22 dezembro 2013

Sob o céu de São Paulo

Escrevo-te para contar que por aqui as nuvens são carregadas - creio que tanto quanto eu. Durante o dia são pálidas, tornando-se negras à noite. Parecem guardar algo pesado demais para que permitam deixar ir embora simplesmente. No céu, alojadas livres de uma sequência lógica, elas me impedem de ver. Ver o que há do outro lado, o que fica lá longe. O céu, então, não é o mesmo.
Há solidão sob o céu de São Paulo. Em contrapartida, há eu em você. Nos cheiros e esquinas, nas ausências e madrugadas. Moram consequências de um até logo desajeitado, mas moram também suspiros trêmulos de um prospectado reencontro. Aluguei, por estes dias, a parte de mim que precisava ser re-conhecida. Paguei caro. Paguei com lágrimas que escondi debaixo do travesseiro para que você não visse mesmo de longe. Paguei com faltas, paguei com ecos. E nem parcelar a saudade me deixaram.
Entendo que o céu é outro porque certas vezes só uma tempestade forte é que nos faz recomeçar. Me deram um céu sujo para que eu precisasse reunir o necessário para borrá-lo de azul. De Sul. Sei-lá-quem me obriga agora a enxergar do outro lado destas nuvens poluídas. Para, assim, encontrar o mesmo céu que você.

04 dezembro 2013

Guri poeta

A noite resolveu me consumir quando você foi embora. Tranquei a porta, caí de joelhos, tentei imaginar o que seria dali em diante, e ao mesmo tempo rebobinei os últimos minutos daquele episódio para que eu entendesse o que havia feito conosco. Naquela noite eu estraguei nosso roteiro, atropelei as nossas falas, deixei os segundos finais com um silêncio constrangedor.
Enquanto eu me debatia internamente, agradecia por ninguém ver a minha fraqueza. Péssimo, aquilo foi péssimo. Se tivéssemos espectadores, todos julgariam aquele episódio da nossa série como o pior. Tão ruim quanto a primeira rima de uma música rejeitada, roubada, amassada e picotada. Quem gostaria de ver o mocinho saindo porta afora sem dizer nada, pegando aquele táxi sozinho e terminando a noite sem nem trocar um olhar com o seu grande amor?
Guri, o que você tá fazendo? - a noite sussurrou para mim.
Balancei a cabeça como se aquilo servisse como resposta, pois eu nem mesmo tinha uma. Caminhei mais dramático do que qualquer cena que eu jamais pudesse fazer. Faltou força, energia, faltou a certeza. Debaixo d'água corrente, agradeci por ali as lágrimas se camuflarem. 
Desde então, passei a me questionar: Qual é a credibilidade de um poeta?