14 novembro 2011

Debaixo da tua cama

Meu olhar rígido e os ossos repousados. O sol que procurava adentrar pelas bordas da janela fechada. A respiração cansada, cabelos em desordem. Tudo culpa tua. Um relógio que apontava as horas quando ainda era cedo demais. Porém queria eu que os minutos passassem? Não, definitivamente. Então sussurrei, bem baixo, apenas para o lado de dentro: Acorde, por favor. Os últimos doze mil e seiscentos segundos sem ouvir tua voz já havia tomado tanto de mim... Tanto que estava lá, em silêncio. Mudo, imóvel, estupidamente feliz, esperando. Querendo que abrisses os olhos para que eu pudesse encontrar a mesma parcela de tudo que enfim tinha encontrado. Acorde, lhe pedi, e preencha meus lábios com um bom dia traduzido por beijo - aquele mesmo que eu confessei para ti que eram muito bons na noite passada. Hoje. Antes.
Ousei em olhar rapidamente para a esquerda. Estavas bem ali, dormindo ao lado do amor. Respiração ofegante que me fez lembrar da tua boca em meu ouvido. E eu ali, na cama debaixo. O menino debaixo da tua cama. Pensando como sempre, escrevendo mentalmente como nunca. As 11h31 eu já poderia lhe contar quantas pequenas luzes piscavam em seu computador, quantas gotas de tinta preta haviam em sua parede, e quantos suspiros tu davas por minuto. Três horas e meia ao teu lado sem te ter bastaram-me para, enfim, dar-me conta de que não sonhava. O puxão nos cabelos, as pernas entrelaçadas e os meus lábios mastigados. Tudo real. Também foi o suficiente para considerar-me um tolo por não ter falado mais, não ter te perseguido do lado de fora, não ter feito jus a minha maturidade muitas vezes, e por não ter ficado mais tempo. Ah, o tempo. Inimigo meu de todos dias. No fim parti levando novas palavras a serem escritas - elas ainda significam algo para ti? -, parti deixando meu coração. Um pouco de mim para que possas, como desejo dito por ti, aproveitar.
Eu e meu desespero, que finalmente se transforma em lágrimas, agora já estamos longe, e outra vez deixamos uma centena de mundos para trás. Acho que amar é isso mesmo: sentir falta. Começar a chorar por alguém. É o sinal mais simples e claro para se descobrir que você não quer mais nada além daquela pessoa que dorme ao teu lado, na cama de cima. Nenhum mundo de distância, apenas 114 centímetros talvez. E quem imaginaria que, depois de quarenta e poucos dias, o perto seria tão longe?

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