10 março 2013

Saiam da livraria

Metade do sábado já havia ido embora e eu estava em uma livraria, não que isso fosse novidade. Garimpando Chandler nestes bem pensados formatos pocket, eu curtia o silêncio de uma solidão acompanhada (tantos autores a minha volta não podiam ser ignorados). Eis que, ao imaginar se a minha estante comportaria mais um livro, ouvi barulho. Gritos.
Mas o quê?!
Uma trupe de seis adolescentes entrara pela porta bradando mais alto que escola de samba ao pisar na avenida. Três guris, três gurias. Todos jovens demais para formarem casais. De imediato pulei das páginas para me espatifar na realidade outra vez. Observei os seus caminhares por entre as gôndolas de livros desejando que não derrubassem nada. Tentei entender porque falavam tão alto sem me dar conta de que eles provavelmente não sabiam que, para um leitor, uma livraria é como uma igreja para um fiel. Então silêncio, por favor. E, mais importante, me perguntei: o que vocês estão fazendo aqui?!
Egoísmo, eu sei.
Logo eu, que sempre dividi os brinquedos e nunca deixei de compartilhar os pacotes de bolacha (com uma tremenda dor no coração). Eu, leitor e escritor, sendo egoísta o suficiente para não dividir os livros - quando deveria ser o contrário. Caso voltasse à metáfora celestial, a minha atitude seria o mesmo que o padre não querer distribuir a hóstia. Mas que feio. No entanto, por mais que tentasse me focar nas minhas futuras aquisições, na minha mente a frase gritada sem poder ser ouvida era só uma:
Saiam da livraria, saiam da livraria!
Mamãe diria para eu não ser egoísta. Papai diria que eu não devo julgar as pessoas. Ha-ha. Como não? Naquele momento já era tarde, pois eu olhava para todos como se fossem personagens de minhas histórias. Personagens secundários, é claro, os quais eu provavelmente não teria orgulho em criar. Isto até poderia soar deveras rude, caso uma das gurias não tivesse finalizado aquela visita sem sentido à livraria com uma frase em tom desdenhoso:
- Me dá esse de presente? - Segurava um clássico nas mãos. - Brincadeira, eu nem gosto de ler.
Enquanto observava aquele futuro indeterminado, assustador e triste enfim deixar o local junto de toda trupe, pensei comigo mesmo, egoísta que sou:
Ainda bem.

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