04 dezembro 2013

Guri poeta

A noite resolveu me consumir quando você foi embora. Tranquei a porta, caí de joelhos, tentei imaginar o que seria dali em diante, e ao mesmo tempo rebobinei os últimos minutos daquele episódio para que eu entendesse o que havia feito conosco. Naquela noite eu estraguei nosso roteiro, atropelei as nossas falas, deixei os segundos finais com um silêncio constrangedor.
Enquanto eu me debatia internamente, agradecia por ninguém ver a minha fraqueza. Péssimo, aquilo foi péssimo. Se tivéssemos espectadores, todos julgariam aquele episódio da nossa série como o pior. Tão ruim quanto a primeira rima de uma música rejeitada, roubada, amassada e picotada. Quem gostaria de ver o mocinho saindo porta afora sem dizer nada, pegando aquele táxi sozinho e terminando a noite sem nem trocar um olhar com o seu grande amor?
Guri, o que você tá fazendo? - a noite sussurrou para mim.
Balancei a cabeça como se aquilo servisse como resposta, pois eu nem mesmo tinha uma. Caminhei mais dramático do que qualquer cena que eu jamais pudesse fazer. Faltou força, energia, faltou a certeza. Debaixo d'água corrente, agradeci por ali as lágrimas se camuflarem. 
Desde então, passei a me questionar: Qual é a credibilidade de um poeta? 

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