24 julho 2011

Logo ali, cicatriz

Ainda era madrugada, e o frio intensificava-se monotonamente, prolongando a escuridão do lado de fora. Pela janela eu observava as gotas de chuva ali paradas, iluminadas por luzes de cor esverdeada que indicavam o caminho a seguir. Do lado de dentro, escondia-me com fracasso debaixo de um cobertor fino, tentando manter longe os meus pensamentos. Porém era só tentativa. Você habitava - como sempre - cada pedaço de mim.
E, ainda naquela madrugada, não havia nenhuma novidade em amar você. Continuava tudo como sempre foi: forte, carente e inconscientemente impossível. Eu precisava de uma vez acabar com qualquer esperança que ainda alimentasse. Porém eu precisava delas para manter-me vivo. Idealizar um romance inexistente, esboçar com o lápis o teu sorriso que jamais conseguiria transpor com exatidão para o papel... Ah, como sou um tolo. E culpado. Permitir que isso tomasse conta de mim em troca de você. Quero dizer, você apareceu e eu não podia pedir por mais nada. Quando se foi, preenchi o vazio com isso que chamo de amor. Mas não me faz bem, ao contrário do que deveria ser. Dói aqui, arde em silêncio, e não há muito a se fazer para que um cicatrização ocorra de imediato. É preciso esperar, e eu nunca fui bom nisso. Infelizmente.
O que mais angustia o meu ser, porém, é saber a perfeição que poderíamos ser caso estivéssemos juntos. Desconheceríamos o significado do errado, não haveria proibição e acabaríamos de vez com a tristeza. Mas não é unicamente de felicidade que se constrói uma relação, e não só com palavras tão bem escritas, pensadas e sentimentalistas ao extremo que se conquista alguém. Músicas compostas por mim são trilhas sonoras que rapidamente você virá a esquecer, e estes textos cansados de tanto descrever-te... Bem, de nada adiantará. Pois há querer nisso tudo, e sei exatamente que quanto à ele tu se opõem.
É uma pena que você não queira me amar como te amo. Que não queiras sentir tudo que sinto e que me motiva a ir de lá para cá. Porque eu poderia explicar-te quão bom tudo isso foi. Mas acabou. Não volta mais. Agora é apenas ferida aberta, insonsolavelmente na espera de uma poção mágica. Outra vez, inexistente. É uma pena saber que não é o amor que me mata, pois por ele eu morreria sem reclamar. É, no entanto, a falta dele que me faz desistir.

Um comentário:

  1. Queria ser como você, mas tenho medo de dizer o que sinto e destruir o pouco que construí. A pessoa para qual você deve ter escrito esse texto certamente sabe que foi destinado a ela. Ou me enganei?
    Ainda irei lhe mostrar algum texto que escrevi para você.

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