17 julho 2011

Caverna

De olhos abertos sonhei desbravar um mundo desconhecido. Realidade paralela, tão proximamente ignorável. Não havia muita luz, porém quando fachos dispersos ousavam atingir-me, minhas pupilas reclamavam para comigo mesmo. Eu não queria estar ali.
Havia reis e rainhas, monstros e criaturas comuns. Para com os maiores não ousei trocar olhares, pois convictamente sabia que os mesmos despedaçar-me-iam sem muito trabalho. Mas isso não quer dizer que não observei de longe. E nisso eu sou tão bom!
As criaturas quase iguais - e ao mesmo tempo diferentes, entenda como quiser - eram as únicas a não me presentearem com mais doses de medo. Eram comuns, assim como eu. A maioria, certamente. Porém quem disse que o maior número sempre vence?
Por falta de sorte esbarrei em monstros, e pelo que penso são exatamente o oposto do que sua imaginação deve ter de antemão idealizado. Eram belos, extremamente belos. Mas perversos. Ah, sim, de longe os mais perigosos. Atraíam a atenção das criaturas que curvavam-se contra eles, e até mesmo fisgavam-me quando por vez ou outra me despreveni. Naquele lugar distorcido, um par de chifres era semelhante a um par de asas. Porém não existem anjos no inferno.
Não obstante, o calor preencheu meu corpo coberto, e as rajadas de uma ventania noturna eram meu tranquilizante. Vi rostos que não reconheci, assim como procurei não reconhecer aqueles que me eram tão familiares. Afinal, era tanto barulho... Tanta desordem... Tanta coisa para pouco eu.
Um dos reis da partida incessante recusou-se a dizer olá. Apenas aproximou-se munido com aquele olhar momentaneamente congelado em mim. Mas havia fogo em tamanha contradição. Corpos colados, um deles rendido. Dias depois arrependido?
Rei no alto, criaturas abaixo. Escuridão na caverna, perdido no ato.
Sonhei de olhos abertos e foi meu pior pesadelo. Sabia que devia tê-los mantido fechados.

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