26 maio 2012

Boa noite

Na esquina de uma noite impetuosa esbarro em um abraço tão hodierno que o mesmo consegue me aquecer, proteger, segurar - ou qualquer outra função que um abraço pode ter. Despejo ali um pouco de ti, um pouco de mim. Nada de nós, pois quanto a isso eu ainda venho procurando. E Deus sabe quanto minha busca tem sido falha.
Logo em seguida eu entro em um táxi qualquer. Este, em questão, não possuí o cheiro da semana passada - aquele que sentimos quando dividimos uma corrida até as nossas casas. Nenhum frescor, nenhum vidro embaçado. Hoje, contudo, há sim companhia. Mas ela não se trata de ti. Então, para mim, resta pensar em que parte do caminho eu deixei tu dar meia volta, permanecer ali quando eu já havia ido embora, ou até mesmo ter deixado tu tomar outro táxi que não o meu. Essa noite traz silêncio, traz perda. Falta-me um beijo de despedida tão rápido que os olhos do taxista não podem acompanhar.
Derrubo meu corpo no sofá, fecho os olhos para evitar a escuridão presente na sala de estar, sem saber que está mais escuro ainda de olhos fechados. Bem, agora eu entendo. Tu e eu, um porvir fracassado. Nesse momento, então, meus pensamentos já dão mais voltas que as nossas línguas quando juntas, e para mim tudo parece óbvio. Os motivos, as razões. De segunda a quinta tu pensas em me encontrar, porém na sexta tudo é diferente. A carência tua vira querência por outrém - que, certamente, não sou eu. Então talvez eu seja mesmo essa parte chata para ti: o meio da semana. E, no final dela, tu queres se ver livre de mim. Fácil assim.
Creio que jamais terás a chance para contar quantas lágrimas por ti agora choro, pois em mim tu já morastes o tempo necessário - para um entendimento, um crescimento, e um arrependimento. Então até outro dia. Levantarei deste sofá com a certeza de que tentamos, porém apenas não deveríamos ser. E não fomos, não seremos. Melhor assim, quem sabe. Ou deveria eu voltar atrás, correr até o teu abraço (era nele que eu deveria ter estado esta noite), e tornar-me fim de semana para ti? Não sei. O meu medo, na verdade, é que você me queira como um feriado - alguém esporádico e fugaz. Quem sabe. Portanto, por enquanto, boa noite.

3 comentários:

  1. Está ficando chato eu elogiando aqui de novo, não acha? haha. Ficou lindo, Pedro! :')

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  2. você se apaixona muito fácil, não é?

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  3. É incrível como poucas palavras bem ditas podem significar muito. É a primeira vez que comento aqui e vou tentar ser breve. Seus textos são muito bons, refletem bem muitas dúvidas que muitas pessoas sentem, mas não sabem como exteriorizar. Parabéns pelo texto, me identifiquei muito! Creio que todos nós temos nossas dores e nossos amores mal resolvidos, durante algum tempo todos nós nos sentimos uma espécie de ''quarta-feira'' para alguém, nos sentimos usados, uma opção viável quando nada mais existe, até que chega a ''sexta'' de alguém, mais interessante para a outra pessoa que nos deixa para trás como se nada mais existisse. Acho que seu texto, em 4 parágrafos conseguiu transmitir uma ideia de que, no fundo, queremos, às vezes, nos sentir desejados, nem que seja por uma quarta-feira, por um feriado, mas que isso possa ser mais no futuro, para que amores esporádicos nos transformem e se transformem em amores fixos, que não durem só um dia, mas os sete da semana, durante todo o mês. Parabéns, mais uma vez!

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