor do que eu. Fui designado o rei das palavras, mas quem tem total poder sobre elas no fim é você.
E eu tentei anteriormente encontrar o que há de diferente em ti para que consigas me deixar assim. Apaixonado.

14 novembro 2010

Mais do mesmo

Já senti-me assim tantas vezes. Angustiado por não saber o que tu sentes, e principalmente esperançoso para que sejas o mesmo que sinto. É a mesma velha história onde duas pessoas que estão separadas por algo chamado destino precisam enfrentar qualquer empecilho para que fiquem juntas. E, bem, como isso já deve ter acontecido com você, deves saber qual é o fim. Se um dos dois não desiste, a própria distância emprega-se em separar algo a mais além dos corpos: o sentimento.
Entre você e eu, espero que seja diferente. Foi o mesmo que desejei com outras pessoas, onde realmente acreditei que daquela vez em especial daria certo (o que não acabou sendo). Mas tenho de sobra o amor necessário para que motive-me a lutar por isso. Quero concretizar o que agora é apenas um sonho, e sei que tudo ficará muito bem quando eu encontrar o seu abraço. Será difícil quando dar-me conta de que não posso permanecer nele por muito tempo, e que logo terei de voltar, mas também sei que terá valido a pena.
Por você, por mim, eu estou acreditando no amor mais uma vez.

09 novembro 2010

Cego

Você apareceu em meus dias como se primeiramente fosse apenas uma brincadeira de mau gosto. Sabe, daquele tipo que você evita por ter medo que não seja algo real. Não posso dizer que passou algum tempo para que eu acreditasse naquilo tudo (e isso inclui você), pois logo me lancei para o até então inexiste. Para você. Não tive medo de cair, pois até aquele momento eu já havia caído tantas vezes, e mais uma não faria grande diferença. Simplesmente fechei os olhos, confiei nas poucas palavras que havia me dito e encarei aquela que seria a minha nova tentativa fracassada de amor.
Posso dizer agora que o adjetivo que eu acabei de chamá-la tornou-se inteiramente falso quando enfim voltei a enxergar, e a estúpida de minha visão encontrou os teus olhos tímidos e dispersos. Uma rápida caminhada sem sucesso algum, minutos debaixo de uma árvore gigantesca, e as nossas tentativas aparentemente fracassadas de causar inveja aos outros foram os aspectos suficientes para que eu me rendesse de vez. Você estava ali, ao meu lado, sorrindo ao falar aquelas palavras de pronúncia engraçada, e banhado pelo mesmo velho e exausto sol de novembro. Eu podia acreditar que você correu atrás de mim para que me salvasse de tanta frustração de outrora, porém creio que seja cedo demais para pensar assim.
Prefiro acreditar que o que está acontecendo é o que eu sempre quis. E, exatamente agora, eu prefiro continuar cego, pois assim torno a distância invisível.

07 novembro 2010

Por um fio

Quinze centímetros de barbante comum foram necessários para o que eu desejava realizar. Cortei-o e depois o envolvi em torno de meu pulso, amarrando duas vezes para que o mesmo não se desprendesse com facilidade. Seria, a partir de então, uma espécie de amuleto. Algo de mim para mim mesmo.
Junto com isto apareceram mais. Pulseiras variadas, de diferentes cores, e cada uma representando um pessoa em particular. Amigos e amores que mantiveram-se simbólicamente. Devo admitir que foi um bom momento quando via que o meu pulso ia desaparecendo, sendo coberto cada vez mais por aquelas cordinhas baratas e coloridas. Significava que os dias de tristeza haviam de vez ido embora, e finalmente - como um tipo de recompensa tardia - eu estava rodeado por novas faces.
Acontece que tudo é mutável. Pessoas se vão tão rápido quanto as promessas que elas anunciam. Revoltam-se com sentimentos de dúvida, sufocando-se cegamente nas próprias palavras. E as pulseiras... Bem, elas foram simplesmente caindo de meu pulso. Talvez porque não eram fortes o suficiente para continuarem presas à mim.
Ao olhar para as duas que restaram, lembro-me de que a cordinha de barbante talvez seja a única que continuará, pois o único em quem posso confiar sou eu mesmo.
Por enquanto.

03 novembro 2010

Sentir... duas vezes

Ajo friamente. Esqueço os sentimentos. Esforço-me para que sorrisos doces sejam apenas um detalhe. Tudo com a intenção de não me machucar. Mas torna-se inevitável quando as pessoas criam vínculos expontâneos e rápido demais com você. Pessoas sentem, e esse é o problema. Apegam-se ao que deveria ser considerado apenas como diversão, pois no fundo elas sabem de todos os impedimentos de qualquer relacionamento que possa surgir a partir dalí.
E, como se nada além disso pudesse ser pior, acontece duas vezes. Com duas pessoas diferentes. Ao mesmo tempo. É aquela turbulência de sentimentos que te deixa louco, fazendo com que você se perca em promessas e beijos roubados. Você se ilude com noites intensas e abraços que costumavam lhe manter aquecido. São dois. Ou melhor, três. E uma relação, pelo que se conhece, vale para duas pessoas.
Então você se vê na obrigação de escolher. E, hm, você sabe que escolhas e você mesmo nunca foram a melhor das combinações. Não há iniciativa nenhuma vinda de sua parte, então tudo que está acontecendo acaba se acomodando. Torna-se padrão, e o que costumava existir desaparece.
Entre fazer uma escolha - onde alguém obviamente sairá prejudicado - e deixar de amar, você claramente escolhe desistir.

Verdadeiramente falso

Enumero meus erros ao mesmo tempo em que penso que arrepender-se deles seria inútil. Se chegou a acontecer, é porque permiti, então no momento não era exatamente um erro.
Ajo por impulso, porém quando se faz necessária a presença de uma tomada de iniciativa, apenas vejo o nada passar diante de mim, pois permaneço no mesmo lugar, esperando atitudes alheias que não acontecem.
Escondo o que sinto, mesmo que seja forte para que torne-se visível, pois não desejo que qualquer um saiba que aqui dentro ainda impera um sentimento denominado amor.
Descontrolo-me ao pensar que perderia tudo que agora tenho (e que um dia era apenas um sonho certamente inalcançável) com um simples punhado de palavras decisivas. Então prefiro mantê-las acomodadas em um lugar no fundo de meus pensamentos.
Minto para que tudo fique bem, pois eu simplesmente não suporto magoar outrém. Quero o sorriso em todos os rostos, e esse é o jeito mais fácil de consegui-lo.
Eu acho que a mentira é a maior de todas as verdades.