07 agosto 2013

Toda mulher

Toda mulher tem que cortar o cabelo bem curto em algum momento da sua vida. Tem de haver um desprendimento, uma renovação, um bota fora. Toda mulher tem que se permitir um penteado diferente, uma cor ousada – do vermelho fogo ao loiro desbotado –, uma espécie de licença poética mesmo que seja apenas capilar: "hoje eu me permiti ser outra pessoa".
Toda mulher precisa de um disfarce que só ela saiba que existe. Pode ser de mulher fatal, dominadora, compulsiva ou até mesmo controladora - o personagem só aparece quando ela quiser. Toda mulher, aliás, deve precisar de uma outra mulher, seja irmã, mãe, prima ou até mesmo empregada doméstica. Toda mulher precisa de vários "amores da minha vida", mas só um anel de compromisso. Toda mulher deveria experimentar um esmalte diferente a cada nova ida à manicure, fugir do pretinho básico de vez em quando e beijar quem tiver vontade, sem precisar imaginar se o cara é um sapo a ponto de virar príncipe ou não.
Na verdade, toda mulher tem que ter em sua vida um homem cafajeste. Mas que ele não dure muito, por favor! Que todas tenham um "homem caminhão de mudança", daqueles que recolhe os espaços vagos e inúteis e leva embora - junto consigo, é claro. Toda mulher tem que conviver também com um homem de bolso vazio, pois essa é uma boa forma de se valorizar o próprio dinheiro (afinal, depender de homem ninguém merece). Também é aconselhável que toda mulher tenha um romance com um cara mais novo, um jovenzinho de 18 quando ela tiver 30, ou um de 20 e poucos quando ela já estiver na casa dos 40. Nisso pode existir um resgate, e até mesmo uma confirmação de que nunca é tarde para se fazer as tais "coisas dos jovens". Afinal, ser mulher é ser atemporal.
Toda mulher deve ir dormir uma vez na vida sem se preocupar com a louça suja na pia da cozinha e no dia seguinte sair de casa sem arrumar a cama. Toda mulher tem de arriscar uma hora ou outra - seja investindo grana em um negócio próprio ou apenas mudando o pão integral pelo francês uma só vez na semana. Falando nisso, toda mulher deveria esquecer a palavra "dieta" semana sim, semana não. Dessa forma dosadora surge um perfeito equilíbrio, não?
Toda mulher deve esperar flores. Toda mulher deve fazer algo para que possa esperar flores.
Toda mulher deve sair para se divertir com as amigas, toda mulher tem de ter um amigo gay. Toda mulher tem que ser mais corajosa que o "homem da casa", toda mulher tem direito de não gostar de rosa e filme de romance. Toda mulher tem "aqueles dias", então, por favor, afaste-se! Toda mulher tem um sapato a mais no guarda-roupa, um batom de cada tom e alguma peça no armário na cor nude (e nem tente imaginar do que isso se trata). Toda mulher deve querer alguém, mas toda mulher tem que lembrar que é autossuficiente e que Adão foi mero reprodutor sexual figurante.
Toda mulher, enfim, tem que se permitir, se libertar, tentar algo de diferente. E isso só começa com o principal: em algum momento da sua vida, toda mulher deveria cortar o cabelo bem curto.
E olha que eu nem sou mulher para estar afirmando.

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