06 maio 2012

Esfregar amor na sua cara

Está tudo bem, pode ir. Porém peço-lhe por favor para que bata a porta com força ao sair, pois preciso ter certeza de que você foi embora. Espero que tenha levado consigo tudo que te pertence, e... Não, isso é impossível. Toda a nossa casa já tem um pouco do teu cheiro de cereja e nos armários da cozinha ainda restam alguns pacotes do teu biscoito preferido. Sem falar do teu shampoo no nosso banheiro e do cachorro que gostava tanto de você. Assim como eu.
Quando fez-se silêncio, eu quis entender o motivo da sua partida, mas desta vez preferi agir com sensatez - quanto ineditismo para uma pessoa dilacerada. Hoje eu resolvi não chorar, e muito menos gastar o meu tempo imaginando aquilo que deveríamos ter sido. A verdade é que não fomos, não seremos. Então não há no que pensar. Acabou porque você quis, simples assim. Talvez eu não tenha doado a mim mesmo do jeito que você esperava, ou quem sabe eu nunca fui o que você realmente esperou. Tanto faz. Então eu vou é sair por aí, tomar uma cerveja mais gelada que seus sentimentos e rir por estar só novamente. Solidão, palavra que me assusta. Mas não será por muito. Depois de dançar no meio da festa mais descontrolada da cidade, eu ainda vou caminhar pelas ruas durante a madrugada gritando besteiras quaisquer. Tudo errado, tudo incomum, tudo tão não eu. Resolvi que serei um pouco daquilo que nunca fui, já que o que eu estava sendo não me levou a lugar nenhum.
E eu encontrarei alguém, caso você queira saber. Não hoje, pois estou deixando de lado quem sou de verdade. Mas amanhã, ao voltar para a casa muda que você fez questão de deixar, vestirei o meu uniforme de mesmice para que batam na porta outra vez. Assim como você fez. E, agora, desejarei piedosamente para que não seja você. Sairei então com novas pessoas, analisarei novos gostos e rostos. Beijarei outras bocas e irei me entregar para o desconhecido - esperando que venha a se tornar meu futuro. Deste jeito, aos poucos, passarei a preencher esta casa com um pouco daquilo que nunca se fez verdadeiramente presente: amor.
Quando este dia chegar, quero dizer, quando eu não mais precisar manter você presa aqui dentro, esperarei apenas mais um minuto para aniquilar contigo de uma vez por todas. Antes eu irei querer lhe mostrar que, sim, eu também sei dizer adeus. Mas, principalmente, eu vou esfregar amor na sua cara, desejando para que você se arrependa. Criancice, eu sei. Porém, ter batido aquela porta sem nenhuma explicação ainda foi a maior de todas as infantilidades.

Um comentário:

  1. "criancice"
    escreve sobre outra coisa além de rejeicao... :D

    ResponderExcluir