07 setembro 2012

Como daquela vez

Encontrei teus olhos quando já não esperava encontrar mais nada. E, bem, ainda que tivesse sido uma única vez... Mas não! Foram várias. Teu olhar oblíquo e dissimulado capturou o meu umas três ou quatro vezes, e durante todas elas eu tentei entender o porquê. Na verdade, ao chegar em casa, eu ainda estava pensando nisso. Noite passada a minha cama - aquela mesma que um dia você já repousou - registrou pensamentos inéditos nos últimos meses, sobre o sujeito oculto que já havia ido embora e subitamente retornou para preencher a oração principal.
No entanto, acordei hoje com aquela sensação meio bizarra: o que foi mesmo que fez teu olhar cruzar com o meu? Pois estou certo de que coincidência está fora da jogada. Porém, também não posso evitar a opção de que me olhavas unicamente por maldade, por jogo sujo. Incoerente, eu sei, porque estou falando de você. Ontem, então, após alguns meses de espera em uma estação que nunca imaginei estar (viver ao teu lado foi uma das promessas que eu já fiz a mim), o teu vagão apareceu e eu, em receio, não quis entrar. Quem sabe fosse uma emboscada, quem sabe a partir de agora nunca voltemos a nos falar. E, quanto a isso, eu acho que o melhor a se fazer é aceitar. E foi assim que eu deixei o teu vagão partir sem mim - outra vez.
Mas há algo que eu preciso confessar: ontem à noite, nós dois chegamos muito perto, sim. E, meu bem, você não sabe o quanto a proximidade pode ser satisfatória em alguns casos. Esbarrei minha mão na tua, porém quanto a isso eu acho que você não se recorda (afinal você segurava uma garrafa de cerveja, quando um dia segurou a mim). E saiba que nesse toque tudo voltou: não só teu vagão à minha estação, como também a lembrança de um livro que ganhei de presente e sublinhei todas as frases que me lembravam você, os teus irmãos que tive de desenhar mentalmente pois nunca cheguei a conhecê-los (eu acho que me daria bem com eles), todas as vezes que um dia eu me contive para não te beijar e, no fim, um arrependimento tardio.
Então vem e me diz que tá tudo errado. Que essa briga sem sentido é tão infantil quanto o nosso afastamento. Estou esperando isso, estou esperando você. Como daquela vez, quando errei por ciúmes e você me perdoou. Como daquela vez que você deu um jeito para que eu chegasse em casa. Como daquela vez que o mundo pensou que um dia ficaríamos juntos 'para todo o sempre' - e eu também. Como daquela vez que o taxista olhou pelo retrovisor e viu o nosso beijo. Como daquela vez que você sentiu ciúme de mim e eu tive a certeza de que ter te deixado ir embora, fossemos bons amigos ou um casal apaixonado, foi o pior erro do mundo.

Um comentário:

  1. nunca tinha visto tanta sinceridade tua num texto, tá lindo pedro, parabéns! e devo dizer que você é muito corajoso por ter publicado isso.

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