17 junho 2013

Carta à Porto Alegre


Estou tentando acreditar que foi o clima. Às vezes procuro culpar a minha visitação extremamente esporádica dos últimos tempos. Acontece que havia uma neblina baixa, o céu estava cinza e o vento era tímido. Os carros que passavam eu podia contar com um palmo aberto, e as pessoas, então, eu nem mesmo via. Nas tuas ruas eu me senti triste. Logo eu, menino do interior que, por puro clichê, deveria achar tudo isso "coisa de outro mundo". Mas não. Em um domingo naufragado, amiga Porto Alegre, quis eu saber quem tinha te abandonado.
Da janela do ônibus, vi prédios de fachada tingida pelos marginais e ruas esquecidas - um lúgubre sinônimo para sujas. Não havia nenhum vestígio do sol que pousara por ali no dia anterior, e as esquinas contavam as horas para se esconderem dentro da noite. Lembrei das pretensões e dos sonhos, das vontades de arquitetar uma vidinha que seria muito melhor dentro de ti, Porto Alegre. Eis que lembro de quantas pessoas já tirastes de mim e aí passei a te odiar.
Como ousas, querida Capital? Não volte a me tratar assim! Este coração de guri serrano se comprimiu ao te ver em monocromia, desolada, aborrecida como adolescente que não pôde sair de casa. Esse coração aqui sentiu pena por não encontrar-te boa demais como sempre, por ver as nuvens carregadas tampando o teu sol no gaúcho céu anil, todas elas doidas para limparem esse teu dia triste. Então, seja complacente: pare de raptar quem eu amo.
Tem dó de mim, Porto Alegre! Assim como tive dó de você ao encontrar a Protásio Alves chorando óleo de motor. Peço, por favor, para que devolvas quem tu me tirastes, e não te atrevas a me assaltar assim outra vez. Não ofereça tantas possibilidades, não seja grande demais, não pareça tentadora. Mas, também, não exijas muito de si mesma - gostar de ti já é natural.
Por fim, deixarei esta carta em um banco qualquer da Redenção, ou famoso Parque Farroupilha. Debaixo de uma copa de árvores, ao lado do gaiteiro que canta para todos o que para todos não passa de uma obviedade avassaladora: "Porto Alegre é longe".  




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