10 abril 2012

Teus dedos

Metade da madrugada e continuo a observar. Meu bem, o olhar aqui é cauteloso e não deixa nada escapar. Vigia de canto, fotografa os momentos mais interessantes. Olhos meus viciados em cuidar cada curva de ti. E aqui de onde estou nada deixo passar. Existem movimentos que eu não aguento, existem situações que eu gostaria de evitar. Analisando teus dedos em silêncio é tão fácil de discernir. Enquanto eles agarram algo que não sou eu, estou aqui como tolo mendigando um olhar de ti.
Então creio que estão todos a rir de mim. Pobre rapaz, mal pode compreender. O amor de ontem já virou passado, e o de hoje é preciso manter. Mesmo que não queira, mesmo que não seja suficiente. Mas teus dedos eu gostaria de tocar novamente. E agora eles enlaçam outros. Estes mesmos dedos que já percorreram vagarosamente o meu corpo do início ao fim, que já massagearam meus lábios e cravaram em meu peito como tiro de estopim. Você se recorda de quando teus dedos foram os únicos capazes de me calar? Era uma noite fria como a de hoje, porém naquela você estava lá para me segurar.
Machuca saber que se foi. Tornar-se apenas lembrança nunca foi o que desejei de ti. Porém, agora vendo teus dedos digitando mensagens para outro, o meu único querer é fugir. Por favor, dê-me um tempo para respirar, sei que estás longe mas por que então continuas por perto? Crava uma estaca em nós dois, cauteriza a ambos, acaba logo com esse nosso futuro incerto. Imploro-te que se afaste, mas que seja de imediato. Não quero ver-te mais, talvez apenas por hoje, quem sabe um pedaço de amanhã também. Na verdade eu não quero é ter de morrer no terceiro ato.

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