20 junho 2012

Estraguei a festa

Saí para dançar com o revólver no bolso. Decidi não me arrumar muito, pois esta noite quis ser eu por inteiro. Chegando na pista, descobri que não tinha acordado para satisfazê-la. Meus passos não eram coordenados, as luzes não sugavam a minha energia como deveriam. Então parei, sentei, conversei. Analisei.
Misturado com teu sangue, corria junto o álcool. E, quer saber, eu vira e mexe tenho de te ver assim. Deprimente, cambaleante, mascarado com a tua própria realidade. Logo eu, julgado por ti como aquele que te põe pra baixo, unicamente por eu não engolir a mesma bebida que tu. Não, meu bem, eu não sou bobo. Já deixei para trás minhas frustrações irrelevantes e foi singular a vez em que as afoguei na vodka mais barata. Diferentemente de ti, que é alegria passageira todo fim de semana.
Tu disse que eu não sei me divertir, e mal sabias que a minha diversão era te olhar nos olhos. Observar cada aro contraditório que havia ali, enquanto me perguntava o que de verdadeiro havia em ti. Queria te dizer para vir e falar na cara, porém lembrei o que meu pai sempre disse: 'Qual é a credibilidade do palhaço?'. Então, confiar em ti foi algo que já  larguei de mão.
Os rumores do dia seguinte foram os de que eu estraguei a festa. Tão óbvio apontar o mais fácil. Mas, agora me diga: por que foi que tu te importou? Noite passada nem tiro no peito eu te dei. Ao contrário. Livrei-te de mim, abri a cela, facilitei a tua fuga. Saibas, por favor, que para mim também foi um alívio, aquele suspiro de 'até que enfim'. E, no fim das contas, sabes pelo que tu deveria estar feliz? Semana que vem já tem outra festa. Tudo de novo, mas com uma vírgula de diferença: terão de procurar outro alguém a quem culpar.
Pois eu, assassino teu, não estarei lá.

19 junho 2012

Dieta forçada

Acordei hoje querendo iniciar uma dieta. Porém, diferentemente de todas as outras, esta só me priva de uma única coisa. Não, desta vez não estou evitando chocolates e o pão mais calórico com gergelim por cima. Também não estou precisando fazer exercícios físicos, aqueles mesmos que eu sempre odiei, pois agora é diferente. A minha dieta forçada me proíbe palavras.
Comecei então cortando vírgulas, pois decidi que ser direto é muito mais simples. Tá certo que precisamos de pausas às vezes, porém dietas não duram para sempre - e talvez por isso mesmo elas não sejam levadas a sério na maioria das tentativas. Em seguida, eliminei os pontos de interrogação. Isso mesmo, sem mais perguntas. Não preciso saber dos outros, e também não preciso saber de mim. Aquilo que realmente importa acaba aparecendo, de uma forma ou de outra, agora ou depois. Quanto aos 'porquês', nunca fui muito amigo deles. Apesar de eles também serem perguntas e, vez que outra, eu fazer grande uso, quis tirá-los da jogada porque quase sempre são o que estragam tudo. Se algo foi dito, não há o porquê de questionar o porquê - e isso já é confuso demais. É deste jeito que, aos poucos, tentarei rigorosamente omitir alguns travessões fora de hora, alguns parênteses que não vêm ao caso. Isso tudo na intenção de que o meu ponto final seja o melhor dos objetivos.
Então é isso, por sabe-se lá quanto tempo. Estou, a partir de agora, evidenciando o que me importa. Colocando em negrito os momentos que valem a pena. Com marca texto em mãos, estou destacando os sorrisos mais doces e as palavras que devem ser incluídas no meu dicionário. Por fim, decidi ficar com o que me faz bem: pontos de exclamção (uma surpresa é sempre bem vinda), reticências (ninguém sabe o que vem mais adiante) e corretivo (estamos sempre propensos a apagar aquilo que não agrada) foram os escolhidos. 
Quem sabe semana que vem eu já não esteja largando de mão esta dieta e procurando seguir alguma outra. Para um poeta, ter de calar-se é o mesmo que perder o instrumento de trabalho. É por isso então que estou fazendo trocas, escolhas e supressões. Sei que, aos poucos, descuidarei e voltarei a questionar, dizer o que penso. Até porque, de dieta ninguém gosta.

17 junho 2012

Sei lá


É uma droga quando você está dependente de alguém. Não bastasse você estar afim da maldita pessoa que nem mesmo sabe pronunciar o seu nome direito, você ainda precisa de respostas para prosseguir com esse seu plano bobinho de sétima série - continuar gostando dela e rabiscando vocês dois juntos em cada pedaço de papel, no caso. Você quer mesmo é saber se dali existe alguma chance de que o casamento de vocês, casa no campo e dois cachorros labradores vingue. E, quanto a isso, só há um jeito de saber: perguntando.
A conversa começa unicamente pelo fato de você ter criado coragem, pois se dependesse da tal pessoa perfeita vocês seriam mais mudos que paciente pós-cirurgia de retirada de amídalas. E aí, depois de você questioná-la sobre os seus gostos, é a hora de procurar assuntos secundários e triviais a fim de que a conversa não seja sepultada. Qual é, esta é uma chance tão ímpar de trocar algumas palavras que você fica tão nervoso e nem sabe do que está falando. Com medo de que a sua nova paixão vá embora e vocês nunca mais voltem a se falar (exclua aqui os seus sonhos), a primeira besteira encontrada é o que você dispara. E se arrepende logo em seguida. A resposta para o teu questionamento? Sei lá.
Então é isso? Tudo o que você sabe dizer? - são as perguntas que você faz em voz alta. Depois, exercendo o papel de neurótico que o amor nos impõe, você começa a querer acreditar que o sei lá dito pelo 'amor da sua vida' pode ter vários sentidos: Sei lá pode ser 'não-estou-a-vontade-de-pensar-nesta-resposta', sei lá pode ser 'eu-não-sei-que-filme-está-passando-no-canal-doze'. Sei lá pode até ser eu-não-quero-falar-com-você. Não, definitivamente não significa isto. Você descarta a última das possibilidades, pois se ela não quisesse conversar com você, nem mesmo teria respondido a tua primeira mensagem. E sim, definitivamente você sabe qual filme está passando no canal doze. E você perguntou por não saber o que falar. Na verdade, você já viu tantas vezes esse filme, sabe o final disso tudo. Então por que assistir de novo? Sei lá
Convencido de que ela jamais saberá o peso daquelas duas pequenas palavras, você desiste de dar continuidade à conversa. Respira fundo e procura algo para fazer, ignora o que acabou de acontecer. Em duas horas, você estará queimando não só os rabiscos de vocês dois, como também os ideais de uma casa no campo e dois labradores. Foi cedo demais para se pensar em uma vida ao lado dela. E agora você não consegue parar de se perguntar por que cair na real é algo tão chato.
A resposta? Sei lá.

O Menino Debaixo da Minha Cama - 2ª Edição


Sophie é uma adolescente de 16 anos comum, diferentemente de seus problemas. A garota de cidade pequena que mora em uma terrível casa que foi pintada de roxo não tem mais motivos para viver: A irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a mãe tivera durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula. Vivendo de arrastar passos diariamente, a sua vida porém ganha um novo sentido ao conhecer Jonas, um introspectivo garoto que ela encontra em um parque abandonado perto de casa. Imersa em tantos novos segredos, perguntas sem respostas e, claro, no perigoso amor, descobre que o garoto é um pequeno fugitivo. Encontrando nele, então, um motivo para acreditar na vida, ela arrisca o inesperado ao escondê-lo debaixo de sua cama.

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10 junho 2012

O tal do novo alguém

Como você sabe quando está começando a gostar de alguém?
Quero dizer, não há nenhum aviso quanto a isso. Não tocam a nossa campainha para que acordemos e nos demos conta, não recebemos nenhum e-mail na caixa de entrada cujo assunto em si já é claro o suficiente: 'Você está apaixonado'.
Descobrir que há alguém novo em sua vida é uma tarefa tão simples que engana qualquer um. Sim, temos a plena consciência de que uma nova pessoa passou a fazer parte de nossa rotina. Ela está lá, então, tomando o lugar dela, assim como todas as outras anteriormente tomaram os seus. O que você não sabe, no entanto, é que não é somente isso. Aquela nova presença, aos poucos, expande involuntariamente o espaço em sua vida que tinha agarrado para si. Vocês conversam todos os dias, riem das mesmas coisas, trocam mensagens sobre o que estão fazendo. Nesse momento, meu amigo, tudo já foi por água abaixo.
Você está apaixonado. Não dá para escapar.
Quando o momento de refletir a respeito dos efeitos colaterais que aquele liquidificador de sensações instalado dentro de você anda lhe proporcionando, já não há o que negar. Ou você vai mentir que não fez download de todas as músicas que o tal do novo alguém lhe indicou? E quando você percebeu que estava sem créditos no celular e continuou a mandar mensagens confidenciando tudo, as quais ele nunca lerá? Nos últimos dias você tem analisado cada palavra que essa fresca presença lhe disse, a fim de compreender se não existe nenhuma vírgula de sentimentalismo recíproco por ali. Você está amando, e agora sabe disso.
Não, não existe nenhum e-mail além do turbilhão de compras coletivas na sua caixa de entrada. Ninguém lhe ousou dizer que andavas meio bobo, ridículo quase o tempo todo. Você vem cantarolando músicas novas que nem mesmo está a par da letra, porém elas têm sido a trilha sonora desse lance estranho e recente que te acertou em cheio. Bem, como eu disse, descobrir que alguém novo anda habitando os seus pensamentos mais do que o conveniente é tão simples.
Basta sentir. E, então, deixar o tal do novo alguém entrar.

08 junho 2012

O Retrovisor

Enfraqueci. Derrapei na curva mais fácil, da qual eu deveria ter saído ileso. Tu tinhas permanecido lá, em outra cidade, longe o suficiente para que eu pudesse te deixar para trás. E eu, que já vinha havia algum tempo me distanciando, esqueci que a nossa estrada sempre fora traiçoeira. Logo ali estava outro município, estado, país. E agora sinto-me um tolo por ter de confessar que a fronteira que me separa de ti eu não soube cruzar.
Amores são vãos, amores são recheados de empecilhos. Sim, contraditório. Tão tu e eu. E agora, que parei nesta estrada e olhei para trás - outra vez, pois esta não foi a primeira -, mal posso evitar o pensamento de que sentir tua falta foi algo que sempre esteve aqui. Por vezes silenciou-se este sentimento, porém agora avivou-se o necessário para me fazer pisar no freio. A vida tem lá, sim, o seu retrovisor. E para ele só olha quem quer - ou precisa.
Pensei então em regressar. A estrada de volta seria longa, porém continuar meu caminho sem ti seria o mesmo que guiar-me sem um mapa. Aterrorizantemente divertido - restava saber se isto me agradava. Por outro lado, recordei o porque de eu ter partido: saí da tua cidade porque lá o ar tinha teu cheiro. Nos restaurantes e danceterias, o teu sorriso ainda tinha deixado rastros de luz. Não obstante, teus longos dedos me prendiam, sendo que crime nenhum eu havia cometido. E, por fim, acabei por sair de ti porque eu tinha mais do que poderia segurar em meu peito. Sim, tu me destes o amor de uma vida - quando eu ainda estava tentando adivinhar se tinha uma. 
Saltei do carro e joguei-me ao chão. Farol vermelho no meio do nada. Se eu pudesse mandar um sinal de socorro, seria para que você viesse atrás de mim. Se ainda me amas, sana meu enganamento de que tu e eu  chegamos no fim da linha, que nunca daríamos certo. Quem sabe a distância não me fez perceber que te amar é a tarefa mais simples de todas. Porém, como te disse, enfraqueci. E daqui não sei sair. A escolha, então, se devo seguir ao norte ou voltar para o sul, depende de ti.
Ah, pensando bem, crime eu cometi sim: foi ter olhado no retrovisor.

07 junho 2012

Démodé

Trabalho até tarde neste velho emprego que não vai me levar a nada. Espero terminar o dia unicamente para passar no banco e sacar o que tenho, todas aquelas economias de alguns pares de meses. Jogo tudo no fundo da mala, cubro com roupas para não correr o risco - como se fosse conveniente usar esta palavra exatamente agora. Fecho a porta com cuidado e então estou na rua tão fria que o peito queima. Esta noite eu decidi ir atrás de ti.
Cruzo sinais vermelhos porque aqui fora não há ninguém - aventurar-se nas ruas depois das duas da manhã é tarefa de espírito (ou quem sabe nem eles existam nessa cidade esquecida?). Dirigindo contra o vento, organizo ideias do jeito que posso. Rabisco mentalmente alguns planos que certamente não darão certo, mas ainda desejo tentar. No porta-copos, as 200ml de café não conseguem oscilar tanto quanto eu e tu já o fizemos: dois jovens em busca do 'felizes para sempre', sem nem mesmo terem escutado o 'era uma vez...'. E eu ainda posso me lembrar de quando tua melhor amiga disse que eu não te amava de verdade. Mas que mentira! Ela não sabia era de nada. Enquanto todos julgavam a nós, tu habitava minha cama todas as noites. 
Até ontem. 
Porque, agora, eu e tu já nos tornamos démodé
Até esta noite.
Resgatar-te-ei para que saibas o quanto sinto tua falta. Estão aqui, então, todas as minhas economias reunidas para te visitar outra vez. Como vai você? O que tem feito? Sente aqui para conversar comigo. Quem sabe eu e tu não voltemos repaginados - dessa vez podemos ganhar novas cores, porém seguiremos a mesma tendência. Sei que saíremos de cena novamente, logo logo. É sempre assim. Porém, enquanto eu e tu estivermos na moda, faça com que a minha volta renda uma boa capa - o nosso amor estampado todo mundo vai querer igual.

03 junho 2012

Garotas de 12 anos

A mesa da cozinha hoje esteve vazia logo cedo, pois sendo domingo eu decidi manter o meu ritual de tomar café na cama. Não que bolacha recheada seja uma maneira muito correta de se começar o dia, porém o fiz. Beberiquei um gole daquele chá de frutas cítricas e troquei os canais da televisão como se comandasse tudo - controle remoto é a tentativa mais próxima de brincarmos de Deus. Só parei quando percebi que ali, do outro lado da tela, estava estampado um rosto tão familiar. Você.
Sorria e olhava para mim. Eu, atônito, cuspi chá e derrubei bolachas. Curvei-me para frente, permanecendo de joelhos em cima da cama. Quase colado na tela da televisão, tentei entender o que diabos você fazia ali, roubando o lugar do apresentador de programa de auditório dominical. O som que saía do aparelho eu não reconhecia, não sendo aquela a sua voz. Não, não podia ser. Fechei os olhos, espremi-os como criança faz quando afugenta pesadelos, e os abri novamente. Pronto, você havia desaparecido. 
Praticamente nu, corri até a sala sem nem pensar e deparei-me com minha família no sofá. Bom dia pai, como vai mamãe? Ei, espere. Havia mais alguém. De novo você, que ria junto à eles da minha falta de roupas. Sendo a timidez a última das minhas preocupações naquele momento, tentei imaginar como você havia entrado na minha casa. Até onde eu sabia, nós dois tínhamos brigado feio e minha mãe já até falava mal de você para a vizinhança toda, no intuito de não permitir que ninguém mais caísse na sua lábia. Ou nos seus olhos bonitos. Ou nesse sorriso que jamais vi alguém usando.
Pare! 
Saí porta afora, ignorando as queixas de meu pai. Cambaleei pela rua, girei no mesmo lugar, e aí foi que o desespero me possuiu tão forte que até poderiam criar uma sequência de O Exorcismo. Meus vizinhos, naquele momento, haviam derrubado suas caras feias e velhas para darem lugar a um rosto tão comum e odiado (será?) por mim: você. Sim, todos eles agora tinham cabelos loiros e olhos tão convidativos que até mesmo no escuro eu seria, de alguma forma, guiado.
Então é isso. Somente e assustadoramente isto. Meu relato de domingo a noite. 
Saiba que, por você, eu acabei enlouquecendo. Voltei no tempo e lhe trouxe de volta para mim. Uma vez estiveras presente em minha vida, e agora estás presente em pensamento. Tão forte que já me tornei uma daquelas garotas de 12 anos, que veem o "amor de suas vidas" em todos os rostos que cruzam seus caminhos. Por isso, aguarde as novidades. Muito em breve estarei rabiscando o seu nome por aí e escrevendo textos sobre minha loucura.
Espera...

01 junho 2012

Varrendo a estação

O dia nasce na vidraça do prédio vizinho. Sol bate na janela, perfura e adentra exclamando bom dia, mas ninguém vê. Meia dúzia de mendigos, até então os donos das ruas, recebem os mesmos visitantes de sempre: robôs programados a não sentir que estão em ótimo estado de operação. A única coisa que sentem, no entanto, é que hoje faz 11º graus e não mais 22º. A temperatura caiu, assim como a falta de escrúpulos para com as coisas simples.
No rádio aquela mesma voz de sempre relata os fatos da noite. Três mortes em bairros afastados, um pequeno furto no centro - pois lá existe vigilância, é claro. Enquanto isso, semáforo vermelho. A mesma cor que pinta o pano que nos cobre. Tons alaranjados matizam a manhã transfigurada* não só de Miguel e Cecília, e sim a de todos nós. Quem foi mesmo que disse que o céu não pode ser multicolorido? Essa é apenas uma questão lógica para os bons observadores.
Mas hoje pouco importa, porque hoje é sexta-feira. Foi uma semana abarrotada para ti, mas lembre-se que da mesma eu também vivi. E para mim ela foi tão boa. Tudo bem, hoje é dia de recompensa, porém nada me impede de que todos os dias sejam uma sexta-feira. Assim como as vestes de nosso corpo caem de moda,  o pensamento ancestral de que devemos basear-se em uma rotina também deve cair. Ontem era terça e no bar ao lado de minha casa tocava uma banda nova deveras promissora. Na quarta passava futebol na tevê, mas alguns canais depois vinha o teu filme favorito. E tu nem mesmo sabias. Tudo porque não era sexta-feira.
Agradáveis exceções rejeitam as quatro rodas e se movem com apenas duas. Mas ainda há um erro: as bicicletas circulam nos parques, em um mesmo circuito de uma paisagem só, repetidamente, quando deveriam estar nas avenidas. E, por falar em parque, um grupo de garis varrem as folhas das árvores que caíram ao chão. O outono chegou, mas deste jeito já vai embora. Não há sinal das folhas secas que o caracterizam, pois a prefeitura impõe que varram a estação. Assim, esconde-se em sacos plásticos pretos o que deveria estar nos gramados. A beleza simplista hoje já não tem relevância.
Quando cai a noite ninguém mais se esconde. É frio, é outono (só sei porque está no jornal), mas lembre-se que já é final de semana - o momento perfeito para qualquer fuga de realidade pessoal. Sabe que a noite até que ganha mais brilho desta maneira? Até porque surgem sorrisos que estiveram escondidos durante aqueles longos cinco dias. Porém, não tarda para que regresse a segunda-feira, e lá está o individualismo perambulando pelas ruas novamente. Resta saber quem varrerá a neve quando o inverno chegar.

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*Manhã transfigurada - obra de Luís Antônio de Assis Brasil, que tem Miguel e Cecília como protagonistas, publicada em 1982.