tag:blogger.com,1999:blog-63674269818932344122023-11-16T10:57:58.997-03:00santa cretinicePEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.comBlogger208125tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-78114263497100229012014-09-20T20:14:00.002-03:002014-09-20T20:14:40.843-03:00Boa viagem<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É como uma tempestade de memórias em um dia sem
guarda-chuva. Quando tudo chega ao fim, é como se o carro continuasse em linha
reta - mas quem sabe por quanto tempo. Prefiro não pensar que mudamos a rota,
que você pulou do banco do passageiro bem no meio do caminho. Que agora dirijo
em silêncio, sozinho. Eu e nenhum semáforo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É como naufragar dentro de si próprio, dentro de tudo que
foi tentado e não atingido. É um mar de incerteza, de correnteza, é um
redemoinho de uma saudade que já estava aqui antes de tudo acontecer. O peito
dói, a voz não sai. A dor acende, o dia cai. E o carro continua rasgando o
asfalto, agora mais rápido do que nunca.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É como olhar pro lado e não ver reflexo, sentir ausência de
uma voz que não aparece para dizer bom dia. Como vai. Tudo bem? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É como brecar depressa, bater contra a parede. São alguns
danos e muitos prejuízos. É como colidir e não ter resgate, querer dizer antes
que o dia acabe que o ontem estava muito melhor, muito bem, obrigado. É como
querer voltar e ter uma roda espalhada em cada lado, um pára-brisa destroçado, dois-três
cortes na mão direita que te impedem de não lembrar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que o ontem era mais bem-vindo. Era teu melhor amigo. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E você deixou passar.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-81140971437180758142014-09-03T11:23:00.000-03:002014-09-03T11:23:01.885-03:00Em Nenhum Lugar<div style="text-align: justify;">
O garçom acaba de me emprestar uma caneta. De quebra, perguntou se eu não queria papel também. Acho que sentiu pena. Ou vai ver a política do estabelecimento dita que os guardanapos são caros demais pro freguês gastar assim - escrevendo. Resolveu desabafar, problema é seu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Faz frio lá fora, a fresta debaixo da porta de vidro do bar me faz lembrar. O chá é branco, algo tão tosco quanto escolher o item mais barato do cardápio só pra ter o direito de ocupar uma cadeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
As outras mesas estão lotadas. Todo mundo em duplas; em três; todo mundo de quatro. O mundo se juntou pra rir da minha descompanhia (sic). Já a música, acho que se trata de um ritmo repetitivo que nenhum cantor quis cantar - não há cantor. Deve ser um tango misturado com bolero, se é que isso pode existir. </div>
<div style="text-align: justify;">
A mesa ao lado chamou a garçonete. Trocaram a garrafa de vinho por uma tacinha - pois é quinta e ainda precisamos ser humildes. No diálogo, a moça de guardapó dita a carta - tem suave, branco, tinto, tem merlot. "Ah, diz de novo merlot", pede a freguesa descarada. Ela diz. "Mas escuta, guria. Tu não é daqui, é?". Tão óbvio que desejei eu responder. "Eu sou do Rio de Janeiro", esfregou o sotaque. "Ah, então fala dezesseis." E, claro, como uma boa atendente que faz jus ao salário mínimo, ela falou. Depois, trouxe o vinho. A tacinha. A cliente percebeu uma sujeira na borda do copo - ai, que é isso. Enquanto ela retorna com uma taça nova, me pergunto quantas bocas já beijei nesta xícara de chá, quantas bocas já beijei esta noite?</div>
<div style="text-align: justify;">
Desviei a audição do zoológico, voltei a me concentrar na música. Agora, com cantor. Ele rasteja por uma batida pegajosa, suja, grudenta, resvalante. Me imagino em um quarto preto, eu danço no escuro pra fugir. Lento, braços pendentes como se fossem ondas. Lá não chega mais gente, lá não lotam as mesas, lá não há nada. E é lá onde eu queria estar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Afastaram os guardanapos. A outra mesa precisava de mais... Tá bom. Agora que chego no fim do papel, percebo: quis escrever sobre nós, mas não nos encontrei. Coincidência ou não, não me encontrei também. Em nenhum lugar.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-43010942954125879782014-07-30T22:52:00.001-03:002014-07-30T22:52:38.266-03:00Com você<div style="text-align: justify;">
Meus cadernos pareciam gritar. As canetas enfiadas dentro daquele pote, então, pareciam fazer de tudo para chamar a minha atenção. Não escrevia havia meses. Não rabiscava para ti havia quem sabe um ano. E, apesar de declarar o meu amor diariamente, não sujava o papel para dizer quaisquer palavras. Eis que me rendi.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu queria era dizer que com você eu me tornaria no que fosse preciso para ser alguém melhor. Desde usar roupas mais condizentes até deixar os meus trejeitos infantis de lado. Com você eu enfrentaria todos, sem nem mesmo saber onde acabaríamos, mas feliz por ter tua companhia independente de qualquer coisa. Eu venceria (alguns dos) meus medos, conheceria novos lugares, reinventaria os antigos e faria dos domingos um dia agradável - por te ter.</div>
<div style="text-align: justify;">
Com você eu até mesmo abriria mão das minhas meias no inverno, tudo para te encontrar de um jeito meio tosco debaixo das cobertas. Eu iria a várias festas, eu engoliria o meu passado para só vomitá-lo quando você quisesse saber. Onde? Quem? Por que?</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu gravaria a nossa viagem até a lua, mesmo sabendo que, tão cedo, o máximo que conseguiríamos seria um passeio de final de semana para uma cidadezinha próxima. Com você eu brigaria e saberia que até mesmo o gostinho de te perder me faz te querer mais ainda. E descobriria que quando brigamos é quando, na verdade, mais quero te beijar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Descartaria tristezas e dramas - a maior parte, ao menos; Insistiria no mesmo perfume por saber que é o gosto que você tem de mim; Buscaria novos desafios, sairia da mesmice e espantaria a acomodação; Te daria orgulho; Morreria de orgulho de volta; Ligaria de noitinha pra desejar boa noite, ciente de que o mesmo ritual todos os dias não cansa: reforça; Traçaria planos que para mim fossem atuais, e talvez para ti um pouco futuros; Daria um jeito de, cedo ou tarde, colidir nossos mundos. Mais ainda.</div>
<div style="text-align: justify;">
Escreveria mais textos, muitos deles. Borraria a caneta, sujaria os dedos, acabaria com a folha sem ter tempo de continuar te dizendo tudo o que seria capaz. Até porque, antes que as linhas cheguem ao fim, com você eu </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-6733890076577251182014-02-26T19:59:00.001-03:002014-02-26T20:01:09.227-03:00Tem uma idade...<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que começa a se pensar que todas as outras idades foram um acúmulo de aprendizados. O seu pai estava certo quando disse que estava e você não acreditou. A sua mãe disse que já tinha passado por isso e você nem mesmo deu importância. Tem uma idade em que tudo aquilo se torna óbvio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que a festa do final de semana é trocada por um pijamão sem grandes discussões, que a segunda-feira se torna o dia favorito para sair de casa com a melhor roupa do armário e que o cabelo curto parece combinar mais, soar menos chamativo. Tem uma idade que você percebe que chamar a atenção é uma furada e tanto.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que você começa a perceber que ele ou ela nem eram "tudo aquilo" e que, pra ser sincero, você nem estava tão afim assim. Tem uma idade em que o salto perde alguns centímetros, que a gola V se transforma em gravata, e que na geladeira só tem coisa sem graça pra comer. Tem uma idade em que você nem mais sabe o que é brigadeiro de panela e quer mesmo é voltar no tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que o perfume não é mais importado, que o carro tão sonhado quando criança na verdade é um popular que te salva nas piores horas, que o arranhão no pescoço é do gato tipo animal mesmo, ou então do marido descuidado. Tem uma idade que sexta-feira é sinônimo de descanso e que final do mês é sinônimo de fechar os olhos pra qualquer vitrine.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que você desejou ter essa idade. Tem uma idade em que parece que forjaram o seu bolo de aniversário - ontem mesmo as velas eram 18, hoje já chegam aos 42. Tem uma idade em que nada disso acima é chato, e que se soar chato é porque você apenas não chegou nessa idade ainda. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que tudo é divertido, e essa idade eu nem sei qual é. Talvez sejam todas as idades, e o que mude sejam as pessoas, os locais, os acontecimentos. Tem uma idade em que você começa a perceber que o destino é tão piada quanto Papai Noel - o destino mesmo é teu nome do meio. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tem uma idade em que acontece isso. Tudo isso. E olha que eu nem cheguei aos 30 pra saber do resto.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-24348870084921887532014-01-29T22:30:00.001-02:002014-09-03T11:28:47.320-03:00Se os brindes do Mc Lanche Feliz fossem livros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsDzbu4g1S_EyzV1konTTbW3cBxcTOmrBfWvEB9UxAHLIudnRPu6hTYZds_PlhUHe1S1ymdWZvz0NkTpOQnxiDGMSOvaKFGM5sWHK9e8MyrjVC1Y9S8FYR48B40QdY_qgzy0VfiNhzbiWR/s1600/ronaldmc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsDzbu4g1S_EyzV1konTTbW3cBxcTOmrBfWvEB9UxAHLIudnRPu6hTYZds_PlhUHe1S1ymdWZvz0NkTpOQnxiDGMSOvaKFGM5sWHK9e8MyrjVC1Y9S8FYR48B40QdY_qgzy0VfiNhzbiWR/s1600/ronaldmc.jpg" height="235" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Tentei entender porque Dandara não ia embora. Era negra, mas não cheirava a café. Sorriso branco, os dentes - estes sim - parecendo de leite. Rebolava feito bambolê, que em câmera lenta vai para a esquerda, desliza um pouco e finge cair, mas logo está lá para a direita, e continua nesse vaivém hipnotizante. De enlouquecer qualquer homem. Porém, contudo, todavia, entretanto, queria que ela se fosse. Queria que batesse a porta e livrasse minha cama do seu corpo sinuoso na noite seguinte. Meu desejo havia sido ela, sabe como é, mas dia após dia o casinho virava casamento e disso eu tava fora. Obrigado, amém. Dandara, por que tudo não pode ser mais fácil?</div>
<div style="text-align: justify;">
Se os contratos de quaisquer empresas fossem claros e não envolvessem o linguajar-dos-advogados, todo mundo estava bem resolvido. Ninguém se metia em problema. Se ninguém olhasse pra baixo, eu poderia usar bermuda nesses dias que o termômetro marca uns 45 graus. Trabalhar com a corda e a gravata no pescoço não é nada bom. Dandara, Dandara. Se tu não tivesse entrado, talvez eu não quisesse a tua saída. Tudo seria mais fácil se mais gente achasse que o fácil vale a pena.</div>
<div style="text-align: justify;">
E hoje me perguntaram se ainda gosto de você, mulher. Veja só se isso é pergunta que se faz pra um cara como eu. Um cara que nem sabe o que responder. Quer dizer, gostar envolve muita coisa. Pode ser muito, pode ser pouco. Posso até gostar da minha caneta azul que borra a página nesse desabafo que leva teu nome. É ponta fina e molhada, oras. Tenta entender, eu gosto de tudo, eu gosto do mundo. Mas acho que de segunda à domingo nesse meu mundo não cabe mais você.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então vai, Dandara. Me deixa fazer qualquer coisa que amanhã vai ter três sílabas e pronúncia de pro-ble-ma. Quero ser o cara, quero ser esse cara. Esse cara que nem sabe o que quer. Que nem sabe se te quer. </div>
<div style="text-align: justify;">
Se nas segundas se ganhasse em dobro, todo mundo esperaria mais por elas. Se o cinema fosse mais barato, talvez muito mais casais adolescentes (como nós) teriam se formado durante um filme qualquer. E, pensa bem, se os brindes do Mc Lanche Feliz fossem livros, até mesmo o próximo mundo estaria a salvo. Quem sabe até não poderíamos ter pensado em filhos? </div>
<div style="text-align: justify;">
Então, se eu quero que você vá embora, favor culpar a droga do Mc Donald's.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dandara... - suspiro teu nome que some logo após deixar a boca, rebolando no ar assim como você. Dandaraê, Dandaraí. Por que mesmo que você me fez começar a pensar nisso tudo bem aqui? Só parte. Nós dois.</div>
<div style="text-align: justify;">
Que o meu parto eu aguento sozinho.</div>
<div>
<br /></div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-72964183744258153682014-01-08T22:23:00.001-02:002014-01-08T22:23:43.286-02:00E se eu não chegar lá<div style="text-align: justify;">
Se eu não chegar lá talvez ninguém se importe. Talvez você me troque. E, por falta de sorte, vou entender que teria sido sorte cuidar do meu bom senso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quem sabe, se eu não chegar lá, amanhã não haja bom dia, bom trabalho; daquele sofá fujam os amassos, e hoje nem boa noite vou dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu não chegar lá não vou ter chego a lugar nenhum, e essa noite vou ser só mais um a entrar pra lista dos que hoje tiraram o dia para morrer.</div>
<div style="text-align: justify;">
E se eu não chegar lá eu vou dar trabalho pro hospital, e vai até pegar meio mal ser atendido por alguém que não seja você. Cadê você?</div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu não chegar lá o caminho terá sido em vão, meio escuro. Vai saber o que tem detrás deste muro? Um rouba-vidas ou algo que nem cheguei a conhecer?</div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu não chegar lá, talvez eu cause uma saudade. Nada que um dia não acabe. Porque insubstituível mesmo só você. A meu ver.</div>
<div style="text-align: justify;">
Caso eu não chegar lá, talvez eu não tenha sido o suficiente, e eu, meio descrente que nem sempre, vá chorar o caminho inteiro para sabe-se-lá-onde-estou-indo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não vão me suportar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então, se eu não chegar lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vem atrás.</div>
<div style="text-align: justify;">
De mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
E diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olá :-)</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-69785241384572451642014-01-02T22:53:00.001-02:002014-01-02T22:54:47.511-02:00E se eu parar de rabiscar?<div style="text-align: justify;">
Bloqueei qualquer parte de mim que respingou na escrita. Em meio a estas mudanças do dia a dia, decidi que meu punho não sabe mais ser cursivo e que do meu lápis não sai a-be-cê nenhum. Acreditei na minha própria mentira, na minha própria piada. Sempre fui um piadista de marca fajuta. Acontece que comecei o dia de hoje pensando que não sei mais escrever.</div>
<div style="text-align: justify;">
"Desaprendi" - foi essa a ordinária, a palavra escolhida para rotular a inércia de meu abandono linear. Simples assim. Ontem sabia, hoje já não sei mais. Escrever? Quequéisso. Nem me lembro como faz. Mas, espera. Quero fazer. Quer dizer, eu preciso escrever. Sou escritor. Pensa só se o carteiro resolve deixar de entregar cartas. E quando foi que os médicos decidiram não salvar alguma vida? Nunca, nunquinha! Então por que o escritor resolveria que assim, de uma hora para outra, abandonar tudo seria uma escolha sensata? Papinho de preguiçoso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Teorizei, então. Não procurei nos livros grossos, mas sim fui buscar na minha própria fatia de loucura. Ali, ao lado da racionalidade (gavetas opostas se postas lado a lado funcionam melhor), encontrei o que preferi chamar de solução. E se eu parar de rabiscar? Bem, tanto faz. Estou de férias. É feriado na cidade dos papéis em branco.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, veja só: enquanto veraneio e devaneio - eis a escrita.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-5639226965780073892013-12-22T20:34:00.000-02:002013-12-22T20:34:03.922-02:00Sob o céu de São Paulo<div style="text-align: justify;">
Escrevo-te para contar que por aqui as nuvens são carregadas - creio que tanto quanto eu. Durante o dia são pálidas, tornando-se negras à noite. Parecem guardar algo pesado demais para que permitam deixar ir embora simplesmente. No céu, alojadas livres de uma sequência lógica, elas me impedem de ver. Ver o que há do outro lado, o que fica lá longe. O céu, então, não é o mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há solidão sob o céu de São Paulo. Em contrapartida, há eu em você. Nos cheiros e esquinas, nas ausências e madrugadas. Moram consequências de um até logo desajeitado, mas moram também suspiros trêmulos de um prospectado reencontro. Aluguei, por estes dias, a parte de mim que precisava ser re-conhecida. Paguei caro. Paguei com lágrimas que escondi debaixo do travesseiro para que você não visse mesmo de longe. Paguei com faltas, paguei com ecos. E nem parcelar a saudade me deixaram.</div>
<div style="text-align: justify;">
Entendo que o céu é outro porque certas vezes só uma tempestade forte é que nos faz recomeçar. Me deram um céu sujo para que eu precisasse reunir o necessário para borrá-lo de azul. De Sul. Sei-lá-quem me obriga agora a enxergar do outro lado destas nuvens poluídas. Para, assim, encontrar o mesmo céu que você.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-62301359076343833312013-12-04T13:48:00.002-02:002013-12-04T13:48:44.882-02:00Guri poeta<div style="text-align: justify;">
A noite resolveu me consumir quando você foi embora. Tranquei a porta, caí de joelhos, tentei imaginar o que seria dali em diante, e ao mesmo tempo rebobinei os últimos minutos daquele episódio para que eu entendesse o que havia feito conosco. Naquela noite eu estraguei nosso roteiro, atropelei as nossas falas, deixei os segundos finais com um silêncio constrangedor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto eu me debatia internamente, agradecia por ninguém ver a minha fraqueza. Péssimo, aquilo foi péssimo. Se tivéssemos espectadores, todos julgariam aquele episódio da nossa série como o pior. Tão ruim quanto a primeira rima de uma música rejeitada, roubada, amassada e picotada. Quem gostaria de ver o mocinho saindo porta afora sem dizer nada, pegando aquele táxi sozinho e terminando a noite sem nem trocar um olhar com o seu grande amor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Guri, o que você tá fazendo?</i> - a noite sussurrou para mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Balancei a cabeça como se aquilo servisse como resposta, pois eu nem mesmo tinha uma. Caminhei mais dramático do que qualquer cena que eu jamais pudesse fazer. Faltou força, energia, faltou a certeza. Debaixo d'água corrente, agradeci por ali as lágrimas se camuflarem. </div>
<div style="text-align: justify;">
Desde então, passei a me questionar: Qual é a credibilidade de um poeta? </div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-52022712177726813652013-11-08T17:25:00.001-02:002013-11-08T17:28:46.128-02:00Ensaiando (saudades e) saídas<div style="text-align: justify;">
Essa semana me peguei fazendo as malas, e só depois da terceira camiseta enrolada me dei conta de que não havia um porquê. Nenhuma viagem programada, nenhum bate-e-volta de fim de semana. Entretanto, havia uma vontade de sair. De qualquer lugar que fosse.</div>
<div style="text-align: justify;">
Passei a terça em casa, atestei qualquer coisa. Mas, percebendo agora, não era assim tão simples. Passei o dia mais pra lá do que pra cá, enrolado em um cobertor em plena primavera. Na quinta, fui trabalhar com muito sono. Como alguém que não dorme há semanas, sendo que eu havia dormido mais que oito horas na noite anterior. A vontade, fosse em casa ou no trabalho, era só uma: sair por aí.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pesquisei no Google se é possível cansar desse mundo e querer outro, e até pesquisei o valor de uma diária em Marte. Pela primeira vez, nenhum resultado satisfatório surgiu na tela. Saí, de novo. Do Google direto para a minha pilha de CDs. Coloquei para tocar, como se fosse ação rotineira, e um ou dois cantores me fizeram ir para longe, sair do quarto, sair de qualquer parte de mim. Desmembrei meus sentimentos e reagrupei meus ossos, mas nem assim eu julguei ser suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Amanhã, então, vou procurar sair da cidade. Vou em busca de uma significância desaparecida há umas três semanas, pois quem sabe é esse o motivo pelo qual eu queira fugir de todas as coisas simples. Como cartaz de cachorro perdido, eu pretendo colar em cada poste a nossa foto. Minha e tua. A mais cafona, é claro, pra você sentir raiva por ter saído para sabe-se lá onde. No topo, letras garrafais. Desaparecidos: eu e você. Vou sair pras ruas, vou sair pras luas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Objetivo? Nos encontrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Recompensa? Hm, podem levar todo o meu dinheiro se quiserem. Quanto à nós... Ah, nós vamos nos arrumar. Pra sair.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É que de tanto você sumir, eu acabei não me encontrando mais.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-80413609369711680892013-11-05T21:37:00.001-02:002013-11-05T21:40:10.381-02:00O tesão da coisa<div style="text-align: justify;">
Almoço de família é sempre um evento. Mesmo contando com uma certa parcela de previsibilidade, onde você acha que sabe exatamente como tudo irá acontecer, você na verdade nunca acaba acertando o que vai (de fato) acontecer. A exemplo, o almoço do último domingo. Antes mesmo de iniciarem o festival de boi no espeto, minha tia se levantou para anunciar que havia se demitido e que estava indo viajar.</div>
<div style="text-align: justify;">
No começo não entendi o porquê, ao certo, da colocação. Quero dizer, naquele exato momento. Mas aí percebi: a minha tia estava fazendo o que tento sempre fazer, ou o que muitos de nós têm tanto medo de colocar em prática. A história, no entanto, foi explicada por ela: ou continuava na mesmice por mais sabe-se lá quantos anos, ou dava um fim, pedia as contas e se mandava daqui. Bem, ela preferiu se mandar. O destino? Londres. Dezessete dias longe de todo mundo, de qualquer rosto conhecido, de qualquer <i>stress</i>. Minha tia escolheu ser feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
E a questão da coisa toda é essa. A vida se resume a autopermissões esporádicas, sempre existe um momento em que permitir-se passa do opcional ao obrigatório. Para todos a rotina é senso comum, mas isso não significa que ela precise ter um sentido negativo. É preciso ter vontade e prazer de se fazer, dia a dia, algo que agrade. Seja o trabalho em si, seja o trabalho em paralelo que um dia vai ganhar peso e se tornar algo sério. É preciso sentir tesão pela coisa. Jogar a papelada toda pro alto, burlar um atestado médico uma vez na vida, atirar o despertador na parede - tudo muito bom, tudo necessário.</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha tia estava infeliz. Vez ou outra, todos nós estamos. Ela abriu, enfim, a gaiola para qualquer nova possibilidade, para qualquer novo "amanhã" que venha a se tornar "diariamente". Pude ver nos olhos dela um misto de medo com "até que enfim". Nem sempre é hora para se dar ao luxo de dizer tchau e nunca mais voltar para aquela mesa de trabalho que te atura por mais tempo que deveria. Mas sempre, sempre mesmo, acaba existindo um domingo para se pensar no dia seguinte.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, com ele, um almoço de família. </div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-56261095520445420352013-10-13T22:41:00.001-03:002013-10-13T22:41:13.060-03:00Escova de dentes solteira procura<div style="text-align: justify;">
Foram muitos os meses em que procurei um par para a minha escova de dentes. Tudo bem que ela já não estava muitíssimo bem conservada - as suas cerdas há tempos haviam deixado a maciez de lado -, mas a minha escova azul merecia uma companhia para o seu pote de porcelana branca em cima da pia. Afinal de contas, ninguém merece viver sozinho. Nem mesmo as escovas de dentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca quis demais: nada de uma Colgate Master Plus 360º com cerdas coloridas, extrafinas e com um preço absurdo. Escova serve para brigar com os restos de pipoca, tem uma vida útil deveras curta, merece ser trocada de três em três meses. Então, naquele momento, o que eu queria era uma escova simples, discretinha. Cheguei até a levar a minha para o supermercado, fizemos a ronda na sessão de higiene, mas nada. Tudo muito, tudo demais. Não se fazem escovas de dentes como antigamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ficamos só. Eu e a minha escova. A singularidade no pote de porcelana sempre representou muito mais do que a minha vidinha-de-uma-só-pessoa. Ter só uma escova de dentes no banheiro de casa significa solidão. E, para falar bem a verdade, todo mundo quer encontrar o par para a sua escova.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis que chega, de mansinho, uma companhia que nem de longe esperava. No fundo do carrinho de compras, perto do detergente, lá estava ela: uma escova verde. Simples, bonita, o suficiente. Chegando em casa, apresentei para a dona de meus dentes a sua nova companhia. Na verdade, coloquei-a como quem não quer nada junto à minha, e então ambas passaram a dividir o pote de porcelana. Foi, no começo, um encontro meio que às escuras (eu desligava a luz do banheiro para deixá-las a sós). Aos poucos elas foram de conhecendo, e certo dia chegaram até a se cumprimentar - entrei no banheiro e as peguei no flagra, uma colada a outra, em um beijo discretamente quieto. </div>
<div style="text-align: justify;">
Atrelado a isso, enfim, minha cama também recebeu visita. Afinal de contas, ninguém merece viver sozinho. Nem mesmo as escovas de dentes.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-84028671976188392872013-10-10T23:51:00.002-03:002013-10-10T23:52:18.386-03:00Meu pseudonamorado gay<div style="text-align: justify;">
Novembro. Estávamos no início da nossa coisa. Coisa porque não era namoro, coisa porque não era ficada. Era coisa. Coisa formada por dois indivíduos: eu e o Juan Rodrigues. Juan Rodrigues e eu (tem quem diz que o burro vai na frente). Para mim, naquele momento, ele até que era legal: usava uns coturnos diferentões, pintava os olhos com pincel e usava bandana na cabeça. Bons tempos. Hoje em dia paro e penso: por que diabos eu coisei (para não dizer namorei/fiquei/afins) com um gótico axézeiro?</div>
<div style="text-align: justify;">
Não que ele gostasse de axé. O problema era a bandana. Na verdade, Juan Rodrigues curtia mesmo um rock pesado, daqueles que misturam gritos à gritos e resultam em mais gritos ainda. Eu, em contrapartida, nunca vi música naquilo mesmo. Quando entrei no seu apartamento pela primeira vez - um misto quente imobiliário na zona sul -, não soube de cara no que eu estava me metendo. Os pôsteres dos caras do KISS (desculpem-me se houver outra banda que também pinta o rosto, porque aqueles caras estavam assim, então eu estou chutando que era o KISS), os CD's das bandas desconhecidas, um urubu empalhado no meio do quarto... Um urubu empalhado no meio do quarto(!!!) Será que era para unir o seu lado gótico ao clima de cemitério?</div>
<div style="text-align: justify;">
No fim de tudo, eu me fodi. Juan Rodrigues deixou de ser o cara-misterioso-que-sentava-perto-da-janela-durante-a-aula-de-Psicologia-da-Infância para dar espaço ao cara-que-pintava-o-olho-mais-do-que-eu (ele até roubou o meu lápis). Acho que ele sente falta dos meus peitos, e só. Ou talvez do meu batom vermelho que combinava com suas camisetas de banda. Já eu... Bem, eu fiquei aqui. Na mesma. Parada no outro extremo da sala de aula, procurando outro cara para me ferrar. Rotina feminina é assim - a gente tá sempre em busca de um bom canalha pra amar, acabar e depois sair contando.</div>
<br />
OBS: Juan Rodrigues me procurou de novo semana passada.<br />
OBS 2: Ele queria saber a marca do meu lápis de olho.<br />
<br />
(Psicografado por qualquer indício feminino que resolveu visitar meu íntimo essa noite)PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-13680833752034450762013-09-08T20:17:00.001-03:002013-09-08T20:17:05.146-03:00Suelen Mapelli<div style="text-align: justify;">
Eu e o meu pai costumávamos andar de carro todas as manhãs. Bem... Eu, o meu pai e o rádio. A vista da BR-116 logo depois das 7 sempre foi quase a mesma (salvo os dias de chuva): dois sentidos, três vias e um cruzamento. Bem cedo tem quem vá para o trabalho, tem quem vá para a Universidade, ou também quem só saia de casa para levar o filho na escola. Nem para todos a trilha sonora é a mesma - creio que alguns se restringem ao <i>tic tac</i> inaudível da própria vida. Para mim (e para o meu pai), entretanto, a voz de bom dia era sempre da Suelen.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não me acorde assim, Suelen! - eu pensava diariamente enquanto escutava a sua narrativa acerca dos assassinatos, assaltos, ou qualquer "ato ou alto" da cidade. "Dois homens suspeitos foram apreendidos na madrugada desta quarta-feira pela Brigada Militar. Um veículo suspeito foi encontrado nas redondezas do bairro Kayser na última madrugada." A tragédia é sempre a mesma, só muda de rua. Nunca dei, por isso mesmo, muita importância para a tal repórter que embalava o começo das minhas manhãs. Porém, agora, eu sinto certa falta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto falta pois troquei de emprego. Mudei de rumo a mando do destino, mesmo não sabendo a sua forma e se deveria tratá-lo por esse nome mesmo. Já faz duas semanas que algumas coisas ganharam nova textura, e ouso dizer que todas as <i>mono</i> se transformaram em <i>poli</i> - principalmente a <i>cromia</i>. Enquanto isso, estou me dedicando, edificando o prédio mais alto que já me propus a construir (um daqueles que nem mesmo conseguimos ver o topo). Contudo, houve uma quebra. De sentido, de caminho, de planos. A rota agora é outra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por conta do Seu Destino (alguém tem o seu endereço, por favor?), que recortou os meus mapas e conectou vias transversais a fim de sabe-se-lá-o-quê, os meus "dias de rádio" agora chamo de "dias de tevê". Não ouço mais a repórter, mas agora eu a vejo. Na verdade, vejo o que ela vê. Ganhei, digamos, certo tempo para ver os dias por dentre uma janela emoldurada pelos meus próprios olhos. Vejo tudo, vejo o mundo, vejo o que antes só ouvia. Prazer, dia a dia: eu sou o seu novo telespectador.</div>
<div style="text-align: justify;">
Até quando, não sei. Amanhã mesmo pode ser dia de mudança. Pode ser dia de coisa nova. Pode ser dia de qualquer coisa. Dentre tantas dúvidas que prefiro manter em volume baixo, uma só pergunta se destaca: Suelen Mapelli, como vai você?</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-9896089213679879912013-08-13T21:00:00.001-03:002013-08-13T21:00:19.831-03:00Um daqueles dias<div style="text-align: justify;">
Hoje é só mais um daqueles dias em que nada se move. A meu ver, o mundo freou por estar cansado da gente. Tudo então está quieto, tudo acabou se tornando refém. Do tempo, dos tempos. De si mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lá fora o céu não ganha cor nenhuma, a chuva martela sobre tudo aquilo que está estático - e a essa hora podemos contabilizar aqui as pessoas também. As árvores são as únicas que dançam, obrigadas por um vento carrasco que resolveu castigar todos nós. No relógio os ponteiros não passam, o telefone não toca, a caneta escreve só isto e <i>aquela pessoa</i> não aparece para salvar o dia. Nos livros as linhas estão embaralhadas, mas os olhos são os reais culpados: pendem para baixo, estão em desordem, enxergam o pouco-tão-pouco que, mesmo sendo pouco, alguém esqueceu de arrumar. Quanta bagunça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nos ares, os ares são artificiais. Aquecedores são mantas invisíveis para proteger os desprotegidos. Nos pés, o piso é frio. Cada passo no chão despido despe a alma que no dia de hoje se despede - Despedida! Como não falar dela em um dia como hoje, quando todos estão indo embora sem nem mesmo terem chegado? Por favor, fiquem um pouco mais. O café vai voltar a pingar na xícara quando o mundo estiver de volta ao normal. Ah... O normal. Qual é a engrenagem que mantém o mundo preso naquilo que agora chamo de diferente? Pois eu deveria gostar dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não gosto. Não <i>desse</i> diferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não gosto porque hoje ninguém apareceu a não ser a chuva e o que imperou foi o sono, sem falar da tristeza pela ausência que nunca esteve tão presente - quanta bondade a sua, fiel companheira. A trilha sonora hoje foi o tique-taque, um desfalque de meu próprio piripaque por estar vivendo bem assim. Hoje foi um daqueles dias em que encontrei nas ruas, encrostada em paredes nuas, esta falta de não-sei-o-que-lá. Convivi hoje, então, com uma "terça-feia", tão feia que nem quis ver pela frente. Não quis porque no dia de hoje, simplesmente, todas as bocas ficaram mudas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda bem que me resta a escrita.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-66990296139707281002013-08-12T22:47:00.003-03:002013-08-12T22:47:48.573-03:00Entre caixas e caixões<div style="text-align: justify;">
Ela tirou do armário uma grande caixa que guardava uma bota da cor preta. Abriu a tampa, analisou o papel seda que envolvia o forte cheiro do couro impregnado no sapato. Pensou, avaliando consigo mesma o tamanho da caixa. Era grande, talvez 80 centímetros fossem demais para o que ela precisasse. Voltou a olhar para o armário. Haviam várias caixas menores ali que poderiam servir. Entre caixas e caixões, ela optou por uma caixinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
E nem era tão caixinha assim, pois dentro dela cabia um par de sandálias horríveis que nunca antes havia usado - tinha sido presente <i>dele</i>, é claro. Jogou então a caixa em cima de sua cama, abriu a tampa e encarou aquele quadrado de papelão como se esperasse por uma resposta. Em silêncio, ela soube que dali não sairia mais nada. Nem tinha o que sair. Então, como que dizendo para si "eu realmente preciso fazer isso", ela começou: jogou uma montoeira de coisas ali dentro. Era como se a caixa ansiasse em receber qualquer donativo de uma partida súbita. Dentre os itens escolhidos, cuidou para não resvalar e deixar a si mesma cair lá dentro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro foi a escova de dentes que ela havia comprado especialmente para ele usar nas noites em que dormisse na sua casa. Era amarela, e sem qualquer esforço ela lembrava que não havia sido uma boa escolha: as cerdas eram duras demais. E, sim, ela já havia escovado os dentes com a escova dele, óbvio - início de paixonite, sabe como é. Logo depois ela arremessou um CD do Legião Urbana, e por cinco ou dez minutos ficou pedindo perdão para Renato Russo, que naquelas horas de nada tinha a ver com a história, por mais que tivesse embalado alguns (des)encontros do casal. Outros itens acabaram por cair na caixa de sapatos sem tanta dificuldade: o primeiro anel; a carta exageradamente inflamada que ela escrevera para nunca entregar; o botão da calça jeans que ela arrancou quando o conheceu por completo pela primeira vez. "Tudo tralha", pensou.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tampou a caixa depois de um par de horas. Lacrou com fita adesiva e uma trouxinha de lágrimas que acabou despencando daqueles olhos de abandono. Bem ao certo não sabia o que fazer, porém ao mesmo passo sabia o que não deveria fazer: devolver tudo aquilo. A caixa guardava memórias suas, momentos escolhidos e salvos unicamente por ela. E, bem, ela sabia que o que menos precisava era de um reencontro. Entre caixas e caixões, ela escolheu o último e preferiu de uma vez enterrá-lo.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-48164954789558608702013-08-07T21:55:00.002-03:002013-08-07T22:05:43.694-03:00Toda mulher<div style="text-align: justify;">
Toda mulher tem que cortar o cabelo bem curto em algum momento da sua vida. Tem de haver um desprendimento, uma renovação, um bota fora. Toda mulher tem que se permitir um penteado diferente, uma cor ousada – do vermelho fogo ao loiro desbotado –, uma espécie de licença poética mesmo que seja apenas capilar: "hoje eu me permiti ser outra pessoa".</div>
<div style="text-align: justify;">
Toda mulher precisa de um disfarce que só ela saiba que existe. Pode ser de mulher fatal, dominadora, compulsiva ou até mesmo controladora - o personagem só aparece quando ela quiser. Toda mulher, aliás, deve precisar de uma outra mulher, seja irmã, mãe, prima ou até mesmo empregada doméstica. Toda mulher precisa de vários "amores da minha vida", mas só um anel de compromisso. Toda mulher deveria experimentar um esmalte diferente a cada nova ida à manicure, fugir do pretinho básico de vez em quando e beijar quem tiver vontade, sem precisar imaginar se o cara é um sapo a ponto de virar príncipe ou não.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, toda mulher tem que ter em sua vida um homem cafajeste. Mas que ele não dure muito, por favor! Que todas tenham um "homem caminhão de mudança", daqueles que recolhe os espaços vagos e inúteis e leva embora - junto consigo, é claro. Toda mulher tem que conviver também com um homem de bolso vazio, pois essa é uma boa forma de se valorizar o próprio dinheiro (afinal, depender de homem ninguém merece). Também é aconselhável que toda mulher tenha um romance com um cara mais novo, um jovenzinho de 18 quando ela tiver 30, ou um de 20 e poucos quando ela já estiver na casa dos 40. Nisso pode existir um resgate, e até mesmo uma confirmação de que nunca é tarde para se fazer as tais "coisas dos jovens". Afinal, ser mulher é ser atemporal.<br />
Toda mulher deve ir dormir uma vez na vida sem se preocupar com a louça suja na pia da cozinha e no dia seguinte sair de casa sem arrumar a cama. Toda mulher tem de arriscar uma hora ou outra - seja investindo grana em um negócio próprio ou apenas mudando o pão integral pelo francês uma só vez na semana. Falando nisso, toda mulher deveria esquecer a palavra "dieta" semana sim, semana não. Dessa forma dosadora surge um perfeito equilíbrio, não?<br />
Toda mulher deve esperar flores. Toda mulher deve fazer algo para que possa esperar flores.<br />
Toda mulher deve sair para se divertir com as amigas, toda mulher tem de ter um amigo gay. Toda mulher tem que ser mais corajosa que o "homem da casa", toda mulher tem direito de não gostar de rosa e filme de romance. Toda mulher tem "aqueles dias", então, por favor, afaste-se! Toda mulher tem um sapato a mais no guarda-roupa, um batom de cada tom e alguma peça no armário na cor nude (e nem tente imaginar do que isso se trata). Toda mulher deve querer alguém, mas toda mulher tem que lembrar que é autossuficiente e que Adão foi mero reprodutor sexual figurante.<br />
Toda mulher, enfim, tem que se permitir, se libertar, tentar algo de diferente. E isso só começa com o principal: em algum momento da sua vida, toda mulher deveria cortar o cabelo bem curto.<br />
E olha que eu nem sou mulher para estar afirmando.</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-11783573811416307912013-07-21T21:46:00.002-03:002013-07-21T21:52:48.701-03:00Pertença<div style="text-align: justify;">
No céu, um rasgo discreto salvava o dia de uma palidez bem-vinda. Como se quisesse mostrar presença, o sol se espremia e ultrapassava o rombo celeste no intuito de alcançar o topo dos montes que cercavam a estrada de fim de domingo. Naufragados noutro mundo que não aquele, meus pensamentos tentavam dar nome às emoções. Em meio a um crepúsculo não planejado na volta para casa, eu pertencia.</div>
<div style="text-align: justify;">
No som, Maria Bethânia estava fazendo pirraça com o meu destino. Travestida de poetisa, seus versos me serviam: "Olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim". Sim... Olho, Maria, eu olho. Eu olhei. E, no banco de trás, o que encontrei foram os meus dedos fazendo pouso forçado noutra mão, achegando-se e enlaçando noutros dedos. Trocaram-se sorrisos após o pouso de emergência, trocaram-se certezas de um já conhecido sentimento, porém ainda sem nome. Como colônia fina sem embalagem, mas que sabe exatamente que pertence à ala da perfumaria. É, o meu lugar é aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
No sul, o vento frio ditava o tom do nosso romance regado à chocolate mentolado e por vezes cítrico. Mas que graça é essa questão que me sequestrou o peito e sufocou-o com uma nova descoberta, então. Quem és tu, pertença? Pois bem, agora sei, e muito bem lhes explico: Pertencer é encontrar-se. É, diferente do que se pensa, estar em movimento. A autêntica pertença é aquela que está tão enraizada que, mesmo quando o velocímetro marca 67 quilômetros por hora, ela continua a existir. É uma pertença nomadista, formada por pequenos até logo, até amanhã. Mas é uma pertença sempre reencontrada. </div>
<div style="text-align: justify;">
No céu, no som e no sul, pertencer é, enfim, - parafraseando novamente Bethânia - viver a vida só de amor.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-28930695146539394452013-07-17T17:02:00.003-03:002013-07-17T17:02:45.894-03:00A autossuficiência dos mais fracos<div style="text-align: justify;">
Noite passada a luz da geladeira queimou. Não que isso seja lá um grande acontecimento, mas a gente só percebe a importância das pequenas coisas (e isso inclui a bendita luz da geladeira) quando elas vão embora (ou, no caso, queimam). Em meio a escuridão que inundou meu ketchup e o resto de pizza, quase liguei para um técnico, e, depois, também pensei em um eletricista, pois eu não fazia ideia de quem deveria se responsabilizar em uma hora como aquela. Digo, não existe profissão para isso, ninguém se gradua para trocar a luz da geladeira. Na dúvida, acabei chamando o meu pai.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje pela manhã acordei melhor: a luz da geladeira estava consertada. Mas pai! Não precisava ter pressa - até porque durante o dia aquela luzinha é tão inútil. Entretanto, agradeci o favor e me lembrei de que, enquanto ele realizava o conserto, eu estava assistindo o último episódio de Dexter. Lá longe, no quarto. Onde quero chegar: eu não acompanhei o processo todo para saber como se conserta uma luz de geladeira. E se ela queimar outra vez?!</div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto o personagem da série de tevê assassinava um par de sujeitos, virei o rosto para o outro lado da cama. Vazia. Maldita insuficiência que me faz pensar que cabe mais alguém - sempre cabe. Não, não, logo pensei. Chega disso! É hora de ser autossuficiente. Se o objetivo é morar sozinho, pelo menos uma luz de geladeira eu devo saber consertar. Se todos os dias não podem ser dia dos namorados, que ao menos nos outros dias eu saiba me portar bem comigo mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Comigo mesmo? Mas eu nunca fui muito com a minha cara!</div>
<div style="text-align: justify;">
Fui para o banheiro, dei uma rápida olhada no espelho. Oi, muito prazer. Blergh, tchau. A sua cara eu vejo todo dia e já enjoei. Sentei na frente do computador, então. Rolei os olhos pelos nomes e mais nomes de pessoas que poderiam me ajudar - dentre tantas, convenhamos, alguma haveria de me ensinar a ser autossuficiente. Mas, ei! Espera. Ser autossuficiente a partir de um conselho? Quer dizer, a partir da ajuda de um segundo sujeito? Isso não é autossuficiência coisa nenhuma, para começo de conversa!</div>
<div style="text-align: justify;">
Voltei para a cama e atraquei minhas tentativas. Tipo, deixa pra lá. Talvez isso nem mesmo seja um índice de auto-insuficiência (se essa palavra existir). Quem sabe isso tudo não passa de um desdobramento da minha carência. Ah, sim, porque ela existe pra valer. Sabe, talvez fosse só vontade de ver o meu pai e talvez fosse só saudade de me sentir completo com o meu amor de uma vida toda na mesma cama que eu. Até porque eu já sei fazer a minha própria comida, pago as minhas próprias contas e também lido com as minhas próprias consequências. Qual é, eu sou um "autorazoável" de primeira!</div>
<div style="text-align: justify;">
Então, da próxima vez que a luz da geladeira queimar, eu já sei quem chamar.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Alô, pai?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Calma!</div>
<div style="text-align: justify;">
É só saudade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-29004461498913375082013-06-27T17:57:00.003-03:002013-06-27T17:57:39.199-03:00Sobre reflexos e atropelamentos<div style="text-align: justify;">
Quis não acreditar no reflexo que o espelho me mostrava, mas, escondido em algum quarto desalugado de mim mesmo (o qual quase nunca ouso entrar), havia a certeza de que um espelho nunca mente. Então lá estava o meu reflexo banhado de verdades absolutas – e elas eram resumidas em um par de olhos pesados, olheiras significativas e lábios rachados. Deus!, quando foi que eu envelheci tanto e tão rápido? Quantos anos eu tenho mesmo? Ah, 21. Só 21. Vinte-e-um (bem assim, por extenso, para enfatizar e dramatizar o processo todo, caso contrário não seria eu).</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando penso nesse carma que é envelhecer, logo lembro do “Discurso para Aniversariantes” que o meu pai me ensinou cedo e quase que diariamente coloco em prática. Sabe, aquela chatice toda de chegar o aniversário da sua tia, por exemplo, e, depois de desejar parabéns, você soltar um “tá fazendo 50 mas com corpinho de 22, hein!”. Isso sempre funciona. Acontece que, no meu caso, a situação é outra: estou fazendo 22 e o corpinho é de 50.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não que esse seja o caso, problema, <i>causa mortis </i>da coisa toda. Mesmo. A droga real é viver atropelando tudo – e olha que o meu pai (de novo ele) ainda nem me libera o carro. Eu ando atropelando algumas amizades por pura falta de tempo, uma vez que estou alimentando aquela ânsia de terminar a faculdade amanhã mesmo. Atropelo o convívio familiar essencialmente necessário por culpa da rotina e encontro a senhora minha mãe no café da manhã e na hora de dormir. Bom dia, mãe. Boa noite, mãe. Fim de semana já é quase regalia, luxo, recompensa, ostentação. Mas, nisso tudo, eu ando atropelando a mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis que o espelho me pergunta quando foi a última vez que eu tomei uma xícara grande de chá e li um livro sem me preocupar com mais nada. Ele quer saber qual foi o domingo que eu dormi sem hora para acordar, em quantas folhas secas eu pisei no último mês (como ele sabe desse meu vício?), e quando eu andei de bicicleta pela última vez – nessa hora eu dou risada; não sei nem andar de bicicleta. Vai ver eu não tive tempo para aprender também.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estou deslizando, escorrendo, escapando de mim mesmo. Eu estou perdendo em mim muito o que há – ou deveria haver – em mim. Eu não estou me aproveitando - e, se há alguém que possa se aproveitar de mim, esse alguém sou eu mesmo. A solução talvez até seja deixar pra lá - enfiar a mão no saco e separar o que precisa ou não receber uma preocupação maior. E a questão final é exatamente esta: preocupação. É a preocupação que envelhece, é ela quem toma meu tempo. Então, a partir de agora, decidi que eu vou é Narcisar. No sentido puro, é claro.<br />
Eu vou olhar muito mais para o espelho. Mais do que isso, eu vou olhar mais para mim. </div>
<div>
<br /></div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-50946357149133758992013-06-19T22:46:00.001-03:002013-06-19T22:51:51.529-03:00Bom dia, Geração Z<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="text-align: justify;">Quando jurei à bandeira, no apogeu dos meus 18 anos, prometi servir ao
meu País em quaisquer que fossem as ocasiões. Seguindo o Artigo 217, jurei
“estar sempre pronto a cumprir com as minhas obrigações militares, inclusive a
de atender a convocações de emergência”. Naqueles dias, não imaginei que viria a
colocar em prática os meus votos. Pensei, meio desnorteado devido à idade: “no
Brasil não tem guerra, não vamos entrar em conflito com ninguém”. Recordando
agora (já se passaram três anos), acho engraçado. Falo isso porque eu não cheguei a pensar que o Brasil pudesse entrar em conflito consigo mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
De fato, eu estava errado: no Brasil tem guerra sim. Lutas diárias que
vão dos causos ao caos. Seja a violência doméstica, os inúmeros crimes hediondos, as ocorrências de estupro - são apenas exemplos de situações recorrentes ao redor do mundo. Não são problemas exclusivos deste País, são problemas que envolvem a psicopatologia de qualquer indivíduo. Mas, então, qual é o problema do Brasil? O que pode haver de errado em uma terra tropical, onde tsunami não marca presença e o povo é feliz com sua caipirinha na mão e um sambinha - ou funk, caso preferir - no pé?</div>
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Cresci imerso em uma sociedade que só estende a bandeira verde e amarela quando chega a Copa, e na verdade não se pode culpar o povo por isso. Há um certo orgulho massificado quanto ao futebol porque, infelizmente, trata-se de um dos únicos expoentes positivos por aqui. Mas não existe Nação se existir apenas um motivo para orgulho. A Copa não é o problema, até porque, o problema são os outros problemas - que são maiores. A Copa é uma realidade inventada. Existe um déficit na balança comercial do País quanto à educação e saúde, porém existe um superávit quanto à construção destes estádios de outro mundo. Difícil entender. Brasil, Brasil. Quem tu estás querendo impressionar?<br />
Creio que podemos resumir a Pátria amada em uma palavra: delay. O problema do nosso País é, sim, o delay. E, para aqueles que desconhecem o termo, já explico: delay é retardo, delay é atraso. É deixar para amanhã. Aposto neste ponto de vista porque nós, Brasileiros, fomos acostumados a aceitar a máxima dos "cinco minutinhos". Nós aceitamos uma procrastinação e nós procrastinamos. No Brasil tudo vai - vai ser melhor, vai ir pra frente, vai mudar. No Brasil nada vem. E aí aceitamos a desculpa de que o nosso único orgulho poderia gerar transporte melhor, integração sócio-cultural e desenvolvimento sócio-econômico a partir do turismo. Acontece que o turista ficará por aqui no máximo 15 dias, e eu pretendo ficar nesse chão por um bom tempo. Depois das praias e da visita ao Cristo Redentor, eu ainda estarei aqui. Eu sei o que precisa ser mudado.<br />
Quero convergir na ideia de que a política do pão e circo ainda é aceita por pura necessidade - e irá continuar existindo enquanto trabalharmos para consumir. Sem críticas e aprofundamentos ao consumismo propriamente dito, a ideia é que, enquanto eu trabalho e faço bico para vencer as contas do mês (das quais grande parte se traduzem em impostos), eu não enxergo quem comanda o meu País. Eu vivo para esperar o fim de semana, eu vivo para esperar as férias do final do ano (quando, muitas vezes, eu vou preferir ir para fora do País - por que será?). Quase não tendo tempo para cuidar de mim, não sobra tempo para olhar quem está cuidando de nós. Tem, aliás, alguém cuidando de nós?</div>
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Existem causas, existem porquês. Mas existem muitos de nós. A sociedade vestida de exército é o maior reflexo de que, por mais variadas que sejam as indignações, cada uma delas pode (e tem de) ser revista. O meu protesto é pela cegueira generalizada provocada por um evento "cultural" que atropela o bem estar humano - as necessidades básicas de saúde, educação, transporte, moradia e alimentação não estão sendo cumpridas. A minha revolta é pelas 13 milhões de pessoas que passam fome diariamente e que certamente sabem que, não muitos quilômetros em frente, muito foi gasto para se impressionar o mundo. Mas o que se faz para impressionar o próprio povo? Falta lembrar que, se este gringo que vier assistir ao "maior espetáculo do mundo" passar mal (excesso de churrasquinho-de-gato ou cerveja podem ocasionar o mal estar), o mesmo gringo será levado diretamente de um estádio colossal para um hospital que não recebe investimento adequado.<br />
Mas, bem, está só é a minha causa. Qual é a sua? Não é desculpa alegar que se reclama por muito, o que faz com que tudo transforme-se em nada. O foco destes manifestos está claro: mudança. Seja em qual for o setor escolhido por cada um dos manifestantes. O despertador tocou (enfim) e é hora de acordar. Bom dia, Geração Z.
Chegou a nossa hora. Vamos desafogar os dedos destas teclas e afogá-los nos potes
de tinta. Pinta a cara dele, pinta a cara dela. Pinta o Brasil que tu quer ver
e espera ser escutado. Assim como no pífio transporte público do qual reivindicamos, sabe-se que o ônibus demora, mas ele chega. A mudança também. De antemão fica o aviso: quando chegar o 7 de setembro, as ruas também têm de estar lotadas com essa juventude esperançosa que se cria agora. Talvez (ainda) não saiamos para demonstrar um orgulho absoluto perante a uma Pátria que, lamentavelmente, ainda se encontra defasada, porém deve-se estar presente para mostrar que, nessa luta, quem vencerá será a insistência.</div>
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PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-17261947045739036312013-06-17T11:31:00.000-03:002013-06-17T11:32:48.948-03:00Carta à Porto Alegre<br />
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Estou tentando acreditar que foi o clima. Às vezes procuro culpar a minha visitação extremamente esporádica dos últimos tempos. Acontece que havia uma neblina baixa, o céu estava cinza e o vento era tímido. Os carros que passavam eu podia contar com um palmo aberto, e as pessoas, então, eu nem mesmo via. Nas tuas ruas eu me senti triste. Logo eu, menino do interior que, por puro clichê, deveria achar tudo isso "coisa de outro mundo". Mas não. Em um domingo naufragado, amiga Porto Alegre, quis eu saber quem tinha te abandonado.<br />
Da janela do ônibus, vi prédios de fachada tingida pelos marginais e ruas esquecidas - um lúgubre sinônimo para sujas. Não havia nenhum vestígio do sol que pousara por ali no dia anterior, e as esquinas contavam as horas para se esconderem dentro da noite. Lembrei das pretensões e dos sonhos, das vontades de arquitetar uma vidinha que seria muito melhor dentro de ti, Porto Alegre. Eis que lembro de quantas pessoas já tirastes de mim e aí passei a te odiar.</div>
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Como ousas, querida Capital? Não volte a me tratar assim! Este coração de guri serrano se comprimiu ao te ver em monocromia, desolada, aborrecida como adolescente que não pôde sair de casa. Esse coração aqui sentiu pena por não encontrar-te boa demais como sempre, por ver as nuvens carregadas tampando o teu sol no gaúcho céu anil, todas elas doidas para limparem esse teu dia triste. Então, seja complacente: pare de raptar quem eu amo.</div>
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Tem dó de mim, Porto Alegre! Assim como tive dó de você ao encontrar a Protásio Alves chorando óleo de motor. Peço, por favor, para que devolvas quem tu me tirastes, e não te atrevas a me assaltar assim outra vez. Não ofereça tantas possibilidades, não seja grande demais, não pareça tentadora. Mas, também, não exijas muito de si mesma - gostar de ti já é natural.<br />
Por fim, deixarei esta carta em um banco qualquer da Redenção, ou famoso Parque Farroupilha. Debaixo de uma copa de árvores, ao lado do gaiteiro que canta para todos o que para todos não passa de uma obviedade avassaladora: "Porto Alegre é longe". </div>
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PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-10158847547234208672013-06-04T22:56:00.000-03:002013-06-04T22:56:16.108-03:00Meia luz <div style="text-align: justify;">
Rendo-me aos grandes poetas neste pequeno palavrear.</div>
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Eis que escrevo sem muito pensar, sem saber exatamente o que irei dizer na linha seguinte. Perdoem-me então pela desconstrução destes parágrafos, pela falta de conectivos.</div>
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É que hoje eu queria falar da meia luz.</div>
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Hoje não!</div>
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Desde muito.</div>
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Acontece que venho colecionando instantes de minha amada que preciso urgentemente exponenciar. Então queria dizer eu, antes de dormir, quão penetrável fica a pele dela quando posta à meia luz. </div>
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Seja naquele teatro de muitos atores, quando seu perfil emergiu da escuridão, banhado pelos pontos obtusos de uma luz que, mesmo não devendo, a atingia. Senti ciúme da luz.</div>
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Que dizer então dos ombros dela, ah, que ombros! Inundados de luz amarelada, mas sempre meia. Meia luz. Ela na ponta da cabeceira, eu tentando domar a ânsia de domá-la para comunicar: meu bem, estou te amando feito louco.</div>
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Resguardei o óbvio.</div>
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Por fim, o vértice de meu desespero: minha amada refletiu a tela do cinema. Pele sulfite que abrigou uma hora e meia de convergência sentimental. </div>
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Não vi o filme, mas vi seus traços. Vi vestígios de linhas sombreadas que desciam de sua testa, resvalavam pelo nariz e mergulhavam na boca. Vi legendas naqueles lábios meus, vi um bando de atores nos olhos que riam - veja só, olhos que riam! (Espero que compreendam quando enfatizo).</div>
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Na incerteza da escuridão, era ela quem me separava de uma cegueira completa. Quando me capturou, que dó!, a sua boca abriu passagem, curvou-se para cima e surgiu na meia luz o diagnóstico para meu coração festeiro. Acreditem-me os sábios, os cultos, os doutrinados, eruditos e instruídos, ou apenas os loucos de amor: é dela o sorriso mais lindo dos mundos.</div>
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Agora, exatamente agora, como que por catástrofe do destino que me põe a recordar, alguém toca piano no andar de cima. Não sei o nome da canção, não sei se foi Chopin ou Mozart quem a tornou famosa. Mas é lenta. É um som doce, escorregadio para as mãos do pianista. Parece flutuar. Assim como o fronte dela à meia luz - a única imagem que consigo visualizar sentado aqui, de olhos fechados, trilhado pelo pianista oculto.</div>
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Já no fim, perdoem-me os leitores por respingar amor em demasia nestas palavras. É que, antes de dormir, eu precisava falar de minha amada. </div>
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De minha amada na meia luz.</div>
PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-91681835955630494322013-05-30T00:23:00.002-03:002013-08-12T16:55:50.038-03:00Eu ainda<br />
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Depois de 30/60/90, apesar de não sermos cheque pré-datado de mercado, eu tenho bem marcado desde o dia em que passei a enlouquecer. Meu bem, lá vai! Tá aqui embaixo o relato, o pífio desabafo que eu acho que nada tem a ver. Porque, meu bem (repetindo), eu tô mesmo é louco. Louco de pedra. Louco de Pedro. De quebra, tá certo, confesso: tô louco por você.</div>
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Eu ainda penso algumas vezes antes de falar, e eu bem que tento disfarçar essa minha vontade de querer saber se você não me acha meio fora do comum. Eu admito que ainda pesquiso as músicas que você gosta e eu até anoto todas as notas só pra aprender e poder depois cantar pra você, como se fosse sem querer. Eu me questiono quase sempre se eu sempre devo te dar bom dia, se fazendo isso eu não vou criar uma rotina e você vai cansar de me ver. Eu ainda tenho medo de ser sempre igual e me tornar decoração no seu balcão, num porta-retrato tão cafona que ninguém vai perceber. Nem você.</div>
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Eu sei que eu sou meio chiclete, mas, se der, me promete e não esquece que não há eu sem você. Mesmo isso sendo clichê. Assim como não há segunda sem feira, domingo sem dormindo e sábado sem sabadar. Assim como não há Urano sem Netuno, professor sem aluno, uma garoa sem se molhar e uma música cujo refrão não seja só 'lá lá lá'.</div>
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Eu ainda passo muitos minutos, chega até a ser um insulto, decidindo que roupa eu vou vestir. Eu ainda receio e rezo: 'por favor, não me ache patético por qualquer frase que eu, por erro, deixar sair'. Eu ainda decoro de cor e salteado o cheiro que teu cheiro tem só pra lembrar e chorar e chorar e chorar cada vez que você não vem. E tristeza é o que mais tem quando eu estou sem. Você.</div>
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Eu ainda espero você depois do trabalho, e, ai, que trabalho! Te procurar na saída e não te achar. Acho que todo e qualquer funcionário me acha um otário por esperar sabe-se-o-que-lá.</div>
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Eu ainda almoço onde a gente almoçava na esperança vaga de a gente voltar a almoçar. Lá. A atendente já até tá descrente e sabe que na mesa não cabe o pedido que eu pedi e que ela não vai poder preparar. No menu teu nome ainda não consta, então eu saio e pago a conta, mesmo sem almoçar.</div>
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Eu ainda sou como aquelas garotas de 12 anos. Traçando e rabiscando o teu nome no canto direito da minha agenda. Tentando, tentando e tentando te alcançar. Te ligando antes, durante e depois do jantar. Como você está? Tá tudo bem? Me diz o que aconteceu. Ei, por que você não responde se aqui aparece que a minha mensagem você leu?</div>
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Para, tá tudo bem. Não aconteceu nada. Ontem a noite eu só quase pulei da sacada. Mas isso eu não vou te contar. Imagina só que sorte se você descobre que tá amando um louco que te ama feito louco, louco feito aqueles que se deve internar? Eu ainda acho que se você achar que eu devo me tratar por te amar, tudo bem, não faz mal. Amar tanto alguém assim nunca foi considerado normal.</div>
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Meus amigos ainda vomitam álcool enquanto eu vomito palavras que até ontem desconhecia. Esse bocado de pecados de um garoto apaixonado, relatados num pedaço de papel amassado enquanto você dormia. Preenchi lacunas com loucuras concretas na esperança incerta de, antes de surgir o dia, encontrar uma resposta a uma questão incompreendida: ei, meu bem, prosa rimada é poesia estendida?</div>
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PEDRO GUERRAhttp://www.blogger.com/profile/02826678846947314538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6367426981893234412.post-18660243288109928542013-04-30T23:50:00.004-03:002013-05-01T00:03:52.566-03:00Obrigado por não entender<div style="text-align: justify;">
Julieta estava em prantos. Aprisionava dentro de si uma tristeza que ninguém poderia imaginar que carregava consigo. Nos olhos, lágrimas de sal que pouco representavam a tristeza propriamente dita. O gosto das pequenas gotas era uma miscelânea de raiva e desespero sufocado.</div>
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Presa no quarto, Julieta não ousou abrir a porta. Quis correr para longe, mas o máximo que alcançou foi a lua. A lua que aguardava na beirada da sacada. De mãos atadas, bradou: 'Romeu, Romeu, onde estás, Romeu? Quisera que soubesse o vazio que preenche meu peito sofrido. Eles não entendem, Romeu!'.</div>
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Ali perto, salpicando pelas ruas tão rápido quanto brasa que foge do incêndio, estava o jovem Romeu. Este que, ao parar para escutar o despejo soturno de sua amada, não tardou em agir: escalou a parede de tijolos descascados e fez dos seus braços uma nova fortaleza para a moça. 'Julieta, minha amada, o meu desejo era dar-te toda a minha alegria, transpor meu sorriso para teus lábios, mas isto nem em beijo consigo. Então vou levar-te daqui.'</div>
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Fugiram num velho cavalo e chegaram ao meio do nada. Beijaram as estrelas, trocaram olhares apaixonados que deveriam ser o suficiente. 'Eles não entendem, Romeu', voltou ela a falar. 'Eles não entendem que lhe amo'.</div>
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Eis que Romeu sorriu.</div>
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Abriu os braços, gargalhou, deu voltas ao redor de si. E, vestido de noite, gritou para o enfim infinito daquele precipício: 'Obrigado! Obrigado por não entender!'</div>
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Ajoelhou-se e pegou na mão da amada. Cravou-lhe os lábios com vontade, mirou seus olhos e disparou: 'Casa-te comigo, Julieta. Mas casemo-nos na lua!'</div>
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Julieta soube. Julieta apenas soube. </div>
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E Romeu voltou a gritar: 'Que o amor seja para sempre isto: um punhado sem sentido que até o maior dos filósofos duvide. Que nenhum poeta saiba discorrer, que físico algum saiba exemplificar em números. Que sempre haja alguém contra, que nem todos sejam a favor. Assim, saberemos o seu valor. E, principalmente, o quanto vale a pena lutar por ele! Obrigado! Obrigado por não entender!'</div>
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A moça só conseguia rir.<br />
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Desde então, dizem que Romeu e Julieta se mataram. Mais: mataram-se por não haver espaço para tamanho amor aqui na Terra. Que mataram-se porque ninguém entendia e os aceitava.</div>
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Já eu, lhes digo: Romeu e Julieta foram para a lua se casar.</div>
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