16 abril 2012

Medo de quê?

Estou com medo - diria eu se estivesse em uma consulta com algum psicólogo. Mas... Medo? Medo de quê? Bem... Eu não tenho me reconhecido. Estou com medo é de mim mesmo. Quer dizer, eu hoje acordei e em questão de minutos estava dançando em meu quarto ao som do blues que vinha do apartamento de cima. Girei e girei enquanto sorri. Isso tudo com direito à bis. Já durante a tarde, assei um bolo com tanto açúcar que qualquer diabético não suportaria. Acho então que comentar sobre ter finalmente deixado o mau humor de lado e passado a cumprimentar até mesmo o poodle com laço de strass da vizinha do décimo primeiro seria o bastante para comprovar a minha loucura. Então me diz, doutor, qual é o meu problema. Transtorno Bipolar, Esquizofrenia ou seja lá qual for o nome que estão dando agora? Diga logo qual é o meu desvio mental que irei de imediato comprar todas as pílulas caras que irão pesar no meu orçamento mensal.
Mas não, o doutor nada me diz. Até mesmo porque eu não fui a doutor nenhum - e aí está outra prova evidente da minha falta de lucidez. E agora o que fazer? Recorro em desespero ao espelho, observando aquele garoto magrelo que sempre pode emagrecer um pouco mais. Hm, este ainda sou eu. Olhos pequenos e lábio inferior protuberante. Tórax largo e pernas finas. Então qual é o diabo do meu problema?! Sem hesitar pego o telefone, digitando rapidamente os números que já sei de cor. Alô, por favor tente me salvar. 'Qual é a emergência, senhor?' - pergunta a moçoila eficaz da Brigada Militar. Espero. Penso. Procuro a resposta. Ah, eu estou diferente, minha senhora. Não é de hoje que não me alimento direito e que rabisco o mesmo nome em qualquer pedaço de papel. Quando não na minha própria pele. Tenho dormido pouco, pensado muito. Mas eu... Eu estou feliz. E creio que como nunca. Estou sorrindo para as coisas mais idiotas da vida e nem sei o porquê.
Após escutar o meu desabafo, dei-me conta de que ela não poderia me ajudar. Policiais prendem, atiram e correm. Eles não receitam remédios ou resolvem dar uma de melhores amigos por telefone. Porém, para a minha surpresa, do outro lado da linha a moçoila estava a rir. Sim, ela continuava ali. Do que estás rindo? O que há de errado comigo? - perguntei em um desespero final. 'Meu senhor, desculpe-me a indelicadeza, porém não há nada de errado com você'. Haha, mas quanta graça. Como se eu estivesse em perfeitas condições. Não, eu não estou normal. Não está tudo bem. Já ia eu reafirmar isto para ela, quando a policial disse aquilo que eu nem mesmo havia possibilitado: 'Senhor, você está apaixonado'.

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