08 junho 2012

O Retrovisor

Enfraqueci. Derrapei na curva mais fácil, da qual eu deveria ter saído ileso. Tu tinhas permanecido lá, em outra cidade, longe o suficiente para que eu pudesse te deixar para trás. E eu, que já vinha havia algum tempo me distanciando, esqueci que a nossa estrada sempre fora traiçoeira. Logo ali estava outro município, estado, país. E agora sinto-me um tolo por ter de confessar que a fronteira que me separa de ti eu não soube cruzar.
Amores são vãos, amores são recheados de empecilhos. Sim, contraditório. Tão tu e eu. E agora, que parei nesta estrada e olhei para trás - outra vez, pois esta não foi a primeira -, mal posso evitar o pensamento de que sentir tua falta foi algo que sempre esteve aqui. Por vezes silenciou-se este sentimento, porém agora avivou-se o necessário para me fazer pisar no freio. A vida tem lá, sim, o seu retrovisor. E para ele só olha quem quer - ou precisa.
Pensei então em regressar. A estrada de volta seria longa, porém continuar meu caminho sem ti seria o mesmo que guiar-me sem um mapa. Aterrorizantemente divertido - restava saber se isto me agradava. Por outro lado, recordei o porque de eu ter partido: saí da tua cidade porque lá o ar tinha teu cheiro. Nos restaurantes e danceterias, o teu sorriso ainda tinha deixado rastros de luz. Não obstante, teus longos dedos me prendiam, sendo que crime nenhum eu havia cometido. E, por fim, acabei por sair de ti porque eu tinha mais do que poderia segurar em meu peito. Sim, tu me destes o amor de uma vida - quando eu ainda estava tentando adivinhar se tinha uma. 
Saltei do carro e joguei-me ao chão. Farol vermelho no meio do nada. Se eu pudesse mandar um sinal de socorro, seria para que você viesse atrás de mim. Se ainda me amas, sana meu enganamento de que tu e eu  chegamos no fim da linha, que nunca daríamos certo. Quem sabe a distância não me fez perceber que te amar é a tarefa mais simples de todas. Porém, como te disse, enfraqueci. E daqui não sei sair. A escolha, então, se devo seguir ao norte ou voltar para o sul, depende de ti.
Ah, pensando bem, crime eu cometi sim: foi ter olhado no retrovisor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário