15 novembro 2011

Dia seguinte

Vai, diz que não me ama. Liberta-me desse amor de mentira que nós dois criamos. Acaba logo com isso, grita comigo. Faz-me sentir de novo alguma coisa, por favor. Deixa-me ir, permite-me amar um outro alguém. Entrega-me a carta de alforria, olha no fundo dos meus olhos e conte quantos pedaços de ti eu ainda guardo em mim.
Confessa que foi um jogo que eu não soube brincar, que eu falhei por lhe querer mais do que deveria. Sussurra outra vez em meu ouvido, mas desta vez me fala os motivos de eu ser apenas distração. Se não mais me quer, se nunca me quis, então abre a porta para que eu possa sair. Não a deixe aberta, pois não quero voltar. Porém antes esclarece tudo, te peço. Deixa o mistério de lado e mostra tuas cartas. Permita-me saber quanto gostastes de mim, quanto tudo isso foi apenas diversão passageira. Nunca soube nada de ti mesmo. E eu... Bem, tolice a minha em entregar-te as pistas para descobrir o meu interior tão facilmente. Não foi difícil para ti ser o melhor jogador quando na verdade sempre houve apenas um. E, apenas te peço isso por fim, esqueça-me. Não mande mais mensagens, pois eu passaria os dias tentando as decifrar. Até porque se não há mais interesse de tua parte, você apenas deveria me deixar partir. Assim como saí da tua cama, da tua casa, da tua cidade. De ti. Deixa-me entender o que tu quer de verdade, porque a confusão aqui é grande. Eu estava lá quando você disse que seria apenas uma noite, e tu acreditastes em mim quando eu concordei. Falha tua, sou um péssimo mentiroso. E tu deveria saber que eu iria querer mais de ti. Mais dos sorrisos bobos, dos ódios momentâneos e da agressividade masoquista.
Você deu o isqueiro para o incendiário, e agora quem queima vivo na incerteza de uma querência recíproca sou eu. Tentando entender porque eu fui, porque eu voltei, porque eu ainda estou aqui. Lembro a nossa maior contradição: tu dissestes 'apenas uma noite', porém eu também estava lá quando tu acordou para, com outro beijo, dar-me bom dia. No dia seguinte, você ainda não havia me deixado ir.

3 comentários:

  1. Continua assim Pedro, escrevendo tudo o que eu queria dizer. Quase chorei hahahaha.

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  2. Mais um texto seu que deixa refletindo sobre coisas que já aconteceram comigo.

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  3. É sempre pior quando as coisas acabam mal esclarecidas. Elas parecem não acabar de verdade. ):

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