01 fevereiro 2013

Apanha(n)do da saudade

E quem um dia chegou a duvidar da saudade?
Ela sempre existiu mesmo. Saudade tem sempre um nome, um cheiro, uma cor ou um lugar. A saudade mora em São Paulo, Austrália, Nova Iorque ou no Japão. Mora aqui, mora lá. Ela é aquele vermelho-cereja  da camiseta que ele usou na primeira noite em que vocês saíram, é marrom-chocolate como a cor daqueles olhos que te encontraram tantas vezes, é tão verde que quase se confunde com a esperança de que ele ou ela possa voltar. A saudade pode ser um nome, masculino ou feminino, por vezes composto ou com tanto sobrenome difícil que você nem sabe escrever direito. A saudade é aquele aroma adocicado ou aquela essência amadeirada que ficou tão presa num canto da memória que você jura senti-la quando passa na rua despreocupado. Seu trouxa!
A saudade também é aquela conversa desajeitada, algumas risadas e choros na madrugada, os filmes que vocês prometeram assistir até o fim mas que foram interrompidos porque passar o tempo beijando quem se ama é a melhor opção. Saudade é aquele sentimento que mistura vergonha, vontade e medo quando se está no primeiro encontro, mas que acaba se transformando em ausência, tristeza e dor quando tudo termina. Não quero arriscar e dizer que a saudade é aquilo que não se falou - ou aquilo que se falou demais! Não quero deixar claro que a saudade pode ser querer voltar no tempo, porque provavelmente as coisas sejam como realmente deveriam ser - e a gente só precisa aceitar. Mas o que eu sei é que a saudade é um tipo de dor, daquelas que não se encontra remédio preciso na farmácia e que só se cura com aquela fórmula do esquecimento chamada tempo. E quando cura!
Quando bate na porta e a gente atende, a saudade invade a nós como intrusa mal educada. Ela logo vai preenchendo cada espaço vazio e trazendo de volta à superfície aquilo que tanto lutamos para manter lá no fundo. A saudade grita, a saudade fala em voz alta. Mas saudade também pode ser silêncio. A saudade, na verdade, ao que se sabe, também é rima. É uma música - ou talvez duas, três, quatro, cinco, ou até um disco inteiro. Saudade é letra, palavra, poema, prosa, livro, novela. A saudade pode ser estática como uma fotografia ou fugaz como um vídeo. Pode ser uma segunda-feira de cinema, as quartas de pizza ou as sextas de sol. A saudade pode ser todos os dias da semana, todos os meses do ano. Aquele ano!
Saudade é um brinde que vem com a vida, todo mundo ganha. Todo mundo sente saudade. Seja do filho que foi fazer intercâmbio, da mãe que foi ver se o céu é um lugar melhor mesmo, ou do 'amor da minha vida' que resolveu que, exatamente agora, o problema é ele e não eu. A saudade quase sempre está ligada ao amor. Amor que sentimos pela infância, pelo cheiro de areia da praia, pela música do CD esquecido na estante, pelas cartas escritas que agora já não são motivo para resgatar um relacionamento, pelo chocolate que não é mais fabricado ou por qualquer outra coisa que nos faça pensar. Saudade é isso, é pensamento. É martelar o que já não mais está aqui. Insistência, insistência. Até que ponto é válido senti-la?
A saudade é mesmo traiçoeira. Acomete, se mete, e quase nunca se esquece. Do beijo, do abraço, do momento, do sentimento. O que resta é recordar essa falta que é tão necessária, e acreditar que, sim, nós todos precisamos até mesmo da saudade para que não esqueçamos o quanto algo - ou alguém - já nos fez feliz algum dia. Conclui-se então que a saudade é uma felicidade que foi dar uma volta. Mas será que volta? Bem, só nos resta esperar. 


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