22 dezembro 2013

Sob o céu de São Paulo

Escrevo-te para contar que por aqui as nuvens são carregadas - creio que tanto quanto eu. Durante o dia são pálidas, tornando-se negras à noite. Parecem guardar algo pesado demais para que permitam deixar ir embora simplesmente. No céu, alojadas livres de uma sequência lógica, elas me impedem de ver. Ver o que há do outro lado, o que fica lá longe. O céu, então, não é o mesmo.
Há solidão sob o céu de São Paulo. Em contrapartida, há eu em você. Nos cheiros e esquinas, nas ausências e madrugadas. Moram consequências de um até logo desajeitado, mas moram também suspiros trêmulos de um prospectado reencontro. Aluguei, por estes dias, a parte de mim que precisava ser re-conhecida. Paguei caro. Paguei com lágrimas que escondi debaixo do travesseiro para que você não visse mesmo de longe. Paguei com faltas, paguei com ecos. E nem parcelar a saudade me deixaram.
Entendo que o céu é outro porque certas vezes só uma tempestade forte é que nos faz recomeçar. Me deram um céu sujo para que eu precisasse reunir o necessário para borrá-lo de azul. De Sul. Sei-lá-quem me obriga agora a enxergar do outro lado destas nuvens poluídas. Para, assim, encontrar o mesmo céu que você.

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