14 abril 2013

Casa Vazia

Todos saíram. Foram viajar. Fiquei sozinho em casa, assim como o garotinho do Esqueceram de Mim - a nossa única diferença é que por aqui não vaga nenhuma comédia. De uma hora pra outra, o apartamento esvaziou. Pelas frestas esquecidas abertas, o que entra é um vento frio que nem mesmo foi convidado. Ainda posso escutar o som das rodinhas das malas deslizando pelo corredor. Não vão, não vão! Eu não quero ficar sozinho.
Sobrevivi alguns dias. No começo até que gostei - pus a música alta que quase nunca me permitem e chamei uma pizza toda só pra mim. Tudo do meu jeito. Esqueci o mundo lá fora, pensei só em mim. Parei pra me questionar se aquilo tudo era o meu futuro - alguns metros quadrados só meus. Gostei da ideia no primeiro dia, acho que um pouco menos no segundo. No terceiro, comecei a esperar por pessoas que nunca chegavam. 
Hoje eu pensei em sair. Que tal um cinema?, propôs o meu subconsciente. Dei risada. Que sentido faz sair de casa pra ver um bocado de gente rindo reunida? Eu não quero ser o único reunido comigo mesmo. Eis que decidi aprofundar a minha ideia de solidão forçada: vesti o meu pior abrigo de moletom. Passei pelo espelho e, Deus me livre!, ali vi um mendigo. Bigode por fazer e cabelo raspado que nunca cresce (minha tia até me confundiu com marginal, que tal?). 
A explicação que dei a mim mesmo foi a de que o domingo não merecia a minha preocupação. Quanta desculpa. Então eu deitei na cama, me escondi debaixo dos cobertores e esperei que me encontrassem. Alguém me chama pra sair, alguém liga pra perguntar como eu tô me virando. Mas não. Ninguém procura debaixo de um bocado de cobertas. Ninguém tem como adivinhar que eu tô querendo sair dessa casa vazia, ou que eu agora mesmo eu tô abrindo as janelas na esperança de que, de algum jeito, ela fique cheia.
Pensei em ligar. Eu precisava de ajuda. Quis gritar pro mundo: me tirem daqui!, mas depois lembrei que ninguém tem nada a ver com a minha solidão. Nem com o meu medo. Medo de ficar sozinho, de ser realmente esquecido, de não fazer diferença ou de não ser importante. Então, no meio disso tudo, abri a porta para os pensamentos depressivos, me auto coloquei no limbo depois de não ter com quem conversar. No fim, tentei acreditar que a solidão é a minha melhor companhia.

Agora já é noite. Escuto o estômago roncar, mas não vou deixar essa cama. Escuto o silêncio, mas quero baixar o seu volume. Eu sou o cara triste que amanhã já vai estar bem de novo. Tudo passa, até a solidão. Porém, no momento, a minha tristeza nem o melhor dos poetas conseguiria definir.

Um comentário:

  1. tipo isso, só que a casa está cheia e amanhã não vai estar bem.
    lindo texto, aliás.

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