30 janeiro 2013

Aquilo que você deixou

Lembraram que hoje é o dia da saudade, e então lá fui eu investigar a memória, sem nem mesmo ter pedido permissão para entrar. Percebi que seria meio patético insistir na ideia de que a saudade tem teu nome, até porque isso já foi encaixotado e atirado no corredor dos problemas-sem-causa. Decidi, então, que eu tenho saudades daquilo que você deixou.
Pensando bem, saudade tua é quase o mesmo que voltar de viagem: algumas coisas ficam esquecidas, enquanto outras passam a ganhar uma visão totalmente renovada. É como se você fosse Pittsburgh e eu Tuvalu - duas localizações tão opostas que são separadas por quilômetros e oceanos infindáveis. E, após eu ter-me aventurado em terras tão longínquas, ficaram esquecidos por aí alguns beijos e pedaços de mim. Eu estou na tua estante, sei disso, mas será que você chega a olhar para esses meus resquícios alguma vez durante o seu dia?
Passo a me questionar se você ainda abre aquele saquinho com meu cheiro, se o faz por curiosidade ou por saudade. Logo depois vem a vontade de saber se as minhas cartas são relidas e se, numa ínfima possibilidade que se acende, elas mexem com alguma parte de ti. Qual é, deve haver algum pedaço de mim que restou por aí capaz de te fazer relembrar todas aquelas sextas-feiras de sol.
- Oi.
- Oi.
E então a gente caminhava por aí como se o amor não estivesse nos consumindo.
Aquilo que você deixou foi um céu cinza quando eu nem mesmo tinha uma paleta de cores para dar um tom levianamente mais fausto. Tanta esperteza cabe em ti que, diferentemente de qualquer um, você não deixou o choro, a tristeza ou a certeza de um término. Aquilo que você deixou foi a vontade, a determinação e a incerteza dos dias seguintes. Porém, aquilo que de mais gritante você deixou foi a inspiração para estes textos tristes. Exatamente o que você mais quis ter deixado.
No fim das contas, eu tava com saudade era de ser poeta.

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