30 março 2012

O clichê que você procura

Passou por mim e nem viu. Continuou caminhando com foco no que estava lá em frente, pois certamente se tratava de algo com mais valor do que eu. Eu, prostrado logo ali. Perto, tão perto, desejando um simplório olhar. Torcendo para que o teu pescoço se torcesse. Vire, olhe para o lado. Note que estou aqui, bem aqui, atônito em um silêncio tão eloquente aos olhos de qualquer um - menos aos teus. Porque não me olhas, não me notas, não caminhas até mim?
Pois bem, agora já passou. É tarde da noite, a noite já tarda, e eu não consigo controlar meus próprios pensamentos. Sai, sai de mim. Vai por aí. Vaga na escuridão das três da manhã e continue a caminhar em direção aos teus objetivos. Dane-se, eu não me importo se não estou fazendo parte deles. Mas não! Não, não vá. É tarde, e a madrugada embala o perigo. Não quero que te firam, pois eu não saberia ter você pela metade. Quero-te por completo, e de preferência agora. Deus, como sou uma contradição de batimentos cardíacos acelerados!
Nas mãos trago café. Isso me ajuda a enfrentar o dia sem ti. Desde cedo, quando te vi. Mas é só isso, é só café. Não há cigarros ou filmes em preto e branco passando na tevê. Não sou mais um clichê do século atual. Eu não tenho tatuagens quaisquer, o meu cabelo não segue a tendência e não existem furos em mim - sejam lá quais forem os piercings que estão usando nos dias de hoje -, além do furo em meus olhos. Aquele mesmo que você não preencheu. E, ei, espere um pouco. Talvez você não me note, olhe, ou me tome como parte do teu caminho exatamente por conta disso. Eu não sou o clichê que você procura. Quanto descaso então eu precisarei para entender que é uma vergonha eu procurar você por aí?

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