08 setembro 2013

Suelen Mapelli

Eu e o meu pai costumávamos andar de carro todas as manhãs. Bem... Eu, o meu pai e o rádio. A vista da BR-116 logo depois das 7 sempre foi quase a mesma (salvo os dias de chuva): dois sentidos, três vias e um cruzamento. Bem cedo tem quem vá para o trabalho, tem quem vá para a Universidade, ou também quem só saia de casa para levar o filho na escola. Nem para todos a trilha sonora é a mesma - creio que alguns se restringem ao tic tac inaudível da própria vida. Para mim (e para o meu pai), entretanto, a voz de bom dia era sempre da Suelen.
Não me acorde assim, Suelen! - eu pensava diariamente enquanto escutava a sua narrativa acerca dos assassinatos, assaltos, ou qualquer "ato ou alto" da cidade. "Dois homens suspeitos foram apreendidos na madrugada desta quarta-feira pela Brigada Militar. Um veículo suspeito foi encontrado nas redondezas do bairro Kayser na última madrugada." A tragédia é sempre a mesma, só muda de rua. Nunca dei, por isso mesmo, muita importância para a tal repórter que embalava o começo das minhas manhãs. Porém, agora, eu sinto certa falta.
Sinto falta pois troquei de emprego. Mudei de rumo a mando do destino, mesmo não sabendo a sua forma e se deveria tratá-lo por esse nome mesmo. Já faz duas semanas que algumas coisas ganharam nova textura, e ouso dizer que todas as mono se transformaram em poli - principalmente a cromia. Enquanto isso, estou me dedicando, edificando o prédio mais alto que já me propus a construir (um daqueles que nem mesmo conseguimos ver o topo). Contudo, houve uma quebra. De sentido, de caminho, de planos. A rota agora é outra.
Por conta do Seu Destino (alguém tem o seu endereço, por favor?), que recortou os meus mapas e conectou vias transversais a fim de sabe-se-lá-o-quê, os meus "dias de rádio" agora chamo de "dias de tevê". Não ouço mais a repórter, mas agora eu a vejo. Na verdade, vejo o que ela vê. Ganhei, digamos, certo tempo para ver os dias por dentre uma janela emoldurada pelos meus próprios olhos. Vejo tudo, vejo o mundo, vejo o que antes só ouvia. Prazer, dia a dia: eu sou o seu novo telespectador.
Até quando, não sei. Amanhã mesmo pode ser dia de mudança. Pode ser dia de coisa nova. Pode ser dia de qualquer coisa. Dentre tantas dúvidas que prefiro manter em volume baixo, uma só pergunta se destaca: Suelen Mapelli, como vai você?

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