11 dezembro 2012

Solos de guitarra

Tô aqui no Sul e mesmo assim faz uma seca de doer. Falta você aqui perto, contando comigo quantas estrelas fazem parte do nosso plano de fundo. Do nono andar eu vejo a cidade, já é tarde, e enquanto tu couber aqui no peito eu vou levando. Creio que chega uma hora que a querência puramente extrapola, transborda, e aí não tem jeito de não pensar em outra coisa que não seja recordar. Hoje eu fiz isso, então. Hoje eu rebobinei você. Sabe, tipo fita vídeo cassete. Desde as sete eu tô fingindo ver tevê. 
Disseram que o amor nasce de um beijo, de um toque, de um olhar. Mas, de todos estes, eu fico apenas com o último. Malditos olhos por uma noite catafóricos que me fizeram te querer mais ainda. E essa palavra - querer - aqui tem tantos sentidos distintos que nem eu sei mensurar. É tamanho significado essa ausência tua que as vezes eu penso em deixar pra lá. Porém, meu bem, peço nestas linhas que não crie receio sobre mim. Esse filme não é de dar medo, mas, mesmo assim, você pode segurar na minha mão enquanto não chega o fim (tem fim?). Faça isso porque eu não vou querer mais, eu não vou correr atrás, porque o suficiente estará ali. O toque triplo das nossas mãos eu quero multiplicar.
Pra falar bem a verdade, o meu pedido para contigo é uma dança. Mesmo que não saibamos dançar direito, mesmo que seja um passo para lá e outro para cá. Mas, meu bem, eu quero contigo dançar sem música. Na rua, na chuva, em qualquer lugar que eu puder te escutar. Deita então a cabeça no meu peito, esquece o preconceito, porque o que eu quero é só isso. E pode achar que eu sou um mendigo falido que pouca esmola está pedindo, se isso puder existir. Pois o que eu quero com essa metade prosa, metade poesia, é deixar claro para você que a tua chegada eu não vou transformar em partida, e solos de guitarra sempre vão lembrar você.

09 dezembro 2012

Heterogêneo

Baixei um tom em meus dias a partir de hoje para que pudesse escutar com presteza o que acontecia ao redor. Diminuí o volume da música, a entonação na minha voz. Foi uma manhã calma em meio ao caos: mais de mil gritavam, desesperados; e eu lá, em perfeita calmaria. Tudo enfim estava bem.
O sol batia na janela e refletia no peito, o sorriso só não era maior pois eu não compartilhava ele contigo. Pensei, dentro daquela sala branca e apaziguadora, onde você estava. Na cama, certamente, pois são 8 da manhã! - ou não. Talvez estivesse voltando, enquanto eu estava indo. Dividindo ruas longínquas de uma cidade tão pequena, eu e você, afastando o óbvio para não ter que acreditar que, talvez, de um jeito que fosse só nosso, ele daria certo.
Calma foi a palavra escolhida para o dia, então. Quem sabe para o mês. Você precisava respirar um pouco, tentar encontrar o ar para que possa soltá-lo em forma de algumas notas musicais. Eu precisava ficar em quietude, aproveitar o momento que, mesmo não sendo completo, já estava sendo o suficiente. Eu e você nem precisamos acontecer para que eu tenha a certeza de que já foi o melhor encaixe que encontrei.
Na volta para casa, escutei aquele sambinha com sotaque do sul, ainda em volume baixo, e compreendi que algumas coisas são melhores assim mesmo: misturadas. Chá quente com cubos de gelo, queijo com chocolate, curiosidade e nervosismo, eu e você.

05 dezembro 2012

Enquanto derreto

Lambi teu perfume para manter a boca salgada, e noutro instante eu já estava acordado. Como cubo de gelo, eu estava bem ali, esperando, em uma forma plástica onde existiam outros vários. Congelado, quieto, à espera do momento em que eu precisaria ser usado, ser conveniente. Meu bem, é tão fácil me compreender. Uma simples molécula, três estúpidos átomos. Você poderia me desmembrar a qualquer momento.
Cheirei o livro novo e velho para ver se agradava. Espirrei. Esperei. Comecei a ler quando a tarde minguava e a chuva ia embora, dando espaço para o sol que jamais trouxe você. Folheei com pressa, pois a história me agradou. Tive medo, fechei o livro. Quis guardar um pouco para depois. Como o amor, eu não queria ver o final daquela obra logo. Sabe, os personagens recém me foram introduzidos, e os protagonistas (no caso, eu e tu), são complexos demais para se ler em um dia só. Nós somos diferentemente igualitários. Um contraponto que nem você e as tuas teorias saberiam explicar.
Anoiteceu e eu já não soube de nada. O mundo apagou as luzes, me mandou dormir. Mas, ei, eu ainda estou aqui. Corpo quente como o chá na xícara, mente cheia como as páginas deste livro, dúvidas trafegando em caos desenfreado como a vontade de julgar teu sorriso. Olá, olá. Onde você esteve todo esse tempo até que te encontrei? Mérito meu, admite aí. Tchau, tchau. Por que não explicastes tudo antes? Erro meu em não questionar, admite aí. 
Como um hotel sem vagas, esse sou eu, a esperar na geladeira, unicamente por você. Por uma vaga aberta, por um espaço, por uma cama para dormir. Meu bem eu não me importo em dividi-la! Porém acho que, para isso acontecer, preciso largar esse meu vício. Enquanto derreto, então, eu vou largar as metáforas na primeira esquina que aparecer.