Três curtos passos separavam meu corpo rígido do vidro à minha frente. Preso naquele quarto, ainda podia sentir teu cheiro que as paredes faziam o favor de exalar. Meus olhos crepitados fitavam o caos do outro lado. Lá fora, o céu queimava e eu podia sentir o calor adentrando a janela, trincando lentamente o vidro, antes intacto. A palidez de minha face não fazia esforço algum a fim de verificar se meus músculos ainda tinham alguma chance de exercer movimento. Revirei os olhos à minha esquerda, na intenção de provar a alguém – mesmo que não houvesse mais ninguém ao meu lado – de que não estava atônito. Com passos tardígrados, me aproximei ainda mais do crepúsculo que ria de mim. A ameaça me fez mostrar minhas armas. Meus dedos deslizaram pelo interruptor e a luz fosforescente banhou o recinto. À minha volta, inúmeras seringas completas de Bromofórmio. A intenção era injetar uma a uma, mas tenho certeza de que não aguentaria para ver o fim. Apenas uma, só uma, ajudaria a aliviar a dor. Naquele momento observei meus sentimentos circulando pelo céu, voando como bumerangues. Eles iam e voltavam. Gostaria de afirmar que não estava e nunca estive em meu baluarte, mas eu já confessei que aquele lugar possuía teu cheiro, e ninguém me tiraria dali.
Pássaros insurgiram no céu avermelhado e era a hora de minha redenção. O som de vidro trincado cessou, e, em uma súbita explosão, o mesmo se desfez em milhares de pedaços. Estes, que encontravam em disparada a minha pele, meu corpo, minha alma ajoelhada esperando pela dor. Nada podia ser pior do que o meu amor não correspondido. Tudo sempre girou em torno dele. O calor intenso também teve a chance de encontrar a tez, agora repleta de fendas que expulsavam sangue. O fogo encontrou os detectores de fumaça que acionaram-se, fazendo com que a água invadisse o local. Meu corpo não resistiu e curvou-se para trás rapidamente. Deitado no chão, meus olhos cerraram. A água me sufocava, o sangue era sinal da dor. Eu poderia dizer que ouvi alguém gritar, mas sempre soube que era impossível. No fim, tudo estava preto. Nenhum sinal de luz para mim. Eu estava sozinho. Afogando, sangrando, morrendo. Mas eu ainda era capaz de sentir o teu cheiro.
Pássaros insurgiram no céu avermelhado e era a hora de minha redenção. O som de vidro trincado cessou, e, em uma súbita explosão, o mesmo se desfez em milhares de pedaços. Estes, que encontravam em disparada a minha pele, meu corpo, minha alma ajoelhada esperando pela dor. Nada podia ser pior do que o meu amor não correspondido. Tudo sempre girou em torno dele. O calor intenso também teve a chance de encontrar a tez, agora repleta de fendas que expulsavam sangue. O fogo encontrou os detectores de fumaça que acionaram-se, fazendo com que a água invadisse o local. Meu corpo não resistiu e curvou-se para trás rapidamente. Deitado no chão, meus olhos cerraram. A água me sufocava, o sangue era sinal da dor. Eu poderia dizer que ouvi alguém gritar, mas sempre soube que era impossível. No fim, tudo estava preto. Nenhum sinal de luz para mim. Eu estava sozinho. Afogando, sangrando, morrendo. Mas eu ainda era capaz de sentir o teu cheiro.