19 janeiro 2013

Repertório

O cheiro era o de fritura que aterrissava nas mesas de cedro e provavelmente se apegaria às minhas roupas também. Gente, muita gente. Por todos os cantos. Acho que eu não gosto mais dessa multidão como antigamente. Desta vez, todos olhavam para os seus copos com gelo, para a presa logo ao lado, e sorriam como se aquela noite nunca fosse acabar. Para mim, ela estava durando mais do que eu poderia suportar.
No repertório da dupla que exalava frescor, as mesmas músicas que eu estava habituado nos últimos dias: um pouco a mais de drama, desta vez em notas musicais, não poderia acabar com mais nada. Ou poderia acabar comigo mesmo? Minha boca contraída observava aqueles olhos no canto do bar, os quais transpunham os meus como se passassem a mensagem: eu quero você. Mas você não quer um hálito de cachaça doce com morango e limão. Não, não. Você quer um único gosto de volta, aquele mesmo que, de tão inócuo, você mal sabe descrever. Mas ele não está ali.
Então a noite resolve sugar o que de melhor há em você, afim de que você sinta, a cada desgraçado segundo, o que você mesmo fez. Falta, acho que essa é a palavra. Como é detestável conhecer o significado de duas sílabas deste jeito... - vivenciando. A banqueta ao lado está vazia, e impetuosamente você imagina uma presença que, mesmo que pudesse, não estaria ali. Pois há gente, há muita gente. Mas ao mesmo tempo não há ninguém.
O que falta no repertório é o que você mais queria que tocasse.

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