27 fevereiro 2011

Delgado

Talvez não seja onde sinto-me mais seguro, porém é aqui que insisto em permanecer. Confortável o suficiente para me fazer esquecer do mundo, mas nunca o bastante para abandonar este lugar. Aqui perco-me em sorrisos constrangidos, todos tentam esconder-se de ti. Minhas bochechas constantemente tornam-se da mesma cor do sangue que pulsa em circuito rítmico por tua causa. E aquele olhar de lado... Bem, simplesmente é o que me mata. Tira-me o ar aos poucos, espanta qualquer pensamento, e traz de volta o que estava enterrado no mais negro dos buracos de meu interior: O amor. Teu lábio enche-me de ar quente, limpo, novo e tênue. Intenso e sufocante, como poderia eu sequer cogitar em partir? Impossível. Gosto demais de como me encaixo perfeitamente no teu abraço.

25 fevereiro 2011

Distração temporária

Ei! Quem é você para invadir cada espaço de meus pensamentos? Mesmo aqueles trechos já ocupados você tomou para si, e agora tudo se resume ao seu rosto em minha mente. E eu aqui, deitado neste sofá cor de terra, de ponta cabeça - forçar o sangue para uma única parte do corpo seria o suficiente para expulsar-te daqui de dentro? Provavelmente não.
Enquanto meu paladar afoga-se em uma mistura doce e calórica, você ri de mim aqui dentro. Dá gargalhadas da minha incapacidade, cria labirintos para que eu nunca consiga lhe alcançar - quando eu imaginava que isso era o que você mais desejava que viesse a acontecer. Alcançar-te, tocar-te, pegar-te em meus braços.
Talvez você seja só uma distração temporária, e eu seja o grande culpado em pensar que permaneces aqui por algum outro motivo que insisto em descobrir. Sou eu quem lhe mantém presa aqui dentro, e só depende de mim fazer-te sair. Mesmo que seja um pouco trabalhoso.
Mesmo que eu não queira.

18 fevereiro 2011

Matizes


Humanos são lápis de cor para mim
Conto um, dois, três, enfim
Quantos cabem em minha mão posso ver
Mas a cor preferida... Que difícil dizer!

Como sonho de criança
Queria eu ter uma caixa infindável
Quarenta e oito cores diferentes
Cuidado!, Pode ser quebrável

Mas que tolice a minha
Pois insisto em apontar
Dar nova chance ao que foi desfeito
O perdido logo não irá voltar

E continuo a renovar toda vez
Que a ponta colorida insiste em cair
Talvez seja um sinal meio confuso
Que eu apenas o deva deixar ir

Então guardarei-os em um baú secreto
Pontas quebradas e lápis pequenos
Cansei de repetir o incerto
Insistência é o que quero menos

17 fevereiro 2011

Promessa

E este punhado de ossos reunidos, que estruturam teu corpo frágil... Bem, é nesta junção que eu gostaria de morar. Habitando o espaço que felizmente encontrava-se vago, preencherei de desejos cada milímetro de teus lábios que até então soam-me apenas como eco longínquo. Transformarei teus segundos em horas, e quando estiver longe, seu sorriso estará enquadrado em meu coração. Promessa seja dita, ele só baterá por você. E se algum dia o amor vier a lhe faltar, basta que lentamente abra os olhos para despertar de um novo pesadelo, pois realidade eu nunca permitiria que isso fosse.

11 fevereiro 2011

Cama de incertezas

O barulho irritante daquele velho ventilador de teto era o único som do quarto que jamais conhecera iluminação artificial. Passava das onze quando tive a certeza de que meus pensamentos não passavam de caos. As imagens das escolhas a serem tomadas eram pintadas de tons suaves no teto diante de mim. E eu ali, deitado naquela vasta cama de colchão de molas duras, imaginando o que deveria ser feito. O que era impossível de se concretizar, pois eu jamais chegaria a uma decisão. Morrer ou continuar vivendo, no fim os dois eram absolutamente iguais. Respirar tornara-se tão sufocante quanto perder o ar caso a minha vida também viesse a ser perdida. Literalmente, eu digo, pois em metáfora isso já era uma verdade absoluta.
Aquela cama de incertezas servia-me de caixão.