26 março 2012

Visita da madrugada

Quase duas da manhã e batem na minha porta. Segunda-feira, lá fora cai o mundo. Quem é? Pergunto agora. Mas ninguém responde. Recuo alguns passos, retiro de cima da lareira a velha espingarda. O mundo de hoje em dia é perigoso, e quanto a ele você precisa se proteger. Caminho em lentidão, questiono novamente quem deseja me ver a esta hora da noite. Por favor, anuncie-se. Quem é você e o que deseja? Porém nada. Nem ao menos uma saudação qualquer.
Empunho minha arma, protejo-me para com o desconhecido, e então aproximo o olhar na pequena cavidade em minha porta. Observo o outro lado em silêncio. Chove muito, a tempestade em plena turbulência. Mas no meio de tudo isso ainda existe a calmaria. Alguém esperando por mim com um sorriso dúbio, de pele tão fantasmagoricamente pálida. Olhos frios como a chuva. Eu reconheço de imediato, e isso é o bastante para que eu destranque a porta sem nem recear. Encaro a minha surpresa e agradeço. Enfim você por aqui, obrigado por aparecer.
E então convido para entrar. A minha visita da madrugada. Fervo um pouco de água, passo um café forte para nós dois. Sirvo e sento no sofá logo em sua frente, temendo pela primeira vez pelo que pode acontecer. Conte-me um pouco sobre você, foi o que perguntei. Depois de uma risada, a resposta vem: Mas você me conhece tão bem. E é aí que eu prendo um riso de obviedade. A companhia está totalmente certa. Mas então, diga-me para que veio. Espero um pouco, beberico a água preta que aquece meu interior. Pois bem, vim para lhe fazer feliz. Pensei que estivesses me procurando por todo esse tempo. Engano meu? Balanço a cabeça em negação. Não, não há engano algum. Eu estava lhe esperando.
Cruzando a sala vem então o amor de minha vida sentar ao meu lado. Um pouco atrasado, mas penso eu que na hora certa. Em silêncio dividimos uma xícara de café - a primeira de muitas coisas a serem divididas a partir de então. Seja bem-vindo, digo eu. Nós dois sorrimos.

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