19 junho 2013

Bom dia, Geração Z

Quando jurei à bandeira, no apogeu dos meus 18 anos, prometi servir ao meu País em quaisquer que fossem as ocasiões. Seguindo o Artigo 217, jurei “estar sempre pronto a cumprir com as minhas obrigações militares, inclusive a de atender a convocações de emergência”. Naqueles dias, não imaginei que viria a colocar em prática os meus votos. Pensei, meio desnorteado devido à idade: “no Brasil não tem guerra, não vamos entrar em conflito com ninguém”. Recordando agora (já se passaram três anos), acho engraçado. Falo isso porque eu não cheguei a pensar que o Brasil pudesse entrar em conflito consigo mesmo.
De fato, eu estava errado: no Brasil tem guerra sim. Lutas diárias que vão dos causos ao caos. Seja a violência doméstica, os inúmeros crimes hediondos, as ocorrências de estupro - são apenas exemplos de situações recorrentes ao redor do mundo. Não são problemas exclusivos deste País, são problemas que envolvem a psicopatologia de qualquer indivíduo. Mas, então, qual é o problema do Brasil? O que pode haver de errado em uma terra tropical, onde tsunami não marca presença e o povo é feliz com sua caipirinha na mão e um sambinha - ou funk, caso preferir - no pé?
Cresci imerso em uma sociedade que só estende a bandeira verde e amarela quando chega a Copa, e na verdade não se pode culpar o povo por isso. Há um certo orgulho massificado quanto ao futebol porque, infelizmente, trata-se de um dos únicos expoentes positivos por aqui. Mas não existe Nação se existir apenas um motivo para orgulho. A Copa não é o problema, até porque, o problema são os outros problemas - que são maiores. A Copa é uma realidade inventada. Existe um déficit na balança comercial do País quanto à educação e saúde, porém existe um superávit quanto à construção destes estádios de outro mundo. Difícil entender. Brasil, Brasil. Quem tu estás querendo impressionar?
Creio que podemos resumir a Pátria amada em uma palavra: delay. O problema do nosso País é, sim, o delay. E, para aqueles que desconhecem o termo, já explico: delay é retardo, delay é atraso. É deixar para amanhã. Aposto neste ponto de vista porque nós, Brasileiros, fomos acostumados a aceitar a máxima dos "cinco minutinhos". Nós aceitamos uma procrastinação e nós procrastinamos. No Brasil tudo vai - vai ser melhor, vai ir pra frente, vai mudar. No Brasil nada vem. E aí aceitamos a desculpa de que o nosso único orgulho poderia gerar transporte melhor, integração sócio-cultural e desenvolvimento sócio-econômico a partir do turismo. Acontece que o turista ficará por aqui no máximo 15 dias, e eu pretendo ficar nesse chão por um bom tempo. Depois das praias e da visita ao Cristo Redentor, eu ainda estarei aqui. Eu sei o que precisa ser mudado.
Quero convergir na ideia de que a política do pão e circo ainda é aceita por pura necessidade - e irá continuar existindo enquanto trabalharmos para consumir. Sem críticas e aprofundamentos ao consumismo propriamente dito, a ideia é que, enquanto eu trabalho e faço bico para vencer as contas do mês (das quais grande parte se traduzem em impostos), eu não enxergo quem comanda o meu País. Eu vivo para esperar o fim de semana, eu vivo para esperar as férias do final do ano (quando, muitas vezes, eu vou preferir ir para fora do País - por que será?). Quase não tendo tempo para cuidar de mim, não sobra tempo para olhar quem está cuidando de nós. Tem, aliás, alguém cuidando de nós?
Existem causas, existem porquês. Mas existem muitos de nós. A sociedade vestida de exército é o maior reflexo de que, por mais variadas que sejam as indignações, cada uma delas pode (e tem de) ser revista. O meu protesto é pela cegueira generalizada provocada por um evento "cultural" que atropela o bem estar humano - as necessidades básicas de saúde, educação, transporte, moradia e alimentação não estão sendo cumpridas. A minha revolta é pelas 13 milhões de pessoas que passam fome diariamente e que certamente sabem que, não muitos quilômetros em frente, muito foi gasto para se impressionar o mundo. Mas o que se faz para impressionar o próprio povo? Falta lembrar que, se este gringo que vier assistir ao "maior espetáculo do mundo" passar mal (excesso de churrasquinho-de-gato ou cerveja podem ocasionar o mal estar), o mesmo gringo será levado diretamente de um estádio colossal para um hospital que não recebe investimento adequado.
Mas, bem, está só é a minha causa. Qual é a sua? Não é desculpa alegar que se reclama por muito, o que faz com que tudo transforme-se em nada. O foco destes manifestos está claro: mudança. Seja em qual for o setor escolhido por cada um dos manifestantes. O despertador tocou (enfim) e é hora de acordar. Bom dia, Geração Z. Chegou a nossa hora. Vamos desafogar os dedos destas teclas e afogá-los nos potes de tinta. Pinta a cara dele, pinta a cara dela. Pinta o Brasil que tu quer ver e espera ser escutado. Assim como no pífio transporte público do qual reivindicamos, sabe-se que o ônibus demora, mas ele chega. A mudança também. De antemão fica o aviso: quando chegar o 7 de setembro, as ruas também têm de estar lotadas com essa juventude esperançosa que se cria agora. Talvez (ainda) não saiamos para demonstrar um orgulho absoluto perante a uma Pátria que, lamentavelmente, ainda se encontra defasada, porém deve-se estar presente para mostrar que, nessa luta, quem vencerá será a insistência.

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