03 junho 2012

Garotas de 12 anos

A mesa da cozinha hoje esteve vazia logo cedo, pois sendo domingo eu decidi manter o meu ritual de tomar café na cama. Não que bolacha recheada seja uma maneira muito correta de se começar o dia, porém o fiz. Beberiquei um gole daquele chá de frutas cítricas e troquei os canais da televisão como se comandasse tudo - controle remoto é a tentativa mais próxima de brincarmos de Deus. Só parei quando percebi que ali, do outro lado da tela, estava estampado um rosto tão familiar. Você.
Sorria e olhava para mim. Eu, atônito, cuspi chá e derrubei bolachas. Curvei-me para frente, permanecendo de joelhos em cima da cama. Quase colado na tela da televisão, tentei entender o que diabos você fazia ali, roubando o lugar do apresentador de programa de auditório dominical. O som que saía do aparelho eu não reconhecia, não sendo aquela a sua voz. Não, não podia ser. Fechei os olhos, espremi-os como criança faz quando afugenta pesadelos, e os abri novamente. Pronto, você havia desaparecido. 
Praticamente nu, corri até a sala sem nem pensar e deparei-me com minha família no sofá. Bom dia pai, como vai mamãe? Ei, espere. Havia mais alguém. De novo você, que ria junto à eles da minha falta de roupas. Sendo a timidez a última das minhas preocupações naquele momento, tentei imaginar como você havia entrado na minha casa. Até onde eu sabia, nós dois tínhamos brigado feio e minha mãe já até falava mal de você para a vizinhança toda, no intuito de não permitir que ninguém mais caísse na sua lábia. Ou nos seus olhos bonitos. Ou nesse sorriso que jamais vi alguém usando.
Pare! 
Saí porta afora, ignorando as queixas de meu pai. Cambaleei pela rua, girei no mesmo lugar, e aí foi que o desespero me possuiu tão forte que até poderiam criar uma sequência de O Exorcismo. Meus vizinhos, naquele momento, haviam derrubado suas caras feias e velhas para darem lugar a um rosto tão comum e odiado (será?) por mim: você. Sim, todos eles agora tinham cabelos loiros e olhos tão convidativos que até mesmo no escuro eu seria, de alguma forma, guiado.
Então é isso. Somente e assustadoramente isto. Meu relato de domingo a noite. 
Saiba que, por você, eu acabei enlouquecendo. Voltei no tempo e lhe trouxe de volta para mim. Uma vez estiveras presente em minha vida, e agora estás presente em pensamento. Tão forte que já me tornei uma daquelas garotas de 12 anos, que veem o "amor de suas vidas" em todos os rostos que cruzam seus caminhos. Por isso, aguarde as novidades. Muito em breve estarei rabiscando o seu nome por aí e escrevendo textos sobre minha loucura.
Espera...

Um comentário: